sábado, 31 de janeiro de 2009

A PEDRA QUE LANCEI

Você partiu e eu não pude dizer tchau. Caminhou distante em meio às notas que começavam a dar o tom do carnaval. Fantasias preparadas para a noite de Veneza, fantasias retiradas para mostrar o sentido da certeza. Rios secos, mantendo em seu leito o barqueiro fiel que continuava seu trabalho, mesmo sem ter onde navegar. A partida se deu como a última gota da chuva antes do sol, e eu vi o dia claro raiando, sem ter sentido a força da água que caiu. Meu corpo seco e iluminado reclama pelo frescor que a tarde poderia ter-lhe dado. Meus ouvidos sensíveis e leais agradecem a oportunidade concedida e o som escutado. Para você, posso dizer como foi bom cultivar o jardim. Jardim de pensamentos, jardim de sorrisos, jardim de olhares, jardim de boas e ingênuas intenções. Intenções essas que estavam ocultas sob a roupagem de uma menina como uma flor e dum menino com simples gestos de moleque, perdido no meio de palavras sem nenhuma pretensão aparente. Nesse jogo de sílabas e letras, podemos criar o conjunto de situações. Estas que vivemos, e as que imaginamos viver. E agora fiquei com a nítida impressão da partida. Melhor assim. Penso que foi melhor assim. A quem quero enganar quando digo que achei melhor? Melhor seria a certeza de sempre lhe encontrar, melhor seria a curiosidade de cada novo momento, melhor seria a capacidade legada ao jardineiro de regar suas plantas, colocando-as na terra, tirando-as do cimento. Sem maldade, sem medo de estragar a perfeição que se criou no mundo das idéias. As idéias não estão submetidas aos defeitos nem ao tempo. Transformam simples pretensiosos em candidatos eleitos, e tornam bonita a oportunidade que se criou. Por outro lado, talvez seja melhor ficar dentro da caverna e não conhecer a verdadeira origem das coisas. Talvez seja melhor a simples sombra da verdade. Agora restam fotos e recordações. Restam tintas e canetas guardadas como segredo na página escrita, trancafiada como revelação. Eu poderia ter sido letra impressa em teu corpo, marcado como uma cicatriz que se escolhe ter. Deixado como tatuagem, um sinal que sempre serviria para lembrar da sorte, que às vezes a vida escolhe nos dar. Os deuses as vezes brincam com seus filhos, os mortais, centro da diversão do universo. Eles, os deuses, gostam de nos confundir, embaralhar nossa cabeça e nos fazer indagar até o mais simples dos sinais. Criam as vontades, desenvolvem os desejos, escolhem as palavras, e sacam de nossos olhares a inquietação e o medo. Depois, nos deixam perdidos nesse labirinto incompreensível, levando embora a oportunidade tão aguardada, que poderia se dar numa festa, num encontro ou numa ocasião velada. Até hoje não entendi o que aconteceu. Prefiro assim, pois dentro de um universo de coisas possíveis, posso escolher entender aquelas que julgo convenientes, e que me farão sentir melhor. Criar as interpretações específicas, saudar tristonho a incapacidade que tenho de ir além. Foram boas aquelas palpitações juvenis. A pedra rola ribanceira abaixo, e no seu percurso ela não escolhe o caminho que percorre, apenas desce. Curiosa pelo alvo que vai alcançar. Quando alcança, o faz de forma inesperada, e deixa o rastro da trilha que ceifou. Não sabemos de onde ela veio, porque se soltou, apenas a vemos ali, pedra rolada, pedra parada, pedra solitária.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

ADEUS! POR ENQUANTO VOCÊ NÃO PODE VOLTAR

Você me acompanhou por um bom tempo! Gosto de pensar como fomos inseparáveis. Gosto de lembrar como você esteve em mim e eu em você esse tempo todo. Nesses dias que passaram plantamos um verdadeiro campo de experiências, e poderemos colher lembranças como bons frutos de nossa inquietação e de nossas virtudes. Não posso dizer que foi a primeira vez que vivemos juntos, pois já o fizemos em outros anos. Quando quase estou esquecendo de sua existência, chega você estonteante e com muita vida para gastar. Essa vez, contudo, foi diferente. Foi única, e também foi a mais recente. Fica mais fácil de lembrar, apesar de que muitas coisas se perderam no caminho. Posso afirmar entretanto, que a satisfação encontrada será para sempre motivo de minha recordação.
Percebo nesse limiar de tempo que, foi bom enquanto foi verdadeiro, e foi verdadeiro enquanto durou. Por mais intenso que tenha sido, a cada passar de dia, eu percebia que era chegada a hora do adeus. Talvez não um adeus para sempre, quem sabe um até logo. Isso infelizmente eu não posso responder. Sei que carrego agora um olhar nostálgico em torno do que tenho em mãos. Sei que nosso próximo encontro, se houver, vai demorar. Por mais que digam por aí que o tempo passa depressa, temos que concordar que só concluímos isso quando ele já passou. Pude sentir você em cada dia vivido. Pude sorver de ti cada aroma noturno, como um enólogo que busca o sabor desconhecido e inexplorado da fruta que estuda.Agora contudo, temos que nos separar. Nada no mundo pode evitar isso. Eu até poderia viajar para outros continentes buscando por você, mas correria um sério risco de optar pela direção errada, e pôr um fim precoce em nós dois. Gosto de cada desejo satisfeito, de cada limite rompido, de cada cesto preenchido.
Lembro das tardes que passamos juntos, dos planos que fizemos, das ocasiões que criamos e de cada lugar que visitamos. E agora você se despede, e me deixa com tudo o que passou. Não é fácil, nem ao menos posso afirmar que é certo. Talvez seja um desses golpes desonestos que servem para destruir as expectativas de eternidade, que em vão buscamos criar. Essa despedida ganha força a cada novo dia, e hoje percebo que não há o que fazer, nem nada a dizer. Concluo a cada passar das horas que estou perdendo você. Não escape assim tão rápido, não me deixe assim tão só, entenda o que para mim é fácil sentir: que ao seu lado estou bem melhor. Lembro-me de ter lhe encontrado em meio às festas, brindes e comemorações. O dia da despedida, porém, acontece esquecido e despercebido numa folha que vai virar. O seu nome mudará, e mesmo que mude será sempre você. Já que não posso mais fazer nada, não quero perder esses últimos minutos contigo, despeço-me de você mês de janeiro, aguardando fevereiro, meu próximo amigo.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

