quinta-feira, 10 de novembro de 2011

HISTÓRIA BANGUELA

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MELANCOLIA FILHA-DA-PUTA


O velocímetro chegou a 200km/h enquanto eu corria para encontrar. O vento fazia companhia para meu peito enquanto ele ainda podia me acompanhar.  Não me importei com o combustível que dizia adeus cada vez mais depressa. Só queria chegar, encontrar um colo e receber um olá! Quis demais!
 O óleo fervia enquanto jorrava da fenda esguia, lubrificando o motor que eu fiz trabalhar. Pensei em todo o traçado da minha tarde e prometi chegar antes do anoitecer. Quão idiota eu fui ao pedir pra noite demorar um pouco mais.  Aprendi que não devo antecipar o certo para não me chocar com o acidente do acaso. Atravessei o grande rio sentindo o chão trepidar e o céu com um sol descendo livre, parecia que tremulava quando olhado de dentro do carro que eu estava. Eu corria para um abraço, para um beijo ou para um cheiro como era o costume. Não tive braços, engoliram a boca e o nariz se perdeu no som do seu volume.
O destino calado sorriu banguela pra mim. O crânio ensaguentado num turbilhão dobrado esperava pelo fim. Ossos que se dobram no buraco da terra.  Enterro da platéia afogada pela peça.  Cinema destacado no tema da conversa. Praga fiandeira que foi envenenada e envenenou. Que homem apavorado! Sozinho num bocado pediu um prato de sopa e fez da calçada sua cama de refeição.  
Não peço nada além da lógica, não peço nada além da informação. Sou culpado pela mão que esmaga meu peito? Sou culpado por ter inventado uma história que na estrada se escreveu tão bonita, mas que na chegada se mostrou inexistente? Agora me atrapalho com os dedos e embaralho minha ideia. Eu sempre aviso, sempre digo e peco pelo exagero das letras entregues. Que merda de analista eu sou. Filha-da-puta é a lamúria do meu corpo parado. Não quero círculos de fogo, eles podem arder demais num cemitério estúpido.
  Eu corri pela espera, mas a espera não esperou a corrida. Quem sabe se eu tivesse demorado mais, se não quisesse chegar à tardinha, deixando assim a noite me envolver. Mas o mochileiro das letras podres não fez valer o costumeiro horário. Esse idiota de velas derretidas deve ter engolido uma droga qualquer que lhe derreteu a razão. Não sei, não sabia, não soube! Na omissão das informações sinto o peso do passado voltando. Fiz promessas e as cumpri e um pouco de vontade talvez ajudasse a pensar em mim.
Agora me jogo nessa folha e a transformo no cenário da minha liturgia. Comi demais, tentei vomitar e não consegui. Pensei em olhar o céu, mas quero que ele cale a boca junto com qualquer um que queira  me obrigar a falar.  O único gosto que minha boca sentiu foi o suor amargo do cuidado que não chegou. Agora desperdiço os minutos tentando encontrar aquele bom humor que trouxe comigo. Vejo os minutos se despedindo conforme eu me afasto do tempo que não volta para o meu bolso. Às vezes sou cruel comigo mesmo, mas minha maldade só é má porque ela aprendeu. Sou obrigado a despejar no lixo o plano ousado que solfejou no fixo. Nesse recluso poder da imaginação é fácil desdobrar os quadros de uma galeria, mesmo sabendo que só tenho uma pincelada à disposição. Ergui no patamar as paredes mágicas e não percebi que me faltaria o sólido. Justamente na tarde que eu precisava conversar...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

DAS TREVAS NADA SE FEZ


Tenho nos lábios vivos o gosto do último copo de sorriso. Embriagado pela poesia, apaixonado pelo cinema, empolgado por uma discussão que esses Bestas Heróis de Trapo achariam enfadonha demais. Passo minutos em circunstâncias que me custam boas inspirações. Ironizo a sátira para mastigar o descaso e torná-lo inteligível aos inertes que perdem em inteligência até para os botões da minha calça.
 Desprezo a ignorância dos imberbes que se auto-proclamaram senhores do universo. Só se for um universo de diamantes de vidro, de soluços intelectuais e cultura saboreada numa refeição digna de uma hiena. No universo deles eu cago e vomito palavrões. Afogo o último verso do poema nas minhas inquietudes para não correr o risco de ver a poesia e a prosa cometendo suicídio ao passar pelas bocas porcas que nada tem a dizer.
Mas viajo naquilo que me apetece. Viajamos pelas águas caudalosas de um rio de piche.  Bebemos as nossas necessidades como um sedento se satisfaz num Oasis após uma jornada seca, onde até seus ossos estiveram ameaçados de se esfacelar. Minha garganta só grita as frases que ela aprendeu durante sua história. Enquanto os sonolentos dormem, é no meu palco que as apresentações acontecem. O show arranca suspiros, leva multidões a um delírio entorpecente de espasmos e contrações. O rosto se desmancha nocivo num balde de alívio que provoca consternações. Meu amigo está na hora de parar.
 Nossa cabeça nos fortalece, nossas imagens nos fortalecem. Nossos sentidos nos fortalecem. Percebemos a nitidez espalhada das lembranças na folha alva que trazemos como acompanhante longínqua. Uma moeda, uma folha de papel. Alguns trocados para criar uma história que se tornará viva depois que eu me tornar um deus.
É estranho que enquanto pensamos, outros estão comendo, fodendo, fedendo, morrendo. Alguns estão saudando, suando, sovando, saindo. Faço a folha chorar, espremo o papel para tirar dele o suco que beberei como o mapa do paraíso. Torço letras, assopro tinteiros, crio de veneta algumas praças de letreiros. Esbanjo cores num embaçado de nuances que podem sombrear a minha tarde ou anoitecer minhas expectativas. É remoto, é salobro e nada apetitoso, mas é o produto das minhas espoliações.
O vicio regenerado posto sob o pedestal da virtude. O cálice abominável guardando um avental púbico exige que a noite ouça mais um desabafo das nossas bexigas, e as plantinhas recebam a chuva urinária daquilo que  melhor soubemos preparar. Não podemos lavar as mãos, as torneiras não existem por aqui. Seca-se o rosto na vaga sensação da agonia.  Vingar a intempérie do nosso juízo talvez fosse uma boa maneira de começar um auto de penitência. Seria uma “mea culpa”? Acho que está mais para uma “máxima culpa” e choramos depois de mijar na relva. Ainda bem! Torço pra não chegar o dia em que eu ouçamos o choro e sintamos o mijo. 

