terça-feira, 26 de maio de 2009

viva a SUA vida! EU vivo a MINHA!

Não sou um cidadão comum, sou um cidadão do mundo. As estradas são as linhas do meu destino, e fico a vontade com vagabundos. Caso pudesse escolher, optaria por um planeta sem fronteiras, pois me sinto parte integrante de toda essa natureza milenar. Entendo que um pouco de mim se perde em cada guerra, que uma parte de mim despenca com cada árvore, e que o vermelho do meu sangue ajuda a manchar o solo africano. Meu corpo entrega-se diante da imensidão que o universo apresenta, e não acho que o tempo crie em nós alguma barreira. Antes, porém, torna a sensação de bem estar, algo cultivável, algo pretendido. Esse bem estar de ver as coisas simples da vida, e de perceber que não se leva nada para o além, a não ser o último segundo que se viveu.
Não quero fronteiras que proíbam minha passagem, não quero alfândegas impedindo minha viagem. Quero desbravar cada canto oculto do planeta terra, e tornar a voz dos povos meu hino de batalha. Não pelos que passam necessidades, nem pelos opressores, mas por aquilo que nos une no mesmo tom: Sermos Humanos.
Sou matéria, sou anjo, sou homem, sou mulher. Ostento em meu peito um pequeno brilho, que a noite incendeia a Champs-Elisées. Tenho no meu corpo o ferro que foi dividido com os parafusos da Torre Eiffel. Trago em mim a areia que esculpiu as maravilhas naturais. Como uma gota que escorre por centenas de anos pela rocha, e alonga suas formas concretas, quero que meu ser perpetue por esse incandescente espaço alheio. Ser internacional, ser universal.
Acima de todos os mistérios que nos rodeiam e nos cercam ultrajantes, está a alma curiosa de um mochileiro, que parte iluminado pelo brilho de um raio, disposto a experimentar os gostos dessa vida, nem que sejam gostos provados de soslaio.
Comigo levo apenas uma bagagem simples. Não preciso de dinheiro, não preciso de estadia. Apenas vontade. Apenas vontade. Será suficiente para amar, provar, viajar, respirar. Enquanto o ar, esse convidado imprescindível, estiver fazendo-me sua visita cotidiana, poderei imaginar o mundo sendo meu.
Ontem um espaço vazio, hoje um infinito de possibilidades. É assim que as coisas são. Simples demais para entendermos, por isso buscamos explicações que ultrapassam o natural. E não me digam os filósofos de plantão que estou no senso comum. Isso nunca! Apenas preocupo-me com as questões eternas, quando elas são eternas. O que eu não faço, é eternizar aspectos simples da vida, e dar-lhes um valor que não existe. Se bem que essa filosofia está fundamentada nas bases que não ousamos tocar. Um toque apenas, e toda nossa civilização naufragaria antes dos violinistas pensarem em prosseguir até o fim. Adeus navio ocidental, adeus navio animal.
Somos o que podemos ser: Vivos! Esquecemos com isso de viver o mais importante: A vida. Sem apego, sem ódio, sem preconceito, sem discriminação. Somos todos superiores a todas as posturas que possam surgir. Despertamos iguais para a vida. Ao sairmos do ventre de nossas mães, choramos no mesmo tom. Morremos também iguais, fechando os olhos para o ciclo racional dos pensamentos. Então todas as oscilações que acontecem durante a vida, são instáveis manifestações superficiais. Passageiras eu diria. Não garantem absolutamente certeza nenhuma. E nós fétidos mortais nos preocupamos com isso. Vamos viver a vida! Deixemos cada um viver a sua de maneira, única e quase inexprimível.
Que os homens amem mulheres, que os homens amem homens, que as mulheres amem as mulheres. No sentido espiritual, no sentido carnal, no sentido homossexual, no sentido literal. Sempre respeitando a vontade áurea de cada um, não interferindo naquilo que o outro escolheu. Nada alheio importará para mim, pois somos livres, defendendo a liberdade que cada um tem de sentir o que quer para si.
Sociedade mesquinha e hipócrita. Estou lhe condenando porque não quero fazer parte deste rol de acusadores. Que cada um professe o amor de forma livre, de maneira aberta. Que os casais sejam casais, casais diferentes, casais iguais. Que as praças fiquem repletas de amor! Amor homogêneo, amor heterogêneo. Que antes de recriminar, a sociedade cuide de seus filhos doentes, padecendo de fome, padecendo na ignorância, padecendo pelas opiniões que segregam os humanos.
Nada tenho nada a oferecer, senão a própria liberdade de pensar. A arte não se restringe ao masculino e feminino, é arte apenas. A beleza não se restringe ao masculino e feminino, é beleza apenas. Deus não se limita em masculino e feminino, é Deus apenas. Os anjos não se limitam em masculino e feminino, são anjos apenas. E o amor? Ah, o amor foi erroneamente vestido com as vestes da conveniência social. Digo, ele também não se restringe ao masculino e feminino. É amor apenas!
Quero um mundo sem barreiras para a vida, sem barreiras para a felicidade, sem barreiras para a intelectualidade. Ergamos a taça da sensatez e da sensibilidade, façamos um brinde a esse lugar que existiu por um tempo. Esse lugar em que a única preocupação é viver o máximo possível, para aproveitar tudo que se pode levar. Ele existiu? Sim, existiu! Experimentei o gosto da hortelã macerada, dos preconceitos incendiados, experimentei o gosto do eterno, pelo menos enquanto escrevi!

domingo, 24 de maio de 2009

AFRODITE SEM DIZER!