UMA SOMBRA NO ESCURO

Ninguém aguenta por muito tempo ver um espelho sem reflexo. É necessária uma procura que resulte em boas expectativas, e ações distributivas, num som que volte em forma de eco. Um eco que corresponde, contudo a própria vontade. Não apenas um ruído reproduzido, mas talvez devolvido sob outra forma, na mesma intenção. Vejo que a solicitude, essa louca que tanto me completa, está faltando como um artigo supérfluo em tempo de guerra. É como se a escada tivesse perdido todos os seus degraus, e mesmo assim eu continuasse a subir, iludido pela sensação de estar chegando ao topo. E lá em cima quem me espera? O salvador, com sua mão estendida para perdoar. Perdoar? Que necessidade há de perdão? O perdão sempre é precedido pela acusação, então vejo sua mão me acusar, me enumerar como uma estatística que contabiliza erros e fracassos. Não consegui subir a escadaria, não consegui deixar nada em ordem, não lavei a louça, e quando a deixei lavada, faltou seca-la. Não cuidei do jardim como deveria, não zelei pela casa o quanto podia. Fui reduzido a um plano que não deu certo.
Tanto esforço desperdiçado, em tentativas frustradas de redenção. Redenção de que pecado? Talvez o pecado de ser diferente. O pecado de pensar e agir de uma maneira incompreensível. Culpado por gestos que não são comuns, e expressões que não querem dizer o que estou pensando. Como posso ser culpado pelo meu rosto que tem vida própria? Como posso controlar meu olhar, que livre como o próprio pensamento, busca a cada momento uma forma diferente de se apresentar? Sinto-me fracassado como entregador de felicidade. Sinto-me fracassado como construtor. Sou arquiteto de planos. Escrevo sobre dias, amores, paixões, vida, morte, tristeza, sorriso. Não consigo contudo, obter de minha teoria uma experiência prática e precisa. Sou orador de uma platéia vazia. Derrubo árvores que nunca ninguém viu, e construo florestas que nascem secar, por eu não saber como pintar as árvores e suas folhas. Cada dia procuro o lugar de onde caí, o mundo de onde vim, o caminho que unicamente eu posso seguir. Como é difícil dar a mão quando a tempestade derruba seus raios e faz com que a energia descarregada percorra nossos corpos, afastando as tentativas de aproximação. Não me mande para longe. Não peça para deixar você em paz. Tento me aproximar, tento conversar, mas encontro espinhos que me afastam. Não me lembro exatamente quando foi que passei a irritá-la com meu jeito. Tudo que faço parece que ganha outra conotação, tudo o que penso está preso ao passado e implora uma renovação. Sou o mesmo menino solto em pensamentos lendários, e mitos construídos numa esperança que está vendo todos diante de si morrerem, e ela percebe que está ficando só. Todos sabem o que acontece quando ela for a última. Nem a própria escapará. Não sei por onde começar, não sei qual a pontuação devo usar para essa frase. Não sei quantos parágrafos escreverei sobre o monólogo que virou meu coração. Entenda, eu não estou reclamando, entenda que estou apenas aflito. Quero entregar meu espírito, quero entregar meu corpo. Diga-me, quem estará lá para receber?


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PASSOU

Eu aprendi que as coisas sempre aparecem tarde demais. Nunca estou afinado com o tempo e o espaço. Sempre um desses dois jovens me ultrapassa, para não dizer me atropela, e me deixa na contramão das expectativas mais absurdas e ao mesmo tempo verdadeiras. Fico no acostamento, pedindo carona, vendo as luzes de faróis que apenas iluminam a estrada que passou. Quando consigo a carona, grito alto para parar, pois quero ficar aqui. Não importa se meus olhos não conseguem enxergar longe, quando olham as campinas úmidas pelo orvalho da noite, não importa se os uivos são apenas impressões que criei, baseadas nas fantasias de criança, isso não importa! Não diga que não é tarde, sempre é e sempre será. Sempre encontrei algo que desisti há muito de procurar. Sempre cheguei atrasado quando todos já tinham partido, sempre construí a ferrovia quando o trem já havia sido abandonado. A pintura derreteu, e o quadro ficou borrado. A tinta cintilante da natureza viva, se perdeu em tons foscos e difíceis de ver, e as telas vestidas de sutileza ficaram nuas em vergonha e pecado. O mundo colorido foi transformado numa esfera bicolor. Isso já faz muito tempo, e minhas horas ficaram confusas numa contagem sem impressão para ser. E pensar que eu tinha tantas dúvidas quando era criança! Queria saber o gosto do beijo, o valor do gesto, o preço das escolhas, a dimensão do Universo, a temperatura de um abraço, o real do inverso. Queria ver as estrelas, queria morar nas estrelas, queria sentir o carinho de um amigo, queria sonhar que estava voando, e saber qual a sensação de tirar os pés do chão. Hoje? Simplesmente trago comigo a decepção de perguntas jogadas ao vento como a sacolinha da Beleza Americana. Em dias de verão meu espírito queria frio, em dias frios queria o sol quente, e assim eu aprendi que nunca sabemos exatamente o que queremos. Quando começamos a admirar as flores da primavera, as folhas secas já inundam nosso jardim, e maldizemos a necessidade de removê-las. Pisando nessas mesmas filhas foi que descobri o som das rosas mortas. O que o sorriso traz, normalmente é um prenúncio das inquietações que virão. Até hoje não sei como é ver as estrelas, não sei o valor que tem uma mão, não sei quanto custa o caminho que optei. Não sei, Não sei, Não sei. Aí você me olha e diz que nunca é tarde demais, e que o tempo é o senhor da glória. Guarde suas palavras doces, não quero atrair as formigas da inveja que andam pela casa procurando uma refeição para se fartar. Quero abastecer minha imaginação, quero fazer letra viva de canções mortas. Quero fazer tela viva de uma vida que perde seu compasso, como um coração desacelerado.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