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

UMA DESORDEM PRINCIPESCA


Hoje eu bati o carro! Bati no tempo! Trombei contra o momento! Escrevi a mensagem, falei alto demais. Atrapalhei o sono dos anjos e despertei os demônios nas catedrais. Germinais! Ancestrais! Eles adoravam os santos, eles dormiam com as benzedeiras. Não importa se curados da letargia de suas ações ou adoecidos pela morbidez dos seus pensamentos, eles sempre estiveram lá.
Atendi ao chamado de quem não esperava e me arrependi por não ter deixado a hora cair no esquecimento de um relógio quebrado. Queria inverter os ponteiros e quebrar os minutos, derreter todo espaço métrico criado para prender. Acordei sozinho de madrugada, e ninguém soube explicar o motivo na minha solidão. Pesquei em aquários vazios e soltei as memórias num fundo esquecido da minha cabeça.
 Será que consigo tirar poesia da lataria amassada de um carro popular? Não sei se é possível. As rimas não verteriam, as sílabas não casariam. Seria o abandono da Odisséia antes mesmo de Ulisses regressar. Mas os versos não ecoam apenas em canções bonitas. Os versos não reverberam apenas em sutis gentilezas que aguardamos sentados na beira do caminho. Os versos surgem das vísceras. Não é do coração, não é da cabeça. Eles brotam do estômago, eles resplandecem no âmago dos sentidos! Posso então me acertar com a prosa e saber que ela me convida pra jantar.
O que eu quero agora? Um picolé? Digamos que a situação final dele não me agrada muito. Uma sorveteria? Não seria má ideia!  Mas o sorvete derreteria antes de eu chegar. Assim me contento com uma caixa de bombons e uma barra de chocolate. Faço uma orgia solitária com doces que a polícia não pode prender. Mastigo, degusto e sinto que é possível sussurrar em meus ouvidos um som de satisfação.  A vida é assim! Pode até ter sido melhor. Mas a frugalidade da magia se confronta com a fugacidade do fim do espetáculo. Cordas arrebentam e o circo vem ao chão. O violão silencia! O violino dissonante torna as paredes estridentes demais e desmancha a pintura de um quarto que não se constrói outra vez. E tudo que era matéria dissipou-se no ar! 
Nessas horas o mundo foge do meu controle e eu me sinto mortal. Vejo que a chegada celebra as bodas da partida, que a cilada não é mais do que uma labareda aguerrida. Procuro-me para me perder dentro do labirinto que eu resolvi criar. Jardins suspensos, jardins secretos e rosas que se espalham sobre o barco de papel que flutua no firmamento molhado de instintos soberbos. Desabo do meu pedestal e me perco dentro da escuridão que chora clamando pela paisagem natural! Mais um acidente hoje? Não seria bom! O carro submergindo no rio? Não seria bom! A moto caindo no lago? Tampouco seria plausível. Acalmem-se esses devaneios de verão e entendam que outras estações chamam pelo frio das minhas geleiras. Não quero despedaçar o rio que corre para o mar e nem secar as cordilheiras que deságuam nos vales de suas veias abertas.
 Quero olhar ao meu redor e ver além do que meus olhos podem ver, perceber que o rumo certo fica em outra direção e que sonhar acordado é a melhor forma de não me sentir sozinho. São pequenos sinais que se espalham pelas cortinas brilhantes do paraíso. E os cacos de vidro cortam o chão...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O AURÉLIO PENSOU DIFERENTE

As palavras seriam perfeitas cópias daquilo que queremos dizer se elas não se limitassem em formalidades que as vezes tiram os sentimentos das melhores coisas da vida. Não quero me confrontar com o Aurélio mas acredito que tenha encontrado algumas definições melhores para essas expressões de nós mesmos!
ABANDONO: Quando a jangada parte e você fica.
Abraço: A nítida impressão de que nada mais existe no mundo e mesmo que existisse não poderia nos atingir.
Alegria: Saber que se o mundo acabasse naquele instante tudo teria sido perfeito.
Amor: O assassino e o salvador da poesia. Aquilo que ocupa todos os lugares e na ausência deixa um único vazio. O concreto mais abstrato que existe.
Adeus: O tipo de tchau mais triste que existe. Dilacera a alma não pelo que foi, mas pelo que poderia ter sido.
Adolescente: Toda criatura que tem fogos de artifício dentro dela, que quer explodir o mundo e cuidar dele para que possa construí-lo outra vez.
Arrepio: Ser virado do avesso num golpe só.
Artista: Espécie de gente que nunca deixará de ser criança. Que sempre verá possibilidades onde todos vêem fracasso. Que sempre apostará na vitória, mesmo que seja a derrota algo mais evidente.
Ausência: Uma falta que dói, e que fica ali, presente, obstruindo a porta do sorriso.
Beijo: Vontade de fazer com que duas almas ocupem o mesmo corpo.
Carinho: Ganhar todos os presentes do mundo num único olhar.
Carência: Sentir fome de desejo mesmo quando a saciedade bate à porta.

Ciúme: A angústia provocada pela possibilidade de algo que não existe na forma objetiva. 
Desejo: Tristeza por não saber usar todos os sentidos ao mesmo tempo.
Desprezo: A reação inerte diante de algo que é tão insignificante que não merece nem o reconhecimento da existência.
Decepção: Ter certeza de que irá comer a última barra de cereal da dispensa, e perceber que seu namorado já fez isso por você!
Fome: A sensação de que o mundo está acabando da pior maneira possível.
Fotografia: Um pedaço de imagem que guarda um pedaço de vida nela.
Gelo: Aquilo que percorre nosso corpo quando a pessoa amada diz tchau.
Inocência: Ver uma pessoa sem roupa e pensar que está muito frio para alguém ficar daquele jeito. 
Ironia: O desprezo dos sábios.
Imaginação: A vida que começa a existir quando fechamos os olhos, e continua existindo quando voltamos ao lugar dos nossos sonhos. 
Lágrima: Sumo que sai dos olhos quando se espreme o coração.
Mentira: Uma verdade que não teve tempo, possibilidade ou vontade de acontecer.
Morte: Aquilo que chega quando finalmente aprendemos a viver.
Omitir: Adoçar com o amargo do fel a mentira que por si só já e desgostosa.
Ousadia: Quando o coração diz para a coragem: Vá! E ela vai mesmo!
Paixão: O combustível que ensina ao amor que ele não precisa ser abastecido.
Poeta: Aquele que sonha enquanto o mundo dorme.
Preconceito: O desejo consciente ou não de ser igual ao objeto de preconceito.
Respeito: Imaginar-se como o outro.
Romantismo: Entender que a feiúra do Tucano é que o deixa lindo.
Realismo: Entender que a feiúra do Tucano o deixa feio mesmo.
Saudade: Vontade de reviver indefinidamente aquilo que nos faz bem.
Sarcasmo: O humor dos irônicos.
Sorriso: Aquilo que só existe de maneira sincera, depois que descobrimos  o gosto da lágrima.
TPM: Vontade de matar e ressuscitar, afastar e aproximar, amar e odiar, comer e vomitar, rir e chorar, chegar e se despedir, e tudo isso ao mesmo tempo.
Tristeza: A sensação de que uma mão aperta com toda a força o coração.
Tesão: A voz do desejo expressa pelas vias da vontade.
Vida: Um rascunho que não teremos tempo de passar a limpo. Um ensaio que nunca estreará como peça principal.






