terça-feira, 25 de novembro de 2008

ANÉIS DE UM DEDO SÓ

Fechei os olhos e imaginei estar dormindo, quando o que sentia era o mundo da percepção se abrindo e mostrando-me o infinito. Esse aflito companheiro pôde no espaço de uma noite, provar que o real está muito próximo do mundo que imaginamos. E o mundo que imaginamos se mistura, perdido em falsas noções, com aquilo que vivemos. Num quarto fechado, meus olhos criaram novos horizontes apaixonados. As brincadeiras, sorrateiras lembranças, vieram me visitar. O que já havia esquecido em tempos de lei, foram outra vez motivo de meu tormento. E experimentei o gosto esquecido das palavras ditas apenas para conversar. Estávamos em quatro, eu estava sozinho, estávamos em três, eu estava sozinhos, estávamos em dois, eu estava sozinhos, fiquei só, e me larguei esquecido na caixa fechada das lembranças infantis. Abri a janela, e a noite fez a conta das horas que passaram. Estava sozinho!
Numa amplitude descabida de desejos e gracejos vi desmanchar as paredes. O concreto se fez gelo, e a escuridão se fez sol. Derreteram-se as águas do oceano oculto e selado, guardando ao seu lado o meu mundo misterioso. Numa cena de informações deturpadas eu sentia inundar o meu lençol. Eram os sonhos que se enveredavam pelos meus pensamentos! Sonhos que pareciam uma realidade intuitiva, captada pelos sentidos que o corpo não pode explicar. Senti que os lábios estavam secos, não consegui abrir os olhos para ver, e a cada martelada que a bigorna recebia, eu deixava de ouvir. Não sentia fome, não sentia frio, e minha língua se encontrava única num copo vazio. Nada sensível, num espaço inconcebível e difícil de imaginar. Homens vestidos com as sementes de sua insensatez. Mortos que conversavam, caminhavam libertos de seus corpos, e voltavam à essência que assim os fez. Mulheres ataviadas para seus esposos, que explicavam a vida, colhiam as flores e comiam os frutos, presentes da estação. Abriam seus braços em casas escuras, emolduradas pela lua, que era vencida pela chama acesa de uma lamparina a gás. Onde estavam os heróis que prontamente me levaram passear? Vi a história, vi a memória, vi a eloqüência trotando forte, mas sem cavalo para cavalgar. Andavam a pé. Não voltavam, mas prosseguiam sem razão para ser, e com seus passos lentos não queriam chegar a lugar algum, apenas conduziam os moribundos pensamentos para o desfiladeiro que se repetia a cada acordar.Do meu lado, os animais dormiam o sono dos justos, inocentados de seus pecados, prontos para a salvação. O anjo se fez homem, e os santos foram a minha salvação! Estúpidos galanteios de porcos abençoados pelo prazer. Inerte sapiência de quem tudo dizia, sem ao menos ter algo para dizer. Os espantalhos foram despedaçados, e as rajadas de vento levaram as palhas para as meninas, que sentadas em suas varandas, transformava o milho da colheita maldita em bonecas de crianças.
Os sonhos brincaram e armaram a tenda da loucura. Esse circo de palhaços boçais, não teve confetes nem pipocas, mas domadores domados pelos animais. Em beijos que perderam seu rumo certo na bossa silenciosa, se firmou todo o quarto na noite ociosa. Tentei dominar a cama em que meu corpo repousava, mas ela queria voar, e deixar ali o ser atordoado. Quando busquei deter meu espírito, senti que ele fazia meu corpo tremer, como se uma locomotiva mirasse meu coração e encontrasse ali o seu túnel. Senti então o calor da caldeira a todo vapor atravessar os trilhos do meu peito. Queria correr! Queria sair pelo mundo, ser o seu eterno vagabundo e ver minha alma morrer. Mas tudo o que consegui foi fechar os olhos outra vez, e tentar dentro de minha embriaguez, meu sono forte satisfazer. E quando as canções deixaram seu tom de alucinação, ouvi os ruídos da cidade, que roubaram a noite de minhas mãos. E agora trago apenas o esquecimento das páginas que não li, e a loucura de não conseguir entender até agora a noite que vivi.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO PARANÁ - UTI (repasse se quiser)