SINTA O QUE O MUNDO PODE LHE DAR

Acordei, com minha alma saciada por uma noite bem dormida. Sentindo o corpo regenerado, e coberto com as marcas dos lençóis. Olhos fechados sob o peso da necessidade e da escuridão de um quarto, que me presenteou com seu cuidado. Os sonhos assumiram o papel dos Reis Magos em viagem a Belém, e me visitaram como há muito tempo não faziam. Entregaram-me seus agrados, tentando talvez retribuir as noites que fugiram desgovernados, abandonando à própria sorte seu filho, que escolheram por bem deixar órfão. Senti que a atmosfera se fez gélida para brindar meu corpo quente, e com seu choque térmico permitir um deleite único, e um a conversa profunda com Morfeu. Sei que a vida espera sempre ansiosa, pela manhã que renova nossos horizontes. Só não tinha certeza de que ela estaria ali, na esquina de meus braços, esperando. Para minha surpresa a encontrei outra vez, calma e serena, como a deixei. A impressão que tive, é que ela sequer esboçado algum movimento. Não esperei pelo acaso incerto do destino inesperado, e rapidamente peguei em sua mão e comecei mais um dia de meus dias.
Quando olho para trás, (com o olho literal ou simbólico, não importa) penso em tudo que passou, vejo como são caudalosas as lembranças, e como se enquadram num contexto impossível de reviver, e improvável de relembrar, já que com o tempo, nossa memória se acostuma a nos pregar algumas peças. Quando tento saber para onde irei, percebo que não sei o destino, e para falar a verdade, nem faria questão de saber. A dúvida do meu próximo minuto me faz entender que pouco tempo me resta, por isso não posso desperdiçá-lo com coisas que não me interessam, valorizo então, muito bem os passos que agora me conduzem. São eles a única certeza que brinda minha taça de expectativas de um novo caminho.
Entendi que o que chamamos de vida, nada mais é do que uma sucessão de fatos e impressões vividas. Experiências, sensíveis ou não, nos fazem acreditar no continuísmo que nos apetece. Os sentimentos, felicidade e tristeza, por exemplo, tidos como verdadeiros, são apenas focos isolados de um mundo complexo. O que nos fará concluir se fomos felizes ou não, será justamente a continuidade e a periodicidade com que esses focos aconteceram. Comparo isso que estou dizendo, com aquela brincadeira infantil, de pegar um bloco de papel, e fazer um desenho com posições semelhantes em cada folha, depois, passa-las todas de uma vez, só para ver a imagem desenhada se movendo (alguns como Walt Disney até ganharam dinheiro com isso!). A imagem na verdade não se move, não há movimento num desenho estático, mas a sucessão de imagens semelhantes nos dá a idéia de mobilidade. Vejo nossos momentos dessa forma. Aparentemente independentes, sozinhos, mas que unidos a outros instantes nos dão a nítida impressão seqüencial. Não há tristeza ou beleza no desenho. Existe em nós a pré-disposição de efeito. O fato em si não é provido de sentido ou sentimento. Somos nós que imprimimos nas coisas a força que elas têm. Isso dá margem para um raciocínio longínquo e conturbado, e não estou disposto a desenvolve-lo. Não quero ser iconoclasta. Estou disposto a ser Aleijadinho, e construir santos, ou pelo menos mantê-los na cabeça de quem os tem.
Hoje estou meio pragmático, menos analítico, e talvez até superficial. Não quero saber a origem das coisas, não quero entender seus reflexos e suas conseqüências, quero apenas sentir o que é bom. Procurando a resposta para as coisas, percebi que me perdi em novas perguntas. Duvidei de tudo que vi, ouvi e senti, não percebendo que a dúvida estava me trazendo uma angústia indubitável. Descartes que me perdoe, mas as vezes acreditar faz bem, e não colocar tudo num plano cartesiano pode até ser satisfatório. Para que perder tanto tempo em falácias que mais parecem discursos de sofistas embriagados? Talvez na simplicidade das coisas diárias é que encontramos a resposta para aquilo que não ousamos questionar. Temos medo da simplicidade, como se com ela viesse abraçada a ignorância. Será necessário sofrer para ganhar ou constatar inteligência? Será necessário refletir para provar a própria existência? O que afinal estamos buscando nessa labuta diária? Hoje eu não sei, e afirmo que não me interessa saber. Sei que vivo, sei que escrevo, sei que amo. Qualquer um que ousar demonstrar numa tentativa simples que seja, que estou errado, será escorraçado, como Tieta fora por Jorge Amado em 1977, com uma diferença: Não poderá desfrutar do retorno triunfal. Não poderá dar o troco a Zé Esteves. Aliás, Zé Esteves se manifestará em todos aqueles que julgarem meus pensamentos como liberais e insanos demais. Como cantou Raúl: “Eu quero mesmo é cantar yê yê yê, eu quero mesmo é gostar de você, eu quero mesmo é falar de amor, eu quero mesmo é sentir seu calor”. E mais adiante ele continua dizendo “Eu quero mesmo é rimar amor com dor” É isso que hoje quero para mim. Uma experiência única de que a vida pode ser vivida apenas sentindo o vento soprar sobre meu corpo, trazendo o frescor das manhãs ensolaradas que se encontram aqui, ou no paraíso, que aguarda aqueles que foram simplistas o bastante para apenas acreditar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

SINAIS DOS TEMPOS

E o vermelho sombrio em gotas, respingou no céu,
Tornou-me transparente ao olho cego da verdade
A abelha rainha voou e não me trouxe o mel,
Trouxe-me a luz fosca que brilha na cidade.

Quando percebi em leito que o vermelho apareceu,
Pude sonhar refeito e repleto com minha comida,
Procurei saber se apenas vendo, você entendeu,
Um pouco do tempo, que passou da minha vida.

Em verdes tons que pingam eu corro para salvar,
Esta pele suja e vestida, de um pobre sonhador,
Antes eu insisti com mãos e braços para demonstrar
Que sou seu servo de gleba e você é meu senhor.

Em pé, aguardo a sentença de quem está sentado
Procuro livrar meus olhos do fogo que levantei,
Peço silencioso o peso de alguns trocados
Notas falsas e moedas de uma verdade que criei

A janela disse não, e continuei caminhando
Enquanto o sangue no céu permitia andar.
Não vivi a realidade, continuei sonhando,
Com um vermelho longo para poder ganhar

Do fogo queimando, fiz forno para meu pão,
Com a água da garrafa eu pude acender,
As labaredas de vida que se jogam no vão
Da vala que foi aberta para eu poder morrer.