terça-feira, 13 de setembro de 2011

É ETERNO


Amamo-nos!  Em cada desentendimento bobo, uma promessa de amor que nunca deixa de ser cumprida, por nunca termos deixado de nos amar. Em cada ofensa proferida um sorriso sincero e a vontade de dizer que foi sem querer. Nos lábios que se abrem para nossa alegria afiamos o fio da nossa espada, cortando nossos corações em pedaços pequenos, nos alimentamos de todo amor que a terra pode oferecer.
A noite fotografava cada momento como a despedida de um novo olá! Sempre fomos verdadeiros com o mundo nas nossas mentiras. Por mais que tentássemos provar que o inevitável não aconteceria, a paixão foi trazida para nossa praia com os primeiros ventos da manhã.
Salgada era a água que escorria pelo meu corpo e doce era o gosto da sua boca, assim descobrimos a fórmula perfeita do soro que nos hidratou, tratando de encurtar o caminho que talvez demorássemos muito tempo pra seguir. Como saber? De uma hora pra outra o errado virou certo, o oculto se tornou notório, as omissões foram confissões e no intervalo de uma hora iniciamos a história que já tinha quase uma vida de duração.
Cumprimos nossas obrigações durante o dia, e a noite nos entregamos ao parque de diversões. Vivemos as experiências derradeiras e duradouras. Somos um anacronismo que sobrevive ao tempo. Afirmamos nossa estrada, confirmamos nossa história.
E nós, que sempre tivemos medo da felicidade notamos juntos que não havia mais o que temer. Ela deixara de ser uma quimera e se tornara a realidade que compartilhamos todas as manhãs. Quando estou longe de você, desde o instante que digo tchau até vê-la outra vez, a maior presença que sinto é a sua ausência.
Nada poderia ser dito para dizer como nos deliciamos com a presença de nós mesmos. Não precisamos de mais ninguém nesse espaço remoto e litúrgico onde os poemas deixam de ser escritos e passam a descrever o que experimentamos. Sempre soubemos exibir o melhor um para o outro, e o mundo que ficasse com aquela superficialidade desconhecida que nunca fizemos questão de manter.
 Precisamos de alguns minutos para saber que nos conhecíamos há anos. Precisamos de um instante para provar o sabor de uma vida! O que seria do tempo se não pudéssemos esgotá-lo constantemente com a certeza de que ele nunca acaba? Com você aprendi que não sou imortal! Passei a amar a vida, por querer saboreá-la calmamente como aquele sorvete que tomamos em nosso reino. Larguei tudo que me matava para poder morrer de amor só por você.
Demos um beijo, nossas bocas selaram o acordo. Apresentamos nossas almas, nos despedimos, mas sem saber, naquele momento eu levava um tanto de você e deixava outro tanto de mim.  Logo iria atrás de você para buscar meu eu que faltava, devolver seu eu que levava e sem perceber me deixaria contigo mais uma vez! Até que chegou o dia em que percebemos que nos levávamos completos um no outro, e que meu corpo levava seu espírito e seu corpo levava minha vida. Prometemos então cuidar dos nossos corações que não mais sabiam a quem pertenciam, pois misturamos nosso suor, nossa carne e nosso amor. Sentia sede de você, sinto sede de você e mato a minha sede na sua saliva.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

DEIXA EU FALAR FILHO DA PUTA


Esses porcos chauvinistas, enlameados na merda que criaram acreditam que são humanos. Roncam no rabo um do outro, e reproduzem de maneira intelectualmente nítida a última visão conservadora que ouviram. Eles moram em chiqueiros e fingem que habitam castelos. Casas de palha que não suportaria um peito do gigante que morava no pé-de-feijão.
 Não se pode pensar numa sociedade onde a opinião é crime. Não se pode responder verdadeiramente numa sociedade perfumada pelos dejetos podres da sua devassidão, expelidos pelo cu ardente de quem sentou na brasa, e no próprio pau flamejante do Diabo escreve suas meditações.
 Adúlteros e prostitutas se preocupando com os palavrões do jornal. Na manchete preferem ler ânus a cu, como se um fosse mais importante que o outro. Caso um dos dois esteja ameaçado, fugirei com a mesma determinação. Onde está a maldade da palavra dita? Nos ouvidos perniciosos e corrompidos daqueles que ajustam a ideia à vontade que possuem. Rampeiras desqualificadas, bocas inundadas pela porra da falsidade, que engolida, fecunda mais um estúpido rapaz.
Bêbados cambaleantes, freiras prostitutas, padres pederastas, pastores corruptos!  Sentem a ofensa de uma crítica aguerrida, mas cerram  os olhos diante do pedinte que estende a mão. Fecham a janela para o camelô, cospem no mendigo, salvam o papai Noel,  e gostariam de se afogar no biju e na bala do sinal. Homens que tentam resgatar o pouco da moral que se perdeu dentro de um peito manchado pelos símbolos mal interpretados. São os construtores do novo mundo que se destruíram antes da obra começar.
Caralhos saltitantes que procuram bucetas voadoras para trepar e assim foder mais alguma coisa que paira nesse universo em desencanto. Mandaram eu calar a boca, mandaram eu fechar os olhos. Prefiro a clemência de um bolso vazio do que silenciar a formação crítica que  meu intelecto colabora.
Agora provavelmente algum ignorante confesso lê o texto, recrimina por ele mesmo não estar a altura do entendimento do que eu realmente quero dizer. Ele rosna, ele baba, ele sofre com as dores intestinais de uma alma podre que inveja um gênio da composição literária. Se eu me julgo esse gênio? Uma coisa é fato: alma podre eu não tenho. 