Para a moçada que está entrando para dar uma “olhadinha”, eu gostaria de desejar uma boa prova, e que o anjo das respostas certas possa fazer boas visitas a vocês. Sobre História do Paraná, acredito que a Unioeste não fuja do dito trivial. As questões basicamente giram em torno da idéia de Colonização – Período – Local – Ciclo Econômico. Levando esses itens em consideração, certamente as chances de um bom desempenho serão maiores. Espero que esse conteúdo seja de grande valia.
Paraná Pré-Colombiano:
Antes da chegada dos europeus o Paraná já era habitado por tribos nativas: Tupi (subdivididos em guaranis, também chamados de carijós ou cariós, tinguis e os cainguás) Jê (botocudos). Foram eles, inclusive que deram nome ao atual estado. Paraná, na língua Tupi, significa Grande Rio. A maior herança arqueológica do período são os Sambaquis (restos de conchas, comida, fragmentos de artefatos, que nos ajudam a entender a pré-história do Paraná).
Com o Tratado de Tordesilhas em 1494, e a divisão oriunda do mesmo, apenas a porção LITORÂNEA, do atual Estado pertencia a Portugal, e fazia parte de dois Lotes de Capitanias, sendo Martim Afonso de Sousa e Pero Lopes de Sousa seus donatários. O interior era oficialmente espanhol. Que iniciaram sua ocupação através de dois processos: Vilas (Ciudad Real del Guairá em 1557 e Vila Rica em 1576) Missões ou Reduções Jesuíticas, que foram destruídas por Bandeiras a procura de índios, como a de Antonio Raposo Tavares por exemplo.
O processo de ocupação PORTUGUESA, se inicia posteriormente.
Século XVII – Litoral – Ciclo Mineração – Cidades: Paranaguá (.29/07/1644 – Vila Nossa Senhora do Rocio de Paranaguá), Curitiba;
Século XVIII-XIX – Região dos Campos Gerais – Ciclo Tropeirismo – Cidades: Ponta Grossa, Castro, Palmeira;
Século XIX-XX – Região Norte – Ciclo Café (abalado em 1975 com a Grande Geada) e Projetos Colonizadores. A Companhia de Terras do Norte do Paraná ou Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, foi responsável pela ocupação da região norte e noroeste do Paraná. Cidades como Londrina, Maringá, Paranavaí e Marialva, foram loteadas por esta empresa.
Século XX (início) – Região Oeste e Sudoeste – Ciclo Madeira e erva-mate.
Século XX (anos 30 e 40) – Região Oeste e Sudoeste – Ciclo Agricultura – Presença de migrantes gaúchos e imigrantes europeus (atraídos em parte, pelo clima propício).
Século XIX e EMANCIPAÇÃO.
• Paranaguá – (1811 e 1821) requer a emancipação da comarca e a criação de nova capitania
• Curitibanos – (1853), Lei nº 704, sancionada em 29 de agosto, criação da Província do Paraná,
• 19/12/1853 – Chegou a Curitiba Zacarias de Goes e Vasconcelos, primeiro presidente da Província do Paraná (data oficial da criação da Província).
IMIGRAÇÃO:
• PORTUGUESES: a partir do séc. XIX (que é quando ocorre nossa independência). Cidade com maior influência lusa: Paranaguá.
• ALEMÃES: (1829) as margens do Rio Negro, atividades campesinas. Colônias: Entre Rios e Marechal Cândido Rondon
• ITALIANOS: (1836) Atraídos pela cultura cafeeira
• HOLANDESES: (1911, II Palanalto, região dos campos gerais). Colônias: Carambeí (entre Ponta Grossa e Castro), Castrolanda (1951) Arapoti (1960)
• Outros: japoneses, russos, poloneses, ucranianos.
CAMINHOS DO PARANÁ
Peabiru – Pré-Colombiano, ligava o litoral atlântico ao litoral pacífico;
Mata ou Viamão – Passando pelos Campos Gerais;
Graciosa – Ligando Curitiba ao Litoral;
Itupava – Curitiba a Morretes;
Estrada do Colono – Oeste a Sudoeste.
PARANÁ REPÚBLICA
Questão de Palmas (1895-1897), disputada com a Argentina. Ganho de causa ao Paraná, concedido pelo presidente americano Grover Cleveland.
Revolução Federalista (1893-1895) – Questões políticas envolvendo grupos do Rio Grande do Sul contrários e favoráveis ao Marechal Floriano. O envolvimento do Paraná se deu em maiores proporções no episódio conhecido como Cerco da Lapa.
Guerra do Contestado (1912-1916) – Movimento social e messiânico que acontece na região contestada pelos estados do Paraná e Santa Catarina. Teve como líder João Maria, morto logo no início. Os posseiros também lutavam por terras que haviam sido concedidas a empresa Brazil Railway (responsável pela construção da estrada-de-ferro Rio Grande do Sul – São Paulo).
ERA VARGAS – Criado o Território Federal do Iguaçu (1943-1946), abrangendo o Oeste e Sudoeste do Paraná e o Oeste e Noroeste de Santa Catarina. A iniciativa do Governo Federal tinha como objetivo criar mais um núcleo político-econômico na região, que via seus interesses comprometidos pela distância em relação as capitais de ambos estados. Nesse período havia sido nomeado para ser Interventor no Paraná, Manoel Ribas que ocupa o cargo entre 1932 – 1945.
Nos últimos anos, após os Governos de Álvaro Dias, Jaime Lerner, Roberto Requião. O Paraná diversificou sua economia, e passou a contar inclusive com parques tecnológicos e Indústria Automobilística, concentrados principalmente na região de Curitiba. As privatizações também foram uma constante, sendo que, as principais aconteceram no Governo Lerner: Anel de Integração e venda do Banestado ao Itaú.