E a sociedade segue desgovernada e aflita
Buscando a solução para que ela esqueça
Depois faz celebrações com champanhe e fita
Enquanto torce sincera para que eu desapareça.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O VENENO DO AMOR

Serpente brilhante, formosa do Éden.
Fizeste um mar de histórias no jardim,
Fostes confundida com o pecado,
e agora recheado, o trazes para mim.

Adão fraco homem, não pôde suportar,
Eva em deleite de identidade se desfez,
Se não pudesses aqui no paraíso morar,
tentarias tua casa no próximo mês.

Magia, lascívia e maldade sei que tens,
Nestas mãos roubadas, que não são tuas,
Arrancas com a boca a puberdade do além
Deitando-te louca com garotas nuas,

Em cada verso trazes uma lança,
em cada gesto carregas uma canção,
Serpente perdida num olhar de criança,
garras roídas, ao invés de coração.

Nas frases soltas e sem nexo carregas
uma adaga lisa fora de sua bainha,
Nas idas e voltas há sempre quem negue,
uma paixão violenta que já foi minha,

Apenas no rastejo sorrateiro entendo,
A forma ampla e completa do teu passo,
Pegaste o andar ligeiro, antes gemendo,
Que hoje implora satisfeito pelo teu abraço.

Sei que por ti, figura pecadora,
Muitos pularam da ponte ao abismo,
Deixaram a própria alma sonhadora,
Lançando-se no purgatório, indecisos.

Perseguindo em vão teus tesouros,
Um pirata esquecido perdeu a embarcação
Não lutava por prata, diamante ou ouro,
Apenas implorava pelo toque simples de tuas mãos.

Jogaste quieta, assustada com o pecado
Usando de discrição e suprema maestria,
Transformaste em aceito o poeta renegado,
Em água quente, a piscina de lágrima fria.

Agora rastejas implorando pelo pouco
Aceitas quieta as migalhas que te dão,
Da voz aguda e afinada fiz-me rouco,
Perdi meus versos em poemas na imensidão.

Hoje sei mais do que nunca, que posso ver,
O futuro rejeitado, assim me reserva
Nunca serei homem para conhecer
Um amor de serpente no corpo de Eva.

AQUI JAZ UMA ALMA TOLA!

Nem o sol, nem a chuva, apenas nuvens se desenrolam pelo céu.
Incertezas, angústias, lamúrias, bagagens que caíram do vagão.
Nessa janela aberta do quarto de dormir pode-se sentir o véu,
Que cobre famílias sob o cinza, e transforma o dia em escuridão.

Pouco resta para o mochileiro solitário, o desbravador itinerante.
O semeador do campo viu que a seca viria e plantou outras sementes,
Colhe agora os frutos rebeldes da escolha que ousou fazer exultante,
Prova dos frutos secos, nascidos de árvores que não tiveram vertentes.

Tranqüilo, quieto e ofegante, se deleita diante do sol abrasador,
Busca os motivos loucos que provem ou justifiquem sua insensatez.
Quarto claro, quarto escuro, quarto crescente num vazio calor
A lua se encheu de loucura e num banho fino se desfez.

Na cadência que o tempo toma, logo haverá de desaparecer,
Lembra-se do mais antigo desejo, e anuncia em pé seu desprezo,
Pelos amores que sentiu, viu, e outros que evitou conhecer.
Tornou-se um questionador do espírito, de sua massa e do seu peso.

Nessa galeria fúnebre de lembranças tolas, seu mestre se fez coveiro,
Guardou as magníficas histórias, veias abertas de um passado recente,
Entregou a pá, o balde, o concreto, e deitado, enterrou vivo seu braseiro
Espera que a eternidade, nele guarde sua voz e seu espírito alimente.

domingo, 11 de janeiro de 2009

NÃO SOU, ESTOU ASSIM!

Acalme-se, não estou trazendo as boas novas da salvação, minha cesta está cheia de carvões que, já foram chama, mas hoje aguardam um novo fogo abrasador.Não quero que me sigam aqueles que professam o amor. Hoje é um dia daqueles que simplesmente não é possível crer que algo bom possa parecer real. A boca, após sorrir, volta rapidamente ao normal, os olhos, porém, após as lágrimas, permanecem inchados, deixando junto consigo a lembrança de que o choro deixa marcas mais constantes e profundas do que o riso. Não quero que me sigam aqueles que acreditam que um dia poderão soltar livremente suas gargalhadas por um momento que consideram eterno, julgando que nunca mais seus olhos serão palco para o espetáculo de gotas salgadas vertidas, sob o olhar atento da sua própria angústia. Não quero ser cúmplice de uma desilusão inevitável: a constatação de que a dor acompanha toda alma! Vivendo intensamente ou não, a verdade é que as surpresas nunca estão em caixas bonitas de chocolates, mas em armadilhas postas por situações inesperadas. Acreditei que era possível acordar numa manhã fria e dar bom dia ao mundo, com meu corpo entregue à compensação, por tantas horas de tristezas, o que recebi porém, foram agulhadas e alfinetadas. Em cada momento livre de pretensões, onde busquei apenas um consolo para a aflição descabida, a única coisa que senti foram as agulhas perfurando meu corpo, tocando o meu espírito, trazendo dor e me fazendo acreditar que é possível a relação entre a idéia e matéria.Alfinetes lançados como flechas, pelas palavras, olhares, gestos e instantes. Tornei-me um alvo absurdo para aquilo que eu mesmo cultivei. Não procure marcas de disposição em mim, não procure sequer um brilho em meu olhar. As janelas da alma estão fechadas, e custa saber quando elas abrirão outra vez. Pode parecer um momento insano de alguém que precisa escrever, eu digo que isso é desabafo, isso é desconforto, isso é o que nem mesmo sei dizer. Queria ser um dicionário, repleto de palavras que pudesse usar, assim talvez encontraria a expressão que qualifica corretamente meu estado de espírito. Um estado de inanição talvez. Quando a dor se dá forte, nos sentimos anestesiados, e assistimos alheios ao mundo passando em vão. Há quem diga que isso é besteira ou até mesmo um exagero. Quem pensa assim, contudo, nunca experimentou o que estou sentindo. Então se cale diante da ignorância sentimental e deixe esse escultor de ocasiões cultivar seu lado obscuro, incerto, e que tanto desespero traz. É como uma febre que não passa, como uma espera que nunca chega, é como olhar seu próprio estômago digerindo sua comida, é ver seu coração batendo com a força de outras mãos. Caso alguma promessa de sossego houvesse, eu a buscaria, certo de que para isso precisaria usar o resto das forças que ainda sobram. Mas acreditar que é possível remediar a alma, é uma das mentiras mais sórdidas que os homens inventaram. Tento solucionar escrevendo, tento contar para mim mesmo o que sinto, mas a cada espaço das palavras, percebo que sou incompetente na simples tentativa de me entender. Sou complexo, sistemático e preso em teorias, que hoje formam uma teia difícil de arrebentar. Esperei demais das circunstâncias. Criei uma história pronta em minha cabeça e esqueci de contar para as personagens como isso se daria. Criei os sonhos, que acabaram se tornando o primeiro passo para a decepção, e o primeiro capítulo do pesadelo. Em pensamentos falsos, quis que todos fossem um pouco de mim, assim talvez eu sentiria que o mundo também é meu. Leio textos em frases vazias, e falo sozinho para multidões. Sinto-me estranho, abandonado, e poderia agradecer com todo o entusiasmo, que por hora me falta, um simples pensamento que trouxesse a cura para a doença da alma. Quero um abraço forte, me dizendo que não há nada para temer. Quero um herói que entre em meu quarto e mate os monstros que eu criei, mas que me assombram como se fossem outras invenções. Minha cabeça dói, e tenho a sensação de que ela vai explodir. Com suas idéias, com suas crenças, com suas suposições que são verdadeiras matérias da desavença. Hoje é o dia em que uma forte dor no peito me domina, e não sinto nem vontade de respirar. Chorei por frases inconvenientes, tão consistentes como a linha do tempo, e me senti sozinho. Solitário caminho, enquanto ando, tiro meu coração com as próprias mãos para tentar ver onde está o problema. Como não o constato, prossigo caminhando, como não me acalmo, sigo buscando encontrar o sinal da dor. Não me encontrei, e me fiz criança mimada. Como é ruim não ser entendido nas coisas mais simples da vida!