sábado, 27 de agosto de 2011

UM CABAÇO FODIDO


Não sei se o som seria bossanovista ou rock and roll. Já não basta apenas trair o salvador, é necessário esperar para ser o próprio verdugo. E quem acha que eu falo de Jesus, idealisticamente chamado de O Cristo, vá tomar no meio do cu. Não estou sendo literal. Sequer procuro ser conotativo, apenas escrevo.
  Anseio por um espaço intuitivo para  cravar a lança no sangue do espírito bom. A cruz que carrego em meus ombros poderia estar pendurada numa corrente, amarrada ao meu pescoço enquanto pulo no mar. Caminhei sobre a prancha do navio selado, e ganhei uma casa no lote abissal.
  Poderia ser um filme em preto e branco ou a nova sensação do cinema 3D. Um legado presente de espera, ou uma ilusão adiada de promessas vãs. Como poderia saber até onde as estradas seguem, quando ninguém por elas trilha?
Rasguei os mapas que me orientavam e comi um baurete em algum Garrastazu. Que os loucos pastores entendam durante sua celebração!  Talvez com um violão eu faça melodias sísmicas ou com uma guitarra eu escreva minha canção biográfica. As cordas arrebentaram ante ao afago das bodas de Jor-El.
 É o velho complexo das noites intermináveis. Aquela angústia de um corpo que luta para se desprender. Gritar, matar a ansiedade, deixar tudo como está, correr. Não há conhecidos aqui, não há esperança como remanescente dos corpos que dizem adeus. Nada dentro dessa ordem assume a confiança verdadeira. Elástico, plástico, dinástico e drástico. Que tradição idiota! Quanta merda original. Mijo num copo para sorver o calor que sai de mim. Estão servidos das suas próprias podridões? Sentem-se! Vamos ao banquete! Seringas prontas para disparar a picada amortecedora da mordida peçonhenta.
 Deixei meus comprimidos em algum lugar, e eu os trazia como os últimos amigos de uma gangue que me acompanhou. Agora foram dispensados da tarefa de serem os pistoleiros do meu suicídio. Disparo contra minha cabeça, e com um balde recolho recortes do meu pensamento.
  Pego a caneta como quem busca uma arma para atirar. Quero derrubar os corpos diante da angústia da minha tinta! Quero manchar as ruas com as letras da solicitude vasta. Despejar o caldeirão das críticas nos pratos das crianças traumatizadas. Empurrar o paralítico na descida e gritar sorrindo que o freio quebrou. Quero infestar a consciência com as ideias que destruíram minhas ideologias.
Não compreendo até onde a ignorância pode cavar seu túnel. Ela cava um poço, perfura galerias e silencia diante da estupidez! Olhares atônitos, bocas estáticas e sorrisos que não entendem o chamado para aparecerem, ocupam o cenário desse teatro senil.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PELOS TOQUES SAUDOSOS

Sua retina deixa palpitar os mistérios de um olhar que eu gosto de mirar. Nessas profundezas alentadoras eu poderia descansar das intensas caminhadas percorridas e sustentadas pelo meu corpo! Minhas pernas cansadas contrastam com a força da sua passada, que discretamente se aproximou e me convidou para voar junto com você!
Presenteado pelos abraços de mãos provocadoras e oferecendo meu ombro na forma de um abrigo de palpitaçõs eu me vi sem reação. A explosão do movimento ressoava como fogos que anunciam um bom ano-novo. Quis pedir para o mundo congelar seu giro, matar seu tempo e estacionar sua viagem.
Poderia  desejar a sensualidade exalando seu perfume que seria a vitória secreta do cheiro bom, poderia desejar seu corpo se correspondendo com o meu em quadris compassados pelo ritmo da libido em profusão, poderia morder suas costas em cada pedaço que me ofertasse a sensação. Tudo eu poderia fazer,  se já não o fizesse  em todos os instantes nos quais me presenteio com o sabor da sua carne jovial.
 Não há cura para a vontade de querer você! Não há cura para a vontade de desejar você! Não há cura para a doença que é imaginar você em todos os formatos, contempla-la em todas as estações, e devorá-la em todos os contatos. Se num círculo estivéssemos, eu criaria os cantos que seriam as testemunhas das viagens soturnas que fazemos embalados pelo tesão.  
Seu corpo num vale proibido, suas mãos como chaves da prisão em que me lancei. A vontade de ganhar sorrateiro cada pedido, largar a santidade no seu íntimo e com pecados matar o Frei.
Não é  apenas seu corpo, esse desnudo espaço que pranteio no universo, palco das minhas alucinações, mas também sua alma, que compartilha com a minha, a versão mais ardente de uma paixão que pode ser sentida pelos póros da pele que eu insisto em querer beijar. Decorar cada aspecto da sua superfície, me deliciar nas encostas que reclinam sobre meu dorso, especular cada pedaço dos seus tecidos, e provar faminto cada sentença do seu gosto.  
Percorrer suas linhas desenhadas em majestosa sedução, é como percorrer confortavelmente o caminho do inferno, sem garantias de que poderei voltar. É o caminho salvo da perdição, ou a perdida explicação do esquecimento. Uma satisfação visceral de lhe ver como mulher. Desejar suas qualidades, e sentir flutuar sobre meu sexo desconexo, o convexo da sua iluminação sem ser prolixo no afeto e demasiado na sedução.
Em cada ânsia por respostas, a busca de novas perguntas que norteiam a boca calada. Em cada silêncio recluso, a vontade desenfreada de entrelaçar as mãos em seus cabelos e tornar-me escravo das correntes que me prendem sem pensar.
Prenda-me se puder, arranhe-me se conseguir. Faça sangrar cada pedaço da minha vontade, faça verter gotas vermelhas que borbulhem na caldeira de um abraço infernal. Embale-me na salsa, no quarto, na cadeira ou no banco. Dance pra mim ao som do  mambo, do tango ou do merengue e talvez até do funk. Tire minhas roupas com seu olhar, e jogue em cima das suas que já tirei com o meu. Afogue toda a loucura nos baldes em que depositei minha postura. Venha, sussurre, fale, grite, aperte, envolva, desligue.
 Faça-me sapatear nos arquipélagos dos mares, e que a oração pela minha alma nunca seja ouvida pelos anjos do resgate.
A música tocava a uma distância difícil de decifrar. O rádio jaz esquecido, e o volume das suas notas jaz desprezado. O vazio e escuro espaço se fez sentir, e o nervosismo juvenil invadiu os dois corpos que ali estavam dividindo lembranças de um momento que já experimentaram. Provaram dos beijos quando estavam longe, provaram dos beijos na proximidade de uma sensação, provaram dos beijos na estampa de uma novidade, provaram as duas bocas enquanto o corpo estava são. Viveram a intensa forma da reciprocidade.
 Minha boca procurou a sua como um sedento procura o oásis pra matar a sua sede. Minha boca procurou seus lábios como um ourives  busca a pedra fundamental da sua obra. Nessa boca gostosa de beijar eu me banhei em sonhos. No cheiro do seu pescoço eu perderia todos os aromas que já senti. No perfume do seu corpo eu poderia perder todas as flores que já vi. O buquê do seu corpo é um jardim repleto de formas, cores e mistérios que instigam a penetrar cada vez mais do interior dessa selva de alertas.
Nosso desejo explodia naquela hora exata, quando a precisão do tempo foi jogada pela janela. Senti seu calor, senti a unidade da sua vontade se curvando na umidade do seu alarde. Sucumbi ao gosto pleno de uma vontade não satisfeita, mas despertada pelo desejo de possuir mais um segundo colado em sua face. Sentindo a transposição da sua alma eu pude viajar pelo seu ventre. Sentindo a alucinação da sua calma e fiz meus sentidos dormentes. E entre seu cansaço humilde e sua libido desperta eu mostrei que se faz moradia no quintal da cidade deserta.

