sábado, 28 de novembro de 2009

O ALTO ME ESPERA


Os olhos não conseguiram conter o espaço do mundo. Não seguraram a tranquilidade de um destino traçado pela inquietude do conformismo. Esses olhos que conversam com os meus, sempre estiveram distantes de um encontro solitário consigo mesmo. Agora contudo, não queriam ficar em silêncio, não queriam passar despercebidos pela chance de se mostrarem verdadeiros e conquistados.


Gritaram! Gritaram com seu brilho que resgatou um coração blindado e refletiram as águas de um lago esquecido, mostrando assim que dentro da geleira existia vida. A vida apaixonada pela vida. A vida apaixonada pelo sorriso que levemente solta as gargalhadas demonstrando que o querer bem sempre quer estar ao nosso lado. A vida que soltou seus pensamentos das amarras amargas dos anos de preocupação e deu a eles a liberdade incondicional de sonhar.

Essa liberdade do impossível, do improvável, do desconhecido e até mesmo do desacreditado.

Escrever na pedra corpórea da poesia pura os sinais que serviriam para retomar a esperança de respirar sorrindo. As letras cravadas nas entranhas da pele, penetraram tão fundo, que o calor emitido pela carne ardente era semelhante ao magma terrestre em movimento, causando terremotos e pronto para entrar em erupção, expressando assim as intenções de uma alma que arde, mas arde distante do inferno. Uma alma que alcançou a vontade de estar no céu, mesmo que seja para se esconder daqueles que a conhecem, e desfrutar assim de uma eternidade de sensações absurdas e até pecaminosas para os planos divinos. Até Deus, entretanto, entenderia que as penitências são o subterfúgio para a falta de felicidade.


Seus sonhos foram maiores do que sua dúvida e sua capacidade de acreditar no que parecia impossível permitiu que as letras do universo encantado fossem transformadas no som cheiroso de um toque sedutor. As sílabas foram divididas com o peito, que pulsando tão forte como sua decisão, acelerava o compasso da coragem, e dizia bem alto, que vale a pena seguir em frente.

Recebi seus presentes. Vi você deitada respirando paixão, respirando a fúria da pele. Senti sua presença quando o vento brindava a noite quente, e a televisão era desligada com a companhia de um beijo. Nosso champagne ainda aguarda fechado na geladeira. As portas da vida ainda aguardam o encontro leve das mãos que abrirão um caminho de possibilidades.


Nada mais seria demais, nenhum outro momento seria preciso para destacar a força da sua respiração e a capacidade do seu olhar. Mesmo que tentassem, minhas mãos poderiam apenas acariciar seus cabelos, mas não ocupar sua cabeça. Poderiam tocar seu rosto, mas jamais invadiriam seu olhar. Poderiam até mesmo sentir a maciez da sua boca, mas jamais conseguiriam provar o sabor secreto de um beijo seu. Sendo assim restou aguardar a ocasião propícia do momento inesperado. Um momento que passou a existir quando a garganta arranhou as primeiras palavras de aproximação e ensaiou a cena de um reencontro cordial e eterno.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

NA CASA ONDE ESTAVA SOZINHA



O dia se separa da noite com beijos de despedida ao amanhecer. Ele dá seu adeus de forma singela, quase discreta, forçando inclusive uma maneira certa de não aparecer. Esconder nas entranhas dos raios da manhã, todos os segredos cultuados pelos espectros dos sentimentos noturnos. São as coisas que precisam ser escondidas que escrevem boa parte das nossas vidas.

Piedade dos céus para todos os santos sem amor. Piedade para as línguas que se preocupam com o gosto das nossas aventuras. Que essas línguas queimem sob o peso da infelicidade, já que pertencem a corpos insanos, tão insatisfeitos consigo que não se preocupam em dizer coisas sobre a própria vida, antes olham a vida daqueles que lhe atraem, justamente por viverem da maneira mais descabida para essas cabecinhas animais.

A baixaria é o alto da existência, quando ela está de cabeça pra baixo, beijando flores em vasos rasos e sequestrando soldados fracos nas trincheiras condenadas pela morte certa. A separação das estrelas de sua luz e a força da bomba sem a explosão me fizeram acreditar que o ridículo das frases prontas está na intensa reflexão das palavras de adeus. Eu não conheço a morte, não me preocupo com as ações alheias. Não me interessa para onde vão as pessoas, e nem quem seus braços apoiaram como consolação de uma tentativa ligeira. Minha preocupação é o que fazer com a imortalidade do meu sentimento.