sábado, 10 de janeiro de 2009

O BANQUETE ESTÁ SERVIDO. COMEI, ISSO É O MEU CORPO!

Eis o lixo podre despejado dos nobres salões, com seus castiçais acesos, e suas lareiras queimando os corpos dos mendigos desajustados. Conversas raras, oportunidades únicas e um aspecto tão atrativos quanto uma pilha de ossos quebrados. Nas festas carnais, entregues às delícias que boas moedas puderam comprar, festejaram os ignorantes seus caminhos enfadonhos e suas amizades insuportáveis. Desprezaram os sonhos daqueles que julgaram não tão confiáveis, acreditando na inteligência que a intelectualidade pode ofuscar. Suas leituras foram manchetes, e seus livros os indicados por alguém. Sua astúcia consiste em reproduzir os padrões normativos da cultura assumida como verdadeira. Colhem as uvas já passadas, e tomam as garrafas já vencidas, como se fosse um belo testemunho de vida o fato de refletir sobre o passado de ninguém. Seus corpos estarão para sempre conservados, pois nem mesmo os abutres se interessarão pelo banquete posto à mesa. Corpos que servem apenas de invólucro para veias, músculos e carne podres, que jamais amaram, que jamais sonharam, e se perderam em teorias relativamente interessantes. Digo relativamente, pois quem garante que animais silvestres também não se interessam pelo último filme do mês? Conversas tidas como importantes, com ilustres personalidades distantes. Cada um querendo provar que foi mais longe, cada pecador vestindo o caráter de um monge. Erguem seus copos, com uma veneração divina para o além, invocado o mais novo problema, e prometendo dessa vez salvar alguém. Brindes que ressoam no inferno, compartilhado por demônios, seus verdadeiros anjos da guarda. Guarda sua vida dos caminhos meus, e coloque numa caixa dourada tudo o que puder levar. São falsos amores feitos de carteiras novas, falsos valores que não conseguiriam passar sequer por uma prova. Baseados na vida real de um sonho que está durando. E quando forem embora os carros, as bebidas, as taças, se perguntarão o que estavam procurando. Procurando a salvação para a própria consciência, que traz como acusação um crime de indecência. Anular a própria vida, anular a própria solicitude, buscar as moedas de prata moída, esquecer os caminhos serenos da virtude. Seus cérebros foram programados pela falsa moral, e sua boca não provou da lágrima e nem de seu sal. Estão distante das mortes, distantes das brigas e distantes de tudo que possa mostrar nosso mundo em seu estado real. A distância não foi criada por circunstâncias verdadeiras, mas estimada na falsa idéia das benesses passageiras. E o passageiro anda, o passageiro não pára. Fecha seus vidros numa oportunidade rara, de negar o consolo para quem à própria vida repara.
Fiquem os infames com seus tesouros, e regurgitem para fora a fúria ressuscitada do seu ouro. Enquanto nós da cabeça cheia e bolsos vazios procuraremos em um mundo imaginário, a salvação para as almas do mundo, iludidos pelos livros, que são nosso refúgio para fugir do frio e nosso barco nesse mar profundo.


QUEM PUDER, ENTENDA!