sábado, 6 de agosto de 2011

TAMBORES ALERTAS INDAGAM, INSISTEM


A garota desastrada derrubou seus perfumes! Dessa vez não foram os fracos que fizeram vingança, mas ela soube que os frascos se vingam e se jogam com seu cheiro de doce comunhão.
Num pequeno gesto o rosto se envolveu! O rosto apenas não, o corpo todo, uma vez que gostos pela metade serão sempre uma parte do que queremos! Esperar pelo que nos conta tarde é retornar cedo à forma que tivemos... E a garota desastrada observa! Ela poderia viver a intensidade de um momento na escolha de uma sensação. Ela não precisava provar nada, ela não queria dizer nada! Sentir já era o bastante. A primeira vez nem sempre é a última chance, e cada anoitecer era uma porta para um universo de possibilidades! O mundo que se acostume com ela! Ela não se incomodava, não se incomoda. Não ouse pensar que algo a fará desistir do que quer.
Sabe o que eu acho? Eu acho o segredo de uma oportunidade a entrega mais autêntica de um momento! Por favor, me prenda, por favor me surpreenda, me super prenda e se entregue ao que cada instante quer dizer. O ideal seria o esquecimento, mas quem disse que seguimos na natureza objetiva a idealização das coisas? Não sabemos o que é perfeito! Mas a perfeição nem é nosso desejo também.
A garota desastrada lê cada linha, absorve cada frase! As palavras massageiam seu corpo com suaves toques de sinceridade que a encantam mais do que um céu estrelado. Ela conseguirá entender? Sim, ela já entendeu, e se não tivesse entendido, problema de quem escreveu, afinal o interessado sempre deve dar um jeito! Não precisa de caminhos, não precisa de atalhos, pois na simplicidade do mistério que nos rodeia palpita constantemente a essência das formas que buscamos.
A garota desastrada poderia ser desinteressada, poderia ver o mundo cair só pelo prazer do estrago, mas nos detalhes de cada vão acontecimento ela percebe que mesmo que falte o senso do bom senso, o calor de um gosto desejado arde mais do que a fogueira de São João. 

domingo, 31 de julho de 2011

CRISTAIS DO PARAÍSO

Essa chuva despenca solitária, em pingos vertiginosos que são uma forma de trazer um pouco do céu para a terra. Gotas cálidas, universo tempestuoso. Nuvens suspensas que brincam de esconder o sol!
As águas derradeiras cobrem minha cabeça, e é como se num instante cachoeiras inteiras viessem me levar.
Você dorme meu amor! Você descansa num sono único que eu jamais teria coragem de incomodar. Você dorme! Lembro-me das vezes em que meus olhos despertaram nas madrugadas. Eles sempre despertam nas madrugadas. É difícil eu entender que acordei, pois ao ver você dormindo tenho a nítida impressão de sonhar! 
E essas  noites que passam rápido demais, e esses dias que passam devagar! Um frio incólume, acompanha um vento despretensioso. Ele chega protegido pelo nosso corpo, certo de que o calor dos nossos braços o fará dispersar, ou se prender. Ele sabe que não perderemos calor, mas que o convidaremos para ficar, provando que corpos que se amam incendeiam cada canto onde estão.
A chuva continua caindo! Não sei se nesses momentos é o céu que despenca ou a terra que se eleva para receber as lágrimas do paraíso. Não são lágrimas de dor, mas lágrimas de um sorriso que não se contém ao venerar seus filhos que hoje são naturais, mas que em outros planos já estiveram no além.
Bebo dessa água celeste, lavo-me nas suas lânguidas passadas, e sou pisoteado por pequenas gotas que mais parecem cristais derretidos brindando meu corpo são.
Minhas páginas voltadas, meu livro escrito, minhas bordas recheadas e meu caminho aflito! Tudo isso deixo do lado da estrada, quando sorrateiro pela madrugada sei que ouve a chuva comigo! Ela realmente parece uma canção de ninar. Ela embala nossos corpos e canta  a nós sua satisfação em existir. Versos da passagem, poesia de uma viagem e eu aconteço antes mesmo do porvir. 
A chuva se vai.... Mas sua ausência dura o exato tempo da clemência, quando implorando, pedimos para ela voltar e acompanhar o canto dos pássaros e invocar mais  gotas de eternidade para nos banhar! 

domingo, 17 de julho de 2011

SAUDADE...

Eu beijei a lua um milhão de vezes e nunca deixei a terra sob meus pés. Seu sorriso sempre foi o motivo da minha perdição e nossos jogos sedutores me fazem sonhar, eu admito. Afastei-me da distância exata me perdendo em números irreais.Criei fórmulas sem nexo só para poder divagar nas minhas segundas, terceiras e quartas intenções. Senti o labirinto da sua boca roçando meu rosto e nos cantos de um beijo busquei o centro do seu sabor. Sentei aos pés de uma árvore e provei o mel que se rendia diante da surpresa da sua companhia! E a voz me dizia sempre pra pular, fechar os olhos e voar! 
Dancei com os anjos em meus pensamentos e senti o encaixe dos quadris no absurdo da sensação. Dois corpos se rendendo ao calor de uma mesma vontade. Examinei cada centímetro das suas linhas e as descrevi repetidamente para mim, isolando qualquer possibilidade de esquecimento. Era uma imagem gravada, uma fotografia posta no álbum das seduções que guardei. Ali, naquele mundo onde as nuvens tem sabor, onde as cores ganham cheiro e o corpo é um imenso universo para  explorar eu vigiei meus pensamentos mas não consegui afastá-los da vontade que tinham de recordar você!
Como um rio que corre naturalmente para o mar, algumas coisas estão destinadas a acontecer. Não sabemos ao certo o destino, mas seguimos o mesmo caminho. Somos iguais nas imperfeições e perfeitos nas distrações, quando sem querer imaginamos cenas que ainda não vivemos e nos entregamos aos desejos censurados no mundo real. 
 Num dia quente de sol, eu vi nevar no verão e senti a cura da doença que nunca tive. Do chão eu pude ver o mundo como se estivesse na montanha mais alta. Bebi a água da fonte mais pura e me entreguei aos pensamentos soltos,perdendo-me dentro do meu próprio desejo. Todos meus instintos voltam e eu sei que os seus vieram também. Logo vão arder, misturando-se com o medo e a vontade de ver tudo acontecendo outra vez! 
Imaginando, eu provei dos lábios que despertaram minha fome, e saudável, esperei o milagre da minha cura. Senti desaparecer aquilo que não tive e me encontrei navegando no deserto das possibilidades, queimando no inferno das intenções. Troquei seus olhos pelo poço dos mistérios soltos. Venerei seu corpo dentro da sua mente, almejei tocá-lo dentro dos pensamentos meus e sei que isso tudo faz parte de você também.