terça-feira, 11 de novembro de 2008

VERBOS NÃO FAZEM MEU ESTILO

Sua boca entendeu o que eu quis dizer, quando sem nenhuma palavra eu pude me expressar. Pode me entender quando seus braços puderam me enlaçar. Seus lábios, ainda que desejados, não tinham me pertencido até então. E nesse resquício de razão, depositava minha segurança. Sabia que quanto mais o tempo fosse aliado, mais possibilidade teria de fugir. Correr para algum lugar onde nem mesmo a sorte pudesse me encontrar. Mas não foi isso que aconteceu. Como uma sombra atrasada de um corpo que se foi, você se aproximou. À hora, já adiantada em ponteiros longos e passadas firmes, apenas testemunhou um olhar. Esses olhos cobertos de lascívia e desejo. Profundos e repletos de más intenções, que, pensando bem, não eram tão más assim. Ficaram esperando, como um chacal guardião, o momento exato de atacar. O que fazer quando a linha da loucura ultrapassa a linha da lucidez? Não me atrevo a questionar novamente, com medo de achar a resposta da próxima vez.
Não pelos cabelos que entoam uma nota só, nem pela pele que executa a única sinfonia, muito menos pelo corpo que em curvas refaz o conceito de simetria, mas pelos momentos intensos que desejo viver. Pelo vivido em devaneio, pelo experimentado sem provar, pela inconsciência de minhas mãos. Pelas janelas que puderam se abrir, e assim mostraram o animal sentimental que refletia apenas a essência da espécie. Por tudo isso, quis embalá-la num sono em fim de tarde, quis cantar as músicas em ecos soturnos, sem alarde. Fiz entender que nunca quis apenas um toque a mais, e me importa onde as gotas caem após os vendavais.
Quero sentir a terra molhar outra vez nossos pés, quero sentir a água inundando nosso quarto, em correntezas incontroláveis de um fluxo intenso e colorido. Mesmo que para isso eu abra mão de sua companhia, e fique com o sorriso da graça estabelecido.
Venha outra vez, marcar de suor a roupa que coloquei. Venha mostrar-me a força que seus braços podem ter. Prove-me a determinação de suas palavras, que apesar de sutis, podem me carregar. Embalam-me em poemas sem estrofe, em versos sem sentido, e transformam o grave amargo do dia, num agudo alegre sustenido.
Seus lábios continuam traçando as linhas da imaginação. Sua boca escreve aquilo que você gostaria de ler. E a cada parágrafo terminado, concluo que uma grande obra está porvir.
Sinto o gosto do perfume de seu cheiro, de sua essência permanente de mulher, transpondo quilômetros, rompendo fronteiras e quebrando as regras de uma terra sem leis. Coração bandoleiro que se armou num duelo desigual. Peito aberto e desprotegido nesse calor absurdo e infernal. Onde encontraria refúgio se não fosse assim? Escondido nos arbustos que a estrada plantou pra mim.
Que eu seja privado de ver a vida acontecer, que eu seja privado de ver o dia nascendo e morrendo em seu próprio prazer. Não me prive a natureza, porém, de senti-la outra vez, de ver seu peito curvar-se à força da respiração, de olhar suas mãos enlaçadas e pedindo proteção. De admirar seus olhos que se perdem, se encontram e se cruzam com os meus. Que eu possa, mais uma vez pelo menos, umedecer meus sonhos em seus lábios, e assim sorver um pouco de seu sabor, que se perde diariamente no seu lago, repleto de incandescência, libido e calor.