Pisei em cacos de vidro e não senti dor. O que vi, foi o resto de garrafas que um dia deram de beber a alguém, e hoje são apenas cacos de vida que jamais serão uma vida inteira. Pedaços de um sonho que o sono não foi capaz de ter, restos de uma mensagem que meu coração não soube por onde começar a ler. Essas letras cifradas, melhor que fossem enterradas, já que é para todos serem enganados e descobrir que estão presos, em seus peitos confinados. Confesso que ainda sinto o gosto do gargalo em que tomei meu porre. Meu estômago sofre as duras penas da condenação etílica. Não era o álcool da cana que me rendia como réu confesso, mas o álcool do amor, esse inimigo que despeço. Essa bebida milenar, amedrontadora, contra a qual não existe punição e nem força controladora. Jogou-me em sua arena, e me fez Gladiador vencido. Ele, o guerreiro destemido, abriu os braços para perdoar, implorando que eu ficasse de joelhos para que pudesse vigiar. Ele entorpeceu meus sentidos, e me deixou desprovido de razão. Eu sendo homem, virei menino, eu sendo monstro, gigante para vida, por ele virei anão.
Agora vai longe o peregrino, vai com os anjos, vai destituído de paz. Não se fez homem assassino, mas quem por ele se calar, com certeza falará mais. Eu me fiz idiota madrugada adentro, quando todos dormiam cultuando seu descanso, recortei o tempo e tornei meu corpo manso. Lamentando os exageros de um dia fadigado e lembrando o tempo que festejava, por meu coração ter sido roubado. Os avisos rondavam minha vida. Mas do bolo dessa alma querida, eu queria apenas um pedaço. Não me fiz ouvidos, não dei atenção, e agora eu choro diante da idéia de ter podido evitar o choro. Não bastou que o céu escrevesse um pergaminho para mim. Não foi suficiente as penas que caíram dos arcanjos celestiais. Mesmo assim eu pisei nos cacos de vidro! Em cada gota derramada do meu sangue, eu vi a terra ganhar cor. Seus grãos, antes soltos, viraram lama com minha vida despejada sobre sua superfície. Quando pensei que sabia caminhar, não imaginava um dia entender essa pura emoção. Era criança com meus discos de ninar, e me fiz adulto para pegar em sua mão. Fiz escola de letras que já foram escritas, e corri a maratona para lugar nenhum. Assim foi que me fiz pedra polida, assim foi que vi meu espírito despertar do seu jejum.
Como posso entender esse descaso pelo sangue derramado! Tantos sentimentos soltos em feridas abertas e um coração cicatrizado. Bem que tentei andar sozinho, mas o sino da igreja tocou, exigindo uma companhia para assistir a missa. Busquei a companheira para o acorde celestial. E ardi uma noite inteira nas labaredas acesas pela chama infernal.
Não queiram entender o que de mim saiu. São apenas folhas secas daquela árvore que caiu. Não serve para plantar, não serve para viver, só serve para sonhar e para algum louco ler.


sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

REENCONTRO

Silêncio envolveu o ar. Por um momento tudo o que passou pôde voltar. É como se os anjos, em perfeita adoração e reverência, silenciassem suas trombetas e se curvassem diante do senhor. As mãos tremeram, quando informadas sobre a aproximação. A fala, que ainda não saia, gaguejou diante da presente veneração. Nada pedia, nada se fazia, mas num espírito verdadeiro e bem certo era sabido, que aquele momento, como tantos outros seria eternamente lembrado, jamais esquecido. Letras, melodias, histórias, pessoas, caminhos, lembranças e memórias estavam soltas no ar. Eram plumas que passeiam embaladas pelo vento, levadas de um lado para o outro, envoltas por um tom de mistério, e misturadas com outras tantas coisas para contar. Fez-se amigo o tempo, e duvidou-se que ele pudesse passar. De cada rosa aberta se fez jardim, de cada degrau colocado, uma escadaria se ergueu, de cada orquídea plantada um presente sem fim, nas altas horas da madrugada, o cenário que o dia elegeu. E dum aperto forte de braços abertos, se construiu toda a mágica criatura desses campos descobertos. Em cadeiras que ficam na frente de casas, as comadres sentaram para costurar as roupas da realeza em saudação. Traçaram ali seu mundo, entoado numa letra de outro lugar. Uma língua impossível de entender, num dialeto obscuro, impossível de falar. E a saudade dói! Promessas são feitas, pactos são selados, e procuram desgovernadas almas para marcar. Ferro quente feriu o corpo delinqüente, o corpo juvenil. Fez-se prisão em laços abertos, se fez um jogo errado num tabuleiro certo. E os prêmios foram carregados para sempre. Amores ditos sem culpa, ausência enganada por desculpas.
Nessas horas em que a febre não passa, apenas o juízo encontra espaço para descansar. Distancia-se cada vez mais a hora de dizer adeus. Não há vontade suficiente para atravessar a rua, talvez marquem outro encontro para as duas, mas o posto está fechado, os cigarros acabaram e a cerveja foi cuspida, desperdiçada e tomada, num desejo de brincar.
Hoje o dia só traz os presentes tocados sob um mesmo som. Ali se constrói o futuro, e se percebe que o mundo é uma verdade do avesso, e não importa quantos exemplos se tem na coleção de endereços, sempre haverá lembrança para aquilo que foi bom. A justiça livre e antiquada, ardente se faz carta marcada, para seu momento de coroação. Quem é justo, senão a próprio amor distante? Que espera querendo, e não relutante, o momento de se aproximar outra vez.

CANETAS MÁGICAS

Abra seu coração, cada vez que as palavras não couberem mais. Faça do papel, amigo confidente, e nele deposite tudo aquilo que está guardado. As folhas brancas são sementes que aguardam as letras que as farão germinar. Podem se tornar árvores frondosas, frutíferas, ou até mesmo choronas, mas elas voltarão a exercer o papel que exerciam em seu estado natural: encantar os olhos dos atônitos observadores, e preencher a alma com alguns outros valores.
Não acredite que seus sentimentos são verdadeiros, eles quase nunca são. A incerteza, contudo, não deve impedi-lo de escrever o que sente. Veja-os como verdades passageiras, prontas para uma observação. O amor sobe e desce ladeiras, empurrado pelo motor fresco da paixão. Caso seja a vergonha, essa ridícula desprezada, que está lhe fazendo parar, olhe fielmente nos olhos dessa rameira, e acelere seus versos, que não precisarão de estética, rima, molde ou estilo, atropele aquela que quer lhe calar, e olhe para seu cadáver sem vela, sem caixão e sem ninguém para velar. Sua poesia o absolverá, e com toda a clareza e certeza, saberá que são versos de alma, versos de corpo, que não tem nada do que o classicismo tolo exige. Seu coração não é uma escola de poetas, e sua poesia não pode ter um aspecto que se distancia do que você quer. Muitos tentaram prender sentimentos em regras de concordância, deixaram nas grades dos métodos toda a inspiração genuína, que foi trocada por alguns centavos de rimas e quartetos com dez ou doze sílabas poéticas.
Conheça os pratos sortidos desse restaurante de impressões. Saiba a propriedade de cada comida, lembre-se, contudo, de fazer as combinações. Pratos prontos, são bons para executivos cansados da correria do dia-a-dia. Jovens com o espírito latente, devem ter a oportunidade de escolher como fazer sua refeição. Às vezes ela vem como esse prato que está diante de você. Aparentemente sem sentido, mas com uma vontade louca de transcender. Ir além do infinito das próprias palavras, criar uma imensidão nesse universo imensurável. Viajar em cada possibilidade apresentada por um momento, e explorar curioso onde se encontra calor no inverno. Em todo o deserto se encontra água. A vitória, ou não, sobre a empreitada, está acompanhado da intensidade do desejo de cavar, às vezes muito fundo, para encontrar as vertentes geladas, águas límpidas e sonhadas, e acima de tudo, vitais para a sobrevivência. Saiba que todos precisam dos sentimentos, todos precisam extravasar essa pressão contra o peito. O problema é que nem todos sentem coragem para fazê-lo. Aí morrem almas tristes, aí morrem poetas mudos, não deixaram sua impressão de vida, privaram a vida da sua impressão de mundo. O que você sente, não lhe pertence, pertence à humanidade. Faça a humanidade então saber, o caminho para seu próprio coração. Umedecido pelo orvalho fresco, plantado em solo fértil e aguardando a colheita por mãos preparadas, para que possa na longa jornada fazer acontecer. Grite ao mundo o que sente, grite aos outros sua memória, e se alguém ri do que fala, não se preocupe, não há lugar para ele nessa glória.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SEM MEDO