sábado, 23 de abril de 2011

RETROVISORES QUEBRADOS


Uma frase, um dizer. Verdades que foram mas deixaram de ser. Num instante as impressões das mãos, as digitais do corpo estavam em minha alma, e no outro instante elas já tinham se perdido em algum lugar das lembranças.
Parece que nem tudo foi dito, parece que palavras ficaram por dizer. Talvez a segurança tivesse seu esconderijo naquele ponto onde não se vê o coração. Talvez o silêncio fosse omisso e quisesse apenas um pouco de oração. A noite então fechou seus olhos diante dos seus menores que caminharam perdidos na escuridão.
Um abraço que não era mais esperado, um conforto que não buscava mais satisfação, um olhar disperso e vago que já foi sinônimo de comoção.
Um cheiro ainda atraente, mas expulso das narinas que não querem um perfume nostálgico trazido em sinal de adoração. Tiro as mãos do meu rosto e seguro o volante para prosseguir. Esqueço você nessas horas, apago sua imagem dos meus sonhos para que você possa dormir!
Penso que pensei ter encontrado a eternidade. Descobri a fórmula permanente da certeza. Era muito simples saber que uma tarde, se misturada ao sol da manhã traria a força de um dia. O sol misturado ao mar traria o peso do para sempre e sempre.
Nessas horas eu pergunto para as estações, eu pergunto para os castelos: Que alma é feita de magia? Que alma é sem defeitos? Onde está a boca que minha boca sacia? Onde estão os trajes que trouxeram o seu jeito?
Nesse exílio que se martiriza em fogo brando, encontra-se tombada, encontra-se cansada! Tomada pela angústia minha vida pergunta, e as respostas não estão a solta, as respostas estão no gosto guardado num baú escondido sob as promessas ditas de uma desculpa vazia.
Eu, mochileiro das canções guardadas, caminhava com as mãos soltas nos bolsos gastos que nada traziam a não ser um rolo de esperança. Vendi meu sorriso, dei minha alegria. Estiquei minhas mãos em direção ao incerto, e abracei a primazia.
Conversas e segredos em uma tumba de ressurreição, sob o céu com a musa e seu instante ideal. Sonhei com olhos insensatos. Dei nome aos céus, apontei os pingos do fogo eterno. Respirei o calor das madrugadas e num rosário de rimas descobri o Centauro, as Marias, a Vênus imóvel. No meu albergue, brilhava o céu escuro.
Sentado nos bancos do meu carro eu só ouvia o raspar dos pneus no asfalto frio, a rudeza das rodas que saiam. Odor de rosas, vinho vigoroso perseguiam minha prosa, traziam a poesia para meu dorso.
Ali, entre inúmeros ombros fantásticos, conheci aquele descoberto e escondido corpo. Rimava com o débil tempo dos elásticos e com os meus sapatos fizeram coro doloroso.


domingo, 3 de abril de 2011

A LUA DE MUITAS NOITES


Não fui o mesmo naqueles instantes, cavei a sensação naqueles momentos. Procurei suas imagens nas gavetas e encontrei a ocasião perdida de um beijo. Sinto que valeu a pena, sinto que a saudade me encontra num lugar. Até onde seu sorriso me chamava? Até onde eu poderia lhe buscar? Rodei por estradas sentindo seu perfume em minhas mãos, guardando seu cheiro para que eu soubesse onde lhe encontrar. Senti vontade de congelar o mundo em alguns momentos, como em alguns momentos nos incendiamos com um olhar!

O telefone tocou você me disse para onde ir. A porta se abriu e então foi possível prosseguir. Uma volta pelas luzes, um passo reto na escuridão. Você soube como sair daquele mundo e assim começamos a correr. Como era bom te ver de novo ali! Como Dante poderia dizer: "A vida é uma só, um corpo, uma alma, um sol, um universo em ti e um frágil coração"! Não sei quem será o universo e quem será o frágil coração. Nós dois fomos o mundo, nós dois submetemos a razão! Para as loucuras eu peço um nova chance, mas não a chance do perdão. Quero a morte sem ser perdoado se eu tiver a dádiva da repetição.

Entre o fogo do desejo cobramos o preço de um beijo, e enquanto todos corriam passando por nós, aguardávamos numa estrada, nesse caminho a sós! Ouvi sua respiração, senti o seu suor. Ouvi seu coração quando me aproximei o bastante para perceber que nos unimos na batida certeira de um compasso exato.

Estive contigo por uma noite nas areias da praia. Estive contigo onde as gotas de fogo ardiam sob as águas e se confundiam com o doce daquela imensidão! Era selvagem o prazer do sorriso e foi bom contar as histórias que o céu queria nos dizer através das constelações. Senti seu abraço, a peguei em meus braços e por pouco não nos pusemos a rodar! Como ramos agitados pelo mesmo vento, e como raízes que se unem numa mesma força, escrevemos cada segundo daquele momento e guardamos os sonhos todos da mesma forma!

Já venci o sono para saber de você, um pouco mais do que você queria me dizer! Já venci distâncias para poder te levar, pegar em sua mão e tatear um sorriso num rosto que se abria para minha imaginação. Minha cabeça dormiu contigo um sono carinhoso, sono de uma noite inteira! Enquanto a escuridão da terra nos ocultava, enquanto a lua só era vista porque eu voltava, esse imenso planeta girava com seus vivos e seus mortos na cabeceira! No meio de uma frase um beijo, no meio desse beijo uma alucinação. Perguntei se aquilo de fato era verdadeiro ou seu meus braços que rodeavam sua cintura, estavam envolvidos por devaneios!

A lua é segura e a tarde também. Pude saciar a sua nuca com meu corpo que se aproximou. Encostei em suas pernas, toquei com meu peito o seu dorso quase nú. Nos prendemos num espaço quente e temperamos nosso aconchego. O tempero foi tão bom que a comida nem quisemos salgar. Não era pelos pratos que eu estava ali e nem pela mesa a nos separar. Estava ali buscando alguém para viagem, estava ali buscando alguém para levar. Na estrada do sol que nos brindou, das coisas que hoje traz em seu caderno, dos doces que saboreou e do wiskhey quente no inverno, ponho meus pensamentos a rodar. O doce envolveu o sabor do Jack, e no gosto ardente da sua saliva provei a embriaguez divertida das intenções divididas. Saio da sua boca com uma vontade imensa de voltar!


sexta-feira, 25 de março de 2011

No vão do amor perdido



Eleva a dor do ódio retraído pela imagem, desenvolvido pelo instinto de aproximação. Refletem os corpos a magia indescritível, porém visível da destruição. Incrementa o horror pelo suor vertendo do corpo que luta respirando a própria esperança e derrete pelo suor da sublimação.