Ele abocanha letras, invade páginas. Ele distancia as notas das canções simples, para transformá-las em melodias complexas, tocadas sob a inspiração de um verdadeiro coração apaixonado. Qualquer acorde se transforma numa sinfonia, e qualquer letra vira sob a ideia do amor, uma límpida e aparada poesia. Minha sensibilidade extravasa os limites das minhas regras. Procuro entender a origem do medo, a origem da angústia.

Enlouqueço meus pensamentos e entorpeço meus sonhos para tentar descobrir quem sou e saber onde estou. É nessa procura desenfreada pelas sensações múltiplas das oportunidades que encontro o desejo intenso de querer que a vida me leve para onde eu nunca poderei levá-la. Que ela me conduza em passos decididos para o labirinto dos beijos aquecidos. Beijos de uma parede apenas. Beijos de um corpo escolhido. Beijos diferentes de uma única fonte: A sua boca!

A solidão será abandonada, e o século buscará outra praga para celebrar.

Quero contar minhas besteiras em clássicos que ocupem as prateleiras dos pensamentos simples e os enriqueça com a saudade do silêncio noturno.

Quero viver o luxo e o lixo da vida. Encontrar a paisagem oculta nas formas opacas de um quadro em grafite. Acostumar-me ao prazer das suas mãos escrevendo meus dias. Quero provar o reencontro em cada véu de despedida. Quero abraçar a saudade no momento da chegada e guardar seu cheiro aceso na lareira da invernada. Não quero que você veja meu passado, quero em você meu ponto de partida! Quando notei que a maior presença nos meus pensamentos era a sua ausência, percebi que somente contigo meu corpo encontraria paz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

UM ANJO NO CORPO DE MULHER


Tudo são cores nesse imenso mar das coisas sagradas que a vida nos oferece. O turbilhão das ondas deixa um leve resquício de desespero que nos leva pro céu. Homens alados brigam pelo espaço junto à mesa dos deuses. O destino joga cartas, e parece que pela primeira vez ele deixou de me perseguir.


Colori com pincel de tinta celeste a carne que cobre meus ossos, dei-lhe uma cor de vida, e permiti que ele respirasse pela primeira vez, acreditando que existe uma experiência nova e latente em cada tonalidade vertida. Finalmente sinto como é bom descansar meu corpo. Abandonar a senda solitárias das companhias ligeiras, fincando em terra firme a âncora da minha poesia.


Provei o laranja da água quente, o verde da tarde nublada, provei o azul do céu reluzente e o vento escuro da noite estrelada.


Provei o vermelho do lápis em carta, o roxo da fantasia laureada, o preto do quarto das luzes e a menina que visitou a mesa das flores durante a madrugada.


Ontem quis tomar conta de mim, e hoje vejo que não consigo dar um passo na direção da minha certeza. Perdi a noção das minhas regras e descartei aquela forma opaca da minha rudeza. Eu pensei que podia brincar com o mundo, e percebi que o mundo brincou de exagero comigo desprezando o abrigo de toda a minha destreza.


Trago sempre minhas asas, não as abandono, pois sei que posso voar bem mais alto que o céu, toda vez que eu desejar, basta trazê-la comigo, basta levá-la pra viajar. Não precisei visitar o paraíso para descobrir a felicidade, não precisei mais do mundo para encontrar a lealdade. Não morri e mesmo assim tornei-me um anjo, descobrindo de onde os sonhos vêm. Eles vêm da quietude cultivada de um sentimento verdadeiro. Eles trazem a calma buscada de cultivar os beijos certeiros. Mantém os pés aquecidos sob os lençóis, que escondidos celebram a paisagem do tempo primeiro.


Visitei seus olhos como um viajante despreocupado, deixei minhas malas num canto livre e desavisado. Nesse instante percebi que a lua se despedia, sumindo por detrás do horizonte. Lá escurecia para mais uma noite de inquietudes, e aqui amanhecia, numa manhã onde os raios do sol escorriam pelos telhados, fazendo-nos esquecer de tudo que já existiu e elevando nosso fôlego ao mais ansioso dos momentos: O que está por acontecer!


Procurei sonolento pelo seu corpo que dormia. Encontrei em você as horas que entraram em sintonia. Tirei o relógio que não suportaria a água, e deixei que as minhas mãos tocassem a verdade dos seus sentimentos. Ocupei a madrugada com o silêncio rompido e viajei para o nosso reino com o peito despido. Deixei minha armadura nas mãos da sua doçura. Abandonei minha espada nas formas quentes da sua figura. De cavaleiro desajustado, me fiz escudeiro fiel. Abandonei os doces amargos roubados para provar o verdadeiro gosto do mel. Quando a boca sedenta pediu outra vez o beijo seu, percebi que muitas viagens me fariam voltar ao céu.


Todo instante uma surpresa, e em toda surpresa o prazer de poder acordar. Acordo nos dias misteriosos para ter a certeza de que o maior dos mistérios se curva diante do abraço sincero e das palavras que verdadeiramente sabem o que dizer.


Veleiro de cristal nas águas calmas de uma vida que começa. Abrace-me com toda a força, e sinta o vento dos navegantes sonhadores, que sai do meu peito, recolhe nossos amores, e impulsiona o barco, que a toda velocidade ruma para o poente.


Veleiro de cristal, brilha as memórias confiadas, reluz a forma bela dos seus traços, transformando os sonhos na realidade de ter você aqui sem notas ensaiadas. Nossa música eleva ao sublime tudo aquilo que gostaríamos de dizer, nossa música é mais do que a música que o mundo inteiro poderia ler. Cantar é como dizer quantos sonhos coleciono quando penso em você.


Insuspeita desavisada da cor da vida. Poderia haver luz maior que a do sol? Poderia algum perfume, perfumar mais que o cheiro suave das flores? As rosas brancas, as rosas vermelhas, são elas as mensageiras daquilo que o coração não estava próximo para dizer. O fogo dos seus lábios serve para mostrar que não existem perguntas e nem respostas certas para um sentimento novo por inteiro.


Podemos ver longe, muito longe nesses dias tão brilhantes que a realidade com gosto de fantasia escreveu. Hoje é mais um instante pra lembrar que hoje eu quero esquecer. Deixar tudo pra amanhã, e o que eu tinha pra fazer vai ficar pra depois. Agora quero que você deite no meu colo e ouça a batida viva do meu coração.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Monalisa você tá rindo de mim?




Minha cabeça é uma armadilha que espera a oportunidade para atacar e tentar destruir com a chuva o dia que o sol elevou.
Ela consegue turvar o céu límpido e margeado pelos lábios de um sorriso sincero, transformando em dentes que se mostram, a água que banha minhas costas feridas.

Minha cabeça conta histórias que não existem e repassa o texto, abandonado justamente por não trazer bem algum. Jogo fora todas as inquietações. Essa cabeça tola no entanto, como um entregador atrasado, corre para o meu encontro, trazendo dentro de si todos os dejetos rejeitados.

Fico perdido no emaranhado de suposições e pensamentos. Não presto atenção naquilo que me rodeia, e despeço sem saber, a oportunidade do sentimento.
Olha-me em silêncio. Fita minha aflição. Pergunta em silêncio o motivo da minha inquietação.

Deixei seus cabelos livres, olhei para o nada da porta aberta. Poderia tê-la prendido entre meus dedos, e olhado em seus olhos, os cristais de Cinderela. Vislumbrei o teto, vislumbrei o nublado. Vislumbrei cada centímetro perdido, cada toque consolado.

Dentro do universo das possibilidades e pensamentos, eu sempre procuro aquele que me consome, aquele que me machuca. Entrego meus instantes condenados ao carteiro, que guarda todas as minhas letras em cartas impronunciáveis.

Procuro aquele que me fará sofrer, procuro aquele que me lançará no poço profundo. Somente nesse instante sinto que me protejo. Somente nesse instante sinto que não fujo.

A constante e inevitável tentativa de proteção! Proteger meus passos das pegadas que eu mesmo dei. Proteger a minha estrada da estrada minha, que um dia criei. Abandonei seus traços, abandonei o seu caminho, e pela primeira vez nessa viagem, senti medo de estar sozinho.

Proteger-me de mim mesmo, como se eu fosse um canibal faminto, sangrando pelo corpo inteiro, tendo a mim como única alternativa de sobrevivência. Devorar minha felicidade, devorar meu bem estar. Devorar o sorriso, pelo medo dele se converter em lágrima num dia que pode nem existir.
Sofro pelas ideias que minha cabeça cria,

sofro pelas pessoas que essas ideias fazem sofrer.

Não queria nenhuma cena tétrica na minha poesia.

Não queria nenhuma dissonância na minha harmonia.

As nuvens carregadas, porém, não respeitam o desejo de um pedinte. Desprezam a falta do tempo, e descartam a impossíbilidade imediata de um encontro.

Assim agem, para poder construir suas ciladas.

Caio nelas, como se fosse um desavisado menino, se encontrando com a primeira provação.

A salvação foi anunciada pelo evangelho escrito. Lido num banheiro, lido num quarto. Lido tantas vezes que as palavras puderam ficar gravadas nas impressões digitais de pequenas mãos, grandes o suficiente para envolver o universal comprovado dos sonhos que o sono não pode acordar.
Espero um sorriso, espero palavras, espero um cuidado. Espero a sensação boa invadir meu corpo, expulsar as indagações idiotas e encontrar a permissão para sorrir. Com a áurea aflição incondicional e livre.