Que belo mistério se apresenta com medo do arrependimento,
De caminhos duros, trilhas tortas de pedras certas.
Como a justa causa das palavras que se tornam seu lamento,
Atormentando os meses, os anos, sempre de olhos abertos.

A negativa do instante trouxe uma mágica dúvida sobre o doce,
Transformou-se num acorde leve, da melodia que a própria alma descreve.
Guarde seus segredos, verdadeiros focos que a paixão me trouxe,
Caso queira me matar, demore muito, não seja breve.

Demonstre seus abraços e beijos, verdadeiros caminhos da perdição.
Faça com que seus pés, essas lindas plantas coloridas,
Busquem em minha estrada, livre ou presa, os tons da perfeição,
Saberá então que pode depositar em mim a sua vida.

Não se preocupe com quem você conhece ou vai conhecer,
Escreva seu nome no céu, componha comigo uma lenda
O mundo se resume no único instante, que concordamos viver,
O Passado fica na memória viva de quem relembra.

Encoste seu sorriso em meus planos de vida
Abra seus lábios para que eu possa beijá-la,
Caso não possa me deixe só, alma esquecida,
Feche seus lábios depois, para não correr o risco de amá-la.

Veja o milagre do momento, onde só a mágica desperta,
Faça da sua rua o sentimento, e do seu amor meu ponto fraco.
Seja a água para a boca sedenta, numa rua lotada de alma deserta.
Não seja o medo, fonte das ondas que querem afundar o barco,

Não existem tempestades que possam trazer medo ao mar,
Na imensidão de seus mistérios você se provou infinita,
Nos tambores sonoros das músicas que criamos,
Percebi que não se pede com a boca o que o peito grita,
Nos ventos soltos do amor fiz de você oceano.
E amei você durante o dia inteiro, durante as horas mais bonitas.

DORME AGORA, É SÓ O VENTO LÁ FORA

Eu queria vê-la dormir, apenas para acordá-la com um beijo,
O ar de meus pulmões cansados se precipitaram e tomaram o primeiro lugar.
Abriram-se as janelas do sono, e injustamente mostraram o acordar. Em palavras significantes que ouvi na noite densa, você me fez voltar para o lugar que eu estava abandonando.
Fiz-me jangadeiro num rio de margens distantes e pescador nas águas que rolavam de um romance, apenas para conduzir seu sono.
Fiz-me estampido seco do tiro aguerrido, e o grito alvoroçado do silêncio rompido. Não pude proteger, e peço desculpas por acordar.
Briguei com Morfeu, que me baniu do seu reino, com a fúria dos touros de Pamplona. Lembrei-me de Romeu, que por causa do amor à Julieta, teve que fugir, e guardar nos olhos sua Verona.
E agora que a noite ganhou um sol, sei que presenteio os pássaros do sono, que vagueiam no arrebol. Levarão para você o presente que eu não gostaria de dar. Anteciparão a vontade de dormir, para a hora que você não puder sonhar.
Ingratos amigos da noite só! Pratos e copos eu deixei, mas eles não me abandonaram, em meu estômago estragaram a boa noite que planejei! Gemendo calado, aguardo o as letras de um coração visceral.
Fosse a noite apenas minha, eu poderia fazer silêncio, discreto e coberto de clemência. Não posso, entretanto ficar quieto apenas, quando você também saiu de suas serenas e anulou aquilo que traz em essência.
Fechar seus olhos agora não posso,
A noite perdida quero devolver.
Em beijos doces e abraços fortes ofereço
Aquilo que conquistou em eterno
E trouxe ao mesmo endereço,
Um carinho simples de alguém que seus sonhos, deseja percorrer.

ISSO É LOUCO!

Finjo que não ligo para seu corpo solitário;
Quando o que eu mais queria era dividir sua dor,
Entregar para o mundo as lágrimas presas num aquário,
Sair em busca daquilo que poderia me dar calor.
Brinco com os jogos que eu mesmo criei,
Disparo balas de borracha contra o peito aberto.
Inutilmente tento respeitar aquilo que figura como lei,
Sem saber se estou agindo errado ou se estou errando certo.
Se descobrisse o preço que se paga pela solidão,
Eu saberia dizer há quantas horas me despedi,
Mas sem rumo certo, errei o caminho e a direção,
Você partiu prevenida e me deixou aqui.
Quisera eu ser dono do paiol da casa real,
Buscar as jóias raras para poder recordar,
Que não se acende o bem com a chama do mal,
Que não se fará verdade aquele que veio para enganar.
Continuo a encenação desse lance certeiro,
Interpretanto um homem livre e seguro,
Quando nessa vida, me fiz apenas seu carteiro,
Para o amor perdido, tenso, cego e surdo.

domingo, 4 de janeiro de 2009

ARTÉRIAS & VEIAS

Vejo uma cor que me encanta em deleite paixão.
É o tom da ternura, coberto com a fúria seca da ilusão
Num corpo novo, de pele dourada e cabelos lisos.
Ainda consigo sentir o ar soturno me despindo do juízo.