Eleva aos céus a prece daquela que perde o fôlego diante do algoz. Esse mesmo algoz que outrora já a fez perder o fôlego com suspiros de amor, de sonhos ou de suposições. Lá onde o mar abençoa a terra, onde o espelho do céu avança sobre a areia, esse Cabral tentou aportar em outro cais. Não é beijo que seu amor permeia, não há sombra na consciência dos seus quintais. Não era o Cabral descobridor, nem o Cabral das velas portuguesas, era o Cabral dos naufrágios, dos banquetes macabros e das velas acesas. Era o Cabral de Jesus, que de discípulo não tinha nada, a não ser a vontade de pregar, não o seu mestre, mas a mãe dele: Maria. Sufocar Maria, porque seu coração corroborava com outros planos. Sufocar Maria e escondê-la no sudário dos véus profanos. Lá onde Floriano se fez cidade e a ilha se fez bela, tentaram plantar outras flores de saudade num jardim que mancha a aquarela. Quem poderia morrer de amor, senão doentios tuberculosos, assassinos patológicos, psicopatas semânticos que procuram transformar o sentido das coisas no sentido da sua própria loucura! Considerando morrer como condicionante da morte, concluímos que o ser capaz de morrer por amor, também será capaz na equivalência, de matar, convocando para sua guerra todas as hostes. Que os demônios corram em seu auxílio, que a maldade tenha compaixão. Desprezo por esse amor partilho, destino esse homem à um caixão. E ele dizia que a amava! Um amor que de amor não tem nada, mas brada apenas uma forma homográfica da representação!

Sinta! Sinta a elevação do espírito sob o esfacelamento de um corpo que desmorona por causa de uma cinta! Forca de couro, substituindo a força do ouro que como precioso metal chegou por tempos a margear a relação dos opostos! Ela o viu como um príncipe do reino perdido, ele a brindou como a próxima de uma mente doentia! Ela viu nele um texto, ele a viu como uma vírgula, acentuou o seu sinal, e tentou encerrar a frase com um ponto. O ponto que restou não foi o final, mas o de interrogação! E nós que achávamos que as cenas épicas não seriam mais tétricas, e ávidos buscávamos acreditar que não se dariam sonhos ásperos, mas sim emoções lépidas! Como enganamos nossa sensação sobre a materialização dos instintos! Morre animal grotesco, que lhe devorem os homens no seu leu labirinto! Fauno há de regozijar-se!

(referente ao caso recente ocorrido em Florianópolis - http://g1.globo.com/videos/jornal-da-globo/v/homem-tenta-estrangular-ex-namorada-no-elevador-em-santa-catarina/1466842/)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ANGÚSTIA


Para onde foi a força criadora das minhas ideias? Por onde elas transitam no instante que minhas mãos se põem a escrever? Qual dos principados e potestades foi o responsável por usurpar minha intenção descritiva e minha alma detalhada?
No quarto escuro que depositei minhas angústias, ficaram retidas também as letras da minha inspiração. Resignado, busco beber da fonte que me oferta a vida. Tranquilo e sereno desencanto as órbitas fictícias da minha galáxia em expansão.
Caminho pensativo pelo labirinto do Minotauro. Tento lembrar do rosto de Minos. Procuro as respostas nas paredes construídas por Dédalo e Ícaro. Acabo me deparando apenas com a sombra da ilustre criatura. Ao meu lado, Teseu jaz sem vida apodrece sob uma derrota inesperada que alterou o curso da mitologia. Tentei reanimá-lo, tentei revivê-lo, mas seu silêncio não me reservou nenhuma esperança. Sua espada fora levada como espólio de uma batalha por ele perdida. Restava para mim a guerra!
Onde se esconderam as linhas sagradas do novelo que orientava meus passos? Preciso correr rumo ao encontro de mim mesmo. Preciso sufocar os versos noturnos que apertam meu coração. Preciso novamente inspirar minha pena mágica e escrever letras irreais. Tenho que eliminar o gosto da madeira e a sensação gélida que de forma astuta envolve minha imaginação.
Quando abandonei os inimigos do meu corpo senti-me livre e fiquei disperso. Tentei encontrar a chance de um sorriso verdadeiro e degustei o sabor da vida.
E minhas ideias, foram sequestradas pelo Minotauro?? Foram destruídas na manhã que despertei para minha alegria?
Espero o retorno da paz, como o soldado aguarda a volta do seu corpo cansado para o recanto aconchegante do lar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

VERNIZ DO AMOR


Menina, moleca, mulher. Menina vestida de vida com os olhos brilhantes, sabe o que quer.
Moleca, mulher, menina. Moleca distraída com a vida ilumina o caminho e este me alucina.
Mulher, menina, moleca. Sua destreza me liberta, meu suor sua pele refresca.
Você está tão bem. Descreveria suas palavras como sendo as mais ternas que já ouvi. Faço da sua centelha o alimento da fogueira que incendiou cada centímetro, conhecido ou não, da minha razão. Como nunca percebi isso antes?
Nada falei e não pensei em nada. Tive medo porque sabia que um amor imenso iria me envolver naquele café. Fui longe, corri depressa e despreocupado me lancei à sorte que muitas vezes não me quer.
Suas palavras hoje estão soltas e o mundo conhece a calma sorte do seu caminhar. Descreve em cada sentido uma experiência vivida sob o peso das noites que chorou sem parar.
As lágrimas secaram. O peito já doeu demais, e chegou o momento da colheita dos novos frutos em antigos parreirais.
Escoa o vinho pelas taças da lembrança, cativa em cada momento solto uma nova gota de mel, e nos sonhos de uma criança solta, lembra que o doce pode sim ser comparado com um pedaço do céu.
Garota misteriosa, menina escondida sob um sorriso bom de saborear. Lábios ocultos atrás de uma boca que treme diante da nova sensação. Poderia descrever seus hábitos, prever suas reações e ganhar seus braços. Poderia ser vidente do amor. Poderia ser a temperatura elevada do ferro em brasa e a criança marcada com suas iniciais.
Menina que torna sábias as palavras ditas ao vento. Menina que sabe quando ganhar um elogio, e se curva diante da tensão que as palavras rudes podem lhe causar.
Exijo do tempo piedade. Exijo dos dias austeridade e aguardo a nova espera que trará consigo a promessa de uma nova era. Geleiras derretidas sob um olhar.

