sábado, 12 de fevereiro de 2011

ANGÚSTIA


Para onde foi a força criadora das minhas ideias? Por onde elas transitam no instante que minhas mãos se põem a escrever? Qual dos principados e potestades foi o responsável por usurpar minha intenção descritiva e minha alma detalhada?
No quarto escuro que depositei minhas angústias, ficaram retidas também as letras da minha inspiração. Resignado, busco beber da fonte que me oferta a vida. Tranquilo e sereno desencanto as órbitas fictícias da minha galáxia em expansão.
Caminho pensativo pelo labirinto do Minotauro. Tento lembrar do rosto de Minos. Procuro as respostas nas paredes construídas por Dédalo e Ícaro. Acabo me deparando apenas com a sombra da ilustre criatura. Ao meu lado, Teseu jaz sem vida apodrece sob uma derrota inesperada que alterou o curso da mitologia. Tentei reanimá-lo, tentei revivê-lo, mas seu silêncio não me reservou nenhuma esperança. Sua espada fora levada como espólio de uma batalha por ele perdida. Restava para mim a guerra!
Onde se esconderam as linhas sagradas do novelo que orientava meus passos? Preciso correr rumo ao encontro de mim mesmo. Preciso sufocar os versos noturnos que apertam meu coração. Preciso novamente inspirar minha pena mágica e escrever letras irreais. Tenho que eliminar o gosto da madeira e a sensação gélida que de forma astuta envolve minha imaginação.
Quando abandonei os inimigos do meu corpo senti-me livre e fiquei disperso. Tentei encontrar a chance de um sorriso verdadeiro e degustei o sabor da vida.
E minhas ideias, foram sequestradas pelo Minotauro?? Foram destruídas na manhã que despertei para minha alegria?
Espero o retorno da paz, como o soldado aguarda a volta do seu corpo cansado para o recanto aconchegante do lar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

VERNIZ DO AMOR


Menina, moleca, mulher. Menina vestida de vida com os olhos brilhantes, sabe o que quer.
Moleca, mulher, menina. Moleca distraída com a vida ilumina o caminho e este me alucina.
Mulher, menina, moleca. Sua destreza me liberta, meu suor sua pele refresca.
Você está tão bem. Descreveria suas palavras como sendo as mais ternas que já ouvi. Faço da sua centelha o alimento da fogueira que incendiou cada centímetro, conhecido ou não, da minha razão. Como nunca percebi isso antes?
Nada falei e não pensei em nada. Tive medo porque sabia que um amor imenso iria me envolver naquele café. Fui longe, corri depressa e despreocupado me lancei à sorte que muitas vezes não me quer.
Suas palavras hoje estão soltas e o mundo conhece a calma sorte do seu caminhar. Descreve em cada sentido uma experiência vivida sob o peso das noites que chorou sem parar.
As lágrimas secaram. O peito já doeu demais, e chegou o momento da colheita dos novos frutos em antigos parreirais.
Escoa o vinho pelas taças da lembrança, cativa em cada momento solto uma nova gota de mel, e nos sonhos de uma criança solta, lembra que o doce pode sim ser comparado com um pedaço do céu.
Garota misteriosa, menina escondida sob um sorriso bom de saborear. Lábios ocultos atrás de uma boca que treme diante da nova sensação. Poderia descrever seus hábitos, prever suas reações e ganhar seus braços. Poderia ser vidente do amor. Poderia ser a temperatura elevada do ferro em brasa e a criança marcada com suas iniciais.
Menina que torna sábias as palavras ditas ao vento. Menina que sabe quando ganhar um elogio, e se curva diante da tensão que as palavras rudes podem lhe causar.
Exijo do tempo piedade. Exijo dos dias austeridade e aguardo a nova espera que trará consigo a promessa de uma nova era. Geleiras derretidas sob um olhar.