terça-feira, 4 de novembro de 2008

LUSER

Sinceramente, eu não me importo com o que você pensa. Se disse algo mais do que eu queria ouvir, provavelmente não irei lembrar. Isso torna o acordo desigual, e não vou regar os jardins de quem sequer plantou uma flor. A chuva forte pode inundar, e levar pelas suas correntezas todos que não se prepararam para o pior. Eu deixei, já faz longa data, de valorizar as pérolas que os porcos desprezaram. Deixei de tentar revelar o filme de fotos, queimadas pelo acaso de um flash que não disparou. As migalhas, antes vistas como vastas refeições, hoje ocupam o lugar destinado a elas: o chão. É vã, a busca desregrada pela atenção. É inútil gastar a lâmina afiada de meus versos em cabeças petrificadas pelo que se deixou. Não gastarei mais o tempo, nessas construções pueris, em fantasias tolas e mensagens infantis, feitas de cifras altas e valores gentis. Quero construir meu espelho em retratos que eu criei. Quero refletir os anseios de uma consciência desprovida de lei. Caso você não concorde, sinto muito, mas não perguntei sua opinião. Não interfira nas contemplações alheias, e não tome posição daquilo que você não faz parte. Não pedi críticas, não pedi detalhes. Fiquei solto em pensamentos e preso a lugares. Lugares estes, que não tiveram a honradez de entender que se tornavam lembranças, quase inatas, pela profundeza na qual cravavam seus alicerces e pilares. Presenteie-me com seu silêncio absoluto. Quem pouco fala, pouco erra. É no silêncio de uma opinião calada, que conseguimos por vezes, ocultar nossa ignorância.
Alguém aqui busca um público para agradar? Alguém aqui está sendo calouro nessa festa popular? Não! Afirmo e grito: Não! Somos quem podemos, e o que as circunstâncias nos permitem. Por mais alto que o pássaro possa voar, sua condição nunca será diferente. Por mais que Fernão Capelo Gaivota aprendesse a nadar, ele não se transformaria num peixe por causa disso.
A lua busca, em seu ardor noturno, refletir os raios de sol que não são seus, mas, de um dia que nasce para o outro lado do mundo. E não importa que grunhidos você emite ao ver tudo isso. Nessa selva de animais selvagens, me fiz caçador de oportunidades e tentei sobreviver, quando tudo o que eu sentia era o cheiro da caça tentando virar predador. Tive que segurar firme meu rifle, cercar-me de munições certeiras, e mirar numa cena sórdida. Fechei os olhos quando atirei, e captei apenas os altos sons, que foram engolidos pela terra, enquanto ela me agradecia pelo que tinha feito. Saí das fileiras da preocupação, para ocupar as filas inibidas das sensações. Já perdi muitas chances tentando provar que a maior prova era ao mesmo tempo a maior condenação. Subi nas pilastras e nos parapeitos dos casarões coloniais, apenas para tentar ver, aquela jovem de tranças feitas, colhendo trigo em seus trigais. Hoje me sinto como o bajulador de um chefe desempregado. Como o fígado de um bebedor inveterado. E sei que não preciso mais acordar para mostrar para os outros que não estou dormindo. Descanse na sua insensatez. Descanse de braços cruzados, já que é o melhor a se fazer. Se for apontar sua mão, mude a direção dos dedos, do contrário serei obrigado a cortar a mão, arrancar o braço e queimar seus segredos. Da pira do esquecimento ninguém conseguiu fugir. Não pedi que me ouvisse, que visse talvez. Mas agora que já terminou saiba que não espero, não quero e nem vou passar a minha vez.