sábado, 8 de janeiro de 2011

SOMENTE SAUDADE


Trago comigo as dores de uma paisagem com definições abstratas. Procuro experimentar diariamente a vida.
Pensei que colocar os sentidos a prova e absorver cada sensação proporcionada, talvez seja, a única forma de ter certeza de que nossa existência é real.
Desmedido das minhas virtudes calmantes eu escrevi silêncios, noites, anotei o inexprimível. Fiquei com as canetas do sangue vertido e pulei no oásis por mim concebido.
Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas. Fiz comédia com meu vulto despercebido e tentei inventar novas flores, novos astros, novos idiomas. Tornei-me um poliglota das sensações sem pátria.
Criei meu relicário para depositar a minha personalidade triste. Meu olhar perdido em contraste com minha boca sorridente.
Fiz peças de ouro amarelo e espalhei seu plano sobre a ametista. Do mogno nobre do meu peito retirei as lascas que como farpas perfuravam minha razão e sustentando uma cúpula de esmeraldas abracei solitário o meu castelo sonhado. A piscina dos lamentos ganhou o cheiro das rosas e da fantasia, me senti puro outra vez.
Banhei-me na confusão profunda e lancei âncora no mar doce, pois o sal das suas lágrimas deixou há muito de existir. Hoje celebra as correntes que dão ao infinito oceano o sabor de um licor envelhecido pela experiência de cada frase pendurada no batente da vida. Mais doce para este menino é sua vida, do que os frutos maduros na proa da embarcação.
A água que escorre do seu corpo lavado entranha-se em meu madeiro, e então com as escuras manchas de um vinho bom me embriago anoitecendo inquieto permitindo a minha satisfação.
Eis que a partir da sua imagem eu banhei meu poema. Desse mar infuso de astros eu tirei uma estrela e nessa aparição interna de cadáver pensativo que vaga, entre meus braços, quero revê-la.
Cansado de tentar me compreender, e mais cansado ainda por tentar fugir de mim, resolvi explicar meus sofismas mágicos pela alucinação das palavras e acabei por considerar sagrada a desordem da minha inteligência. Abracei a arrogância para me defender da maldade do mundo.
Jamais a esperança parou num ponto sem movimento. A ciência da minha ignorância foi a paciência do suplício lento. Espero pela vinda da manhã, mesmo que a ardência dos meus dias surja queimada pelas brasas que não são vãs, e o ardor encontre a eternidade no mar misturada com os brilhos do sol que amarram as lembranças para que nunca mais deixem de brilhar e permaneçam vivas como substâncias do meu amor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tumba aberta, inquieta, nascente. Amor, respeito ardente!


Sou um caixeiro viajante. Sou um descobridor das possibilidades ocultas em cada frase misteriosa. Vivo num mundo único, habitado por quem amo. Faço letras das pedras mortas e escuto em tudo um pouco do nada. Dou ao som o tom desejado e encanto com melodias um coração silenciado.
A quietude desses dias ajuda a acalmar meu espírito inquieto. O contraste entre o eu ímpar e a falta do meu par estremece os dias longos que não vejo terminar. Achei uma forma, achei um lugar e enquanto a vida não começa, aguardo em silêncio o meu caminhar.
Nesses dias a solidão me encontra num quarto vazio. Pela janela da sacada olho o infinito e sinto que as cortinas se abrem para o sol a cada novo despertar. Armo minha saudade e ela com munição repleta atira sem piedade no coração deste homem.
É ruim ter uma voz apenas guardada para si. Estou cercado de pessoas e penso na única pessoa que não está aqui. Encontro você nas madrugadas dos sonhos angelicais. Encontro contigo para dizer que ainda existo e não me esquecerei jamais.
Fecho-me num canto escondido de mim mesmo. Visto a armadura que guarda aquilo que sou e sem o qual não seria. Cuido do precioso tesouro destinado a você. Você recebeu, você receberá e sempre o tesouro será seu. Piratas foram banidos, mastros foram erguidos, bandeiras foram postas e o nosso navio finalmente alcança a terra.
Pego suas mãos em meus pensamentos e sinto o gosto da sua pele quando fecho meus olhos. Junto a ideia com a sensibilidade da matéria e assim tomo remédio para a solidão.


domingo, 2 de janeiro de 2011

CAVALEIRO DO ZODÍACO


Dos precipícios desse universo nebuloso lancei meu espectro.
Não muito certo da sua missão, ele viajou pelas profundezas desconhecidas das constelações e tocou os pilares da criação. Fez das explosões estelares seus fogos de regozijo. Proclamou a si como o padrinho nas novas galaxias, e a pontos luminosos perdidos na imensidão do que é simplesmente tudo, deu nomes que refletiam sua busca por um ambiente conhecido.
Visitou o círculo de animais e investiu-se defensor e arauto de cada uma daquelas figuras, com as quais partilhou seus dias sem horas, já que o tempo havia ficado congelado num plano meramente racional.
Com o carneiro ele compartilhou a lã, e aprendeu sobre a arte da guerra que o haviam transformado no próprio deus das batalhas. Áries foi seu defensor e companheiro. Com o touro ele aprendeu a força da persistência e o valor de uma boa discussão por causa da teimosia. Percebeu duas figuras semelhantes, e geminados em três entenderam que cada ação poderia ser refletida no outro, aprenderam assim que o impacto do que se fazemos se faz sentir no plano universal. Com o caranguejo soube compreender que nem sempre as metas estão na nossa frente, basta procurar e mirar os objetivos, estejam lá onde estiverem. O susto foi grande com o rugido do leão. Um rugido que rompia o conceito físico de que o som não se propaga no vácuo. Ele praticamente berrava com a força de seus pulmões felinos e impunha sua vontade de rei. Mas percebeu que não resistia a uma aproximação destemida, e vencida a barreira criada, mostrou-se o mais carinhoso dos animais.
Banhada nos rios de águas brilhantes estava a virgem. Mostrou o valor da inocência, a força da observação e a cor da pureza, perdida entre animais, se impunha como unica forma repleta de alento.
A balança era algo muito sensível! Ponderava, refletia, decidia, e emitia suas opiniões após avaliações que se mostravam matematicamente exatas!
Surpresa com o escorpião. Seu ferrão não era um ataque, mas uma defesa, sua armadura não era uma lança, mas um escudo. Sua desconfiança estava nas possibilidades distantes, e talvez por isso não vivesse intensamente como todos os outros com os quais havia conversado.
Dos campos celestes se ouviu um galopar. Pernas fortes como um cavalo da andaluzia, tronco ereto como um estadista platônico e o dualismo constante e eterno daquele que trazia sobre si a força de um animal e o coração de um humano. Seria capaz de ser extremamente grosseiro e sem perceber abraçar carinhosamente num tom fraternal. Com ele a conversa rumou ao infinito.
A cabra do mar observava e intensamente me dizia que o caminho estava quase terminado. Meu rol de conhecido tinha aumentado num piscar de olhos. Vale lembrar que aqui, um instante é quase eterno, e passa lentamente.
Preso numa redoma de vidro, a consciência relutava com os limites. A água se fechava num espaço único e praticamente impossível de observar.
Para sair dali e continuar explorando o inacreditável olhei os peixes. Navegavam pelas águas do sabor vital. Buscavam os brilhos dos espaços siderais e sonhavam com a eternidade que estava cada vez mais próxima, ao passo que a morte já não era um medo e o fim estava cada vez mais distante.
Foi puxado pelo cometa, que com seus rastros luminosos dava ao céu novos tons cromáticos,
Meu espectro se materializou e refletiu em cada estrela conhecida um pouco do eu que guardava como sepultado. Não tinha mais segredos e não tinha mais dor.
Desrespeitei as rotas, as esferas e os limites do infinito universal! Procurei saber até que ponto os recônditos do nosso espaço eram conhecidos e possíveis de explorar pelo até então espírito (e agora matéria) de um curioso das rotas celestes.
Procurei Deus no vazio do infinito e não o encontrei no céu. Percebi que ele estava mais dentro de mim, além das camadas possíveis de observação, foi então que conclui que existia um universo maior e mais inexploarado ainda. A viagem teria que começar outra vez!