Que espécie de dor a morte traz? Seria como a sensação da palma perfurada pelos espinhos da flor que satisfaz? Seria como o trovão, estourando os tímpanos do ouvido mordaz? Ou como a carne queimada pelo fogo, fogo do inferno, moradia de Satanás?
Não experimentei, não sucumbi, apenas constatei que nessa noite estou aqui. Nas gotas que caem, enquanto a lua reflete, brilhos siderais da chuva que se repete. Noite dos amores que cuidam de mim. Cuidam da minha alma, refrigeram minha boca. Acariciam e me acalmam, tornam audível minha voz rouca. Repetem o quanto me amam, cada um do seu jeito, cada forma como um guia, cada guia com seu respeito.
Nas cordas eletrificadas que agora contam seis, pulei durante a madrugada quando chegou a minha vez. É o violão do espaço nobre, é o som que não quer sair. Ricos, miseráveis ou esnobes, digo a eles que não moro aqui. Não acendi a luz na estrada, não furtei o alívio certo, não quero a pena ali guardada, quero escrever com você por perto.
Nas horas de agonia, em desespero pelo amor, percebo o quanto é fria, a vida sem seu calor. Se em dias de outono, o inverno viesse me buscar, saberia que o retorno, esperaria para me esquentar.
Trabalho com a alma ardente, com a dor que meu corpo fez. Peço então clemente, o socorro da minha vez. Raios e trovões, raios e trovões. Não são dias sem o sol, não são poesias sem convulsões. O coração parou, o coração parou. Ficaram soltas as palavras, nessa sílaba que sobrou.
Não quero a alma pura, a pureza me faz mal. Quero que a vida sua, seja a fonte do meu quintal. Eternizada nas águas a correr, eternizada nas águas a correr. Vista-se de branco nessa madrugada e espere o amanhecer. Você cultivou o amor. Amor que quero tanto. Viu minha vida, toda vida, a felicidade colhida nas campinas do meu pranto. Verá meu corpo morrer. Verá meu corpo morrer.
O presente segue lento, recomenda sua lei. Te amo há tanto tempo, tenho a impressão que sempre te amei. Não é apenas um segredo de túmulos selados, é o amor que perde o medo, de virar apaixonado.
Ontem, agora é uma lembrança, que minh´alma guarda com fervor. Tem guardado em seu peito o cofre forte desse sonhador. Se quisesse poderia, todos meus planos lhe contar, só então saberia a hora certa de chegar. Qual a chance, porém, dessa vela de rudeza, guardar no seu espírito do além, o sinal da sua surpresa?
As vezes digo coisas, que meu coração já reprovou. Deixo marcas tão escusas, feridas marcadas no calor. A desculpa me visita, peço para lhe entregar. Essa culpa que me agita, por palavras desejar. Não que a rudeza seja convite, não que o ser áspero me tomou. É por pureza que o corpo grita, quando a razão já reprovou.
Façam soar os sinos, a noiva está chegando. Avisem os meninos, o complicado homem está casando. Ensinem o quadro negro a escrever seu sinal sozinho. Digam aos de cima e aos de baixo, agora encontrei vizinho. Conheço a tua íris, reconheço a sua idade. Sinto que nossas mãos unidas, já atravessaram a eternidade.
CUMPRA-SE!

sábado, 16 de maio de 2009

NÃO DIGA QUE ME VIU ALGUMA VEZ!