Suas mãos livres tocaram apenas o que eu pude notar.
Sua boca rosa se fez colorida, em cores que quero imaginar,
Mas não posso me deitar, sem antes dar adeus ao sonho
De uma falsa vertigem dentro da altura infinita que proponho.

Saltar, parece loucura. Pode até ser intenso, mas é louco.
Resta-me gritar à pele crua. Grito vazio a plenos pulmões, rouco.
Despi-la ainda quero, mesmo que seja apenas para ver,
Um olhar sincero, que surge mesmo quando erro, perto de você.

Quero ver a marca que o açúcar deixou em curvas.
Um doce encanto, mostrado branco, em meio a pele turva.
Suaviza a força, que explodiu em mantras sagrados,
Eterniza a escada, na busca da rota do céu estrelado.

E as alegorias de uma febre em pele de sabor,
Me dizem o quanto meu corpo ainda precisa de calor.
Eu posso nas passagens de uma paisagem sem lar
Buscar o balde, achar o poço, desenrolar a corda para sua sede matar.

ENTREGO-ME

Com seus lances e olhares, fiz relâmpagos e raios,
Afoguei a tempestade nua, nesse corpo infernal.
Não sei se em fevereiro, março, abril ou maio
Eu escolhi a festa, tida como baile de carnaval.

Pedi pelos profetas, que evitaram a companhia,
Perguntei se voltariam ou tentariam aparecer.
Soube que seu suor ardente já pingou gotas frias
Limpando o corpo moribundo antes de morrer.

De um medo descabido, trago a dura sorte,
De ser esquecido, e ficar aberto na planta serena,
Enviado num escândalo que remete a morte,

Dos brados grandiosos de uma alma pequena.
Se faz agora um guardião, arauto de milagres
Que deixa tudo em lembranças e parte para viagem.

DESCULPE, TARDE DEMAIS!

O mundo vai acabar e eu bem sei.
Não poderei salvar e nem tentei.
Agora fecho os olhos e espero o ruir,
da terra se abrindo, e o mundo engolir.

Espaço milenar que a água nos deu,
Evaporou o sal formando um mundo meu.
E agora eu pergunto: Onde foi que errei?
Vendo o mundo perdido e a sina de sua grei.

Nunca houve esperança na tarde do sol poente,
Não houve quem pensasse em salvar a sua gente.
E por mais que eu tente claridade ir buscar,
Devo entender que agora é hora de descansar.

Na revolução intelectual eu tentei retroceder,
Violei minhas próprias regras e fiz acontecer.
Percebi que não faz sentido e é inútil descobrir,
São só vazios assombrosos na escala do existir.

É SÓ O FIM!

No inferno festejam os anjos caídos dos espaços celestiais,
Embriagam-se e se perdem na chama ardente do mal.
Preparam as vítimas na terra, seu prato principal,
E esperam que o perdão na guerra lhes traga a vitória triunfal.

Não amam seus abraços, apenas apertam seu flagelo de dor.
Não guiam seus passos pelas noites infinitas do terror.
Mas a atormentam o espaço infinito da lua, beija-flor
Numa tépida trama de atos, inventados no vazio do amor.

Na solidão da fornalha aberta de um fogo dourado,
Esperam a condenação dada pelo filho abençoado,
Suas pernas já estão flácidas e seus pulmões cansados,
e os olhos lacrimejam pelo fim triste e atordoado.

Não poderia ser diferente desde que assim nasceu,
Lamberam as labaredas eternas de um truque que já foi meu.
E nas esperanças subalternar de um amigo que cresceu,
Aguardam o dia do juízo para entregar o meu presente e o seu.

CASTIÇAIS DE AREIA

Numa mesa perdida, se deu a vontade de inovar. O fogo aceso era feito de uma chama inócua, que sequer tinha a capacidade de esquentar. Amores falsos, valores pobres, sabores difíceis de serem captados pelo paladar. O olfato até que tentou extrair algum cheiro que lhe pudesse fazer sentir, mas foi praticamente inútil. É como se os livros que julgamos vivos, perdessem suas letras, e se tornassem apenas um bloco de anotações. Os fundamentos daquilo que acreditamos se alicerçaram em grãos soltos, levados pelo vento para outras encostas. E se não bastasse toda essa fragilidade fútil do presente, ainda querem obrigar os outros a se portarem da mesma maneira. Vira aquela coisa meio Capital Inicial: “Querem que eu cale e obedeça, e depois de tudo ainda agradeça”.
Agradecer o quê? Agradecer as guerras que vocês criaram? Agradecer a segregação que vocês impuseram? Agradecer a ciência? Se não me engano, foi a evolução dessa mesma ciência, que lançou as bases de um movimento chamado Renascimento, tão exaltado em seus valores ocidentais. Esquecemos-nos, porém, que foi esse mesmo movimento, a base para uma das teorias mais horríveis de todos os tempos: O Eurocentrismo, ou etnocentrismo. Sim, um bando de arrogantes com mal hálito, vestidos em trajes de gala, que os tupiniquins teimam em imitar, eles se julgaram superiores do mundo e no mundo. Em virtude disso tentaram trazer para América a “colonização”, julgando serem os portadores da verdadeira civilidade. Agradecemos pelos genocídios em nossas terras. Agradecemos pelos metais roubados, pelas penas queimadas, pelos humanos dilacerados.
Ao mundo, na década de 40, um nome foi dado como algoz: Adolf Hitler, quando ele foi apenas um produto de toda uma carga intelectual, posta e consentida há muitos anos. Ele expressou o pensamento de quase toda uma Europa, desejosa por construir um outro império Romano, mas sem Caracala, apenas com Adriano. E não me venham os sensacionalistas apelarem dizendo que ele praticamente exterminou um povo. Isso não é verdade. Dentro da soma total dos mortos por Hitler se encontram: Ciganos, Negros, Portadores de necessidades especiais, Eslavos, Homossexuais, e todos aqueles que ele não considerava pertencente ao grupo “puro”. Mas podemos continuar acusando e culpando um crime que já completou 60 anos? Então vamos voltar no tempo e acusar a Inglaterra pela segregação racial na África do Sul, vamