terça-feira, 1 de janeiro de 2013

“ Se fosse só sentir saudade, mas tem sempre algo mais...”



Sinto você na pele que cobre meu corpo, sinto seu gosto na memória de um presente constante. Satisfaço a vontade de seus beijos lembrando os beijos que demos. A saudade é aquilo que faz o tempo parar e que também faz as coisas pararem no tempo. Nessas horas tenho vontade de sentir você deitada perto de mim. De ver seu sorriso perdido e seu jeito fechado que resiste em falar. Interpretar você sempre foi um desafio que enfrentei com muito prazer. Pensar que passamos dias em paz, afastado de tudo e do mundo, criando um mundo que só nós conhecíamos e somente nós sabemos onde está. A saudade é aquela dor que dói por dentro, dói no peito e deixa a angústia de que o cheiro está se dissipando no ar.  Mas dizemos tchau. E quando me lembro da despedida sincera em cada aceno,  sinto a solidão me envolver e roubar minha tranquilidade. A distância parece que nunca mais será superada. Exagero talvez? A saudade é sempre exagerada. Ela não sabe distinguir segundos, horas e dias.
Pra que se explicar quando não existe explicação? Queria sentir seu coração perfeito batendo em meu peito com você deitada em meus braços. Ouvir radiante o sorriso de uma brincadeira em sinal de cumplicidade.  Congelar o instante em que dividimos o mesmo lençol. Congelar a fotografia dos nossos rostos se olhando e tentando captar o momento para guardá-lo fiel na memória. Falar de um jeito que só a gente entende, sentindo os pés deixando o chão e sermos invadidos pela sensação de que realmente valemos a pena.
  Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença, quando se devora a revelia os gestos, atitudes e carinhos. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco!  Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, as horas que resistem a romper a escravidão do peito. Saudade é um não saber como frear as lágrimas diante de uma música ou de uma lembrança que se autoconvida sem saber que é muito bem-vinda. Ao mesmo tempo digo que saudade é não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Saudade é solidão acompanhada,  é quando o querer ainda não foi embora,  mas a alma querida já. É quando não se queria dizer até logo, e a separação parece um adeus.  Saudade é amar um passado que ainda não passou,  é recusar um presente que nos machuca,  é não ver o futuro que nos convida. Saudade é sentir que existe o que naquela hora não existe mais. Saudade é o inferno dos que perderam,  é a dor dos que ficaram para trás,  é o gosto de silêncio na boca dos que continuam. Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.