Para você que julga entender os segredos do universo, saiba que eu também já busquei essa resposta. Para você que espera sedento pela fonte que jamais acabará, acredite, ja tentei tomar dessa água. Já estendi a mão para amores eternos, enquanto a criança que estava dentro de mim buscava uma árvore para subir, coisa que nunca fiz. Corri com as pernas curtas de um menino, buscando vencer a maratona de outras idades, e discutir a filosofia com velhos senhores, mais cheios de si, do que de vida. Chorei diante do medo de perder minha mãe, e se isso acontecesse uma parte de mim morreria junto. Com certeza a parte da minha felicidade virgem. Chorei de espanto quando minhas lágrimas secaram após a morte de meu pai. Até hoje aguardo o pranto atrasado, de um velório que já passou.
Já tentei entender o que acontece comigo, sair do fundo do mar, e encontrar na superfície um abrigo. Já tentei encontrar minha estrada, já busquei saber a que horas partiria o último barco que me levaria ao conhecimento de quem sou. Percebi então que guardava uma passagem que passou, uma viagem atrasada. Desisti de tentar aparecer nu. Desisti de atrair os olhares para mim. Descobri a discrição de um anônimo fantasiado, o problema foi que todos conheciam a fantasia. Rompi com as batinas da fé no auge dos meus 9 anos e vesti o terno da crença. Deixei de lado as harpas celestiais, e abracei a distorção de um cubo valvulado, bom para quem pensa. As batidas que marcavam o tempo dos sustenidos e bemóis, foram trocadas pelos três acordes viscerais. Fiz versos poéticos com palavrões descartáveis, e tentei convencer as rotas convergentes da minha cabeça, de que eu caminhava com passadas incalculáveis. Queria a exatidão para clarear meus objetivos. Perdi tempo, perdi os motivos. Continuei sem sucesso, prossegui conversando com meus sonhos indecisos.
Protegi minha fraqueza num corpo grosseiro e de modos hostis. Nunca soube ao certo como parecer natural, e a cada tentativa frustrada, uma nova decepção subia ao posto dos troféus. Fui um colecionador cuidadoso, e programei meu plano audacioso. Aproveite seu dia. Aproveite seu dia. Era a frase que a voz insistia em dizer. Garimpei ouro em grutas vazias. Plantei diamantes em câmaras frias, e fiquei triste quando eles congelaram sem ter o que oferecer. Talvez um lápis fosse suficiente, para marcar as folhas presas no tronco da árvore que plantei em mim.
Tudo é superficial demais. Quando eu for embora, deixarei essa superficialidade contar minha história, para aqueles que também foram superficiais em minha vida. Falo por horas e horas, sem saber para quem estou falando. Alguém entende? Não estou bem certo se me importo com isso. Apenas não queiram julgar aquilo que lhes é desconhecido! Os ouvidos estão distantes, ouvindo aquilo que todos querem ouvir. Um em todos, todos em nenhum.
Tenho a impressão de que viajei longe demais, e na minha montaria, apenas um cavaleiro segurava as rédeas da minha vida. O problema é que não sei cavalgar. Quem então estava ditando e ritmo do trote para aquela espécie da Andaluzia? Sou o cavaleiro desgovernado? Sou o contador de histórias impressionado? Sou o poeta machucado?
Sou o que sou! Vivo a minha maneira. Não importa para onde vou, sempre acharei a saída. Não importa quanto viva, viverei com a certeza da vida inteira. Entendi que quero mais do que posso ter, e que a vida é pra ser vivida. Ainda não aprendi porém, como viver dentro da expectativa de uma morte certa. Tanta coisa para experimentar, e tão pouco tempo para viver. Nada passa despercebido. Minha vida, meus frutos, minha comida, minha dor de barriga. As flechas quebradas do cupido foram o único prato do meu banquete. Vomito agora restos de amores que não consegui digerir. Crenças que me salvaram, mas hoje me fazem mal.
Nunca quis ferir, nunca quis brigar, nunca quis machucar. Tomando todo esse cuidado porém, lancei lágrimas em olhos distantes, e fiz da minha súplica, a dor latente que nunca desejou acontecer. Tenho uma cabeça que é só minha, e contra a vontade, ela criou um mundo só meu. Agora em passos tortos, pela pena caminha, e vai buscar aquilo que se perdeu. Onde deixei cair a simplicidade que nos alegra? Onde deixei o dom de Maria Maria?
Agradeço os pensamentos que tenho. Escondido sob essa capa de arrogância que criei para me proteger, sempre fui um réu disposto a aceitar a sentença, o resultado inexato dessa dialética de propostas incertas! A complexidade com a qual vejo o mundo me fascina. Nunca comprei problemas, nunca pedi para ser um dissecador profundo de coisas fáceis. Nunca quis minha cabeça complicada, ela simplesmente estava aqui, sobre meu pescoço, quando nasci. Se ela me fizesse feliz, poderia quem sabe sorrir o tempo todo. A cada conhecimento novo porém, um motivo maior de angústia torna-se palco da minha dança. Não sei o compasso que devo seguir, e meus pés se perdem diante das batidas do marcador. Danço sozinho, canto sozinho. Falta um parceiro de noites longas que entenda essa dor. O estrago já foi feito, a perfeição se despediu. Dores vivas no meu peito, saga doce desse ardil.
Queria ser mais simples, ser simplório, rir das desgraças da vida, chorar cenas de despedida num velório. Queria ser mais simples, ser simplório, comemorar a partida vencida, degustar meu prato de salada com óleo. Ver superficialmente o mundo, acertar o relógio no horário de verão, não achar que a ignorância é um absurdo, correr no aniversário para segurar o balão. Não sou assim, e não pense que isso é bom. Estou fora do tempo, estou passando por aqui. Não pretendo viver para sempre, e sigo a viagem desesperado. Se atrasado ou adiantado já não sei, a certeza que tenho, é a de que para viver todo esse tempo precisei criar a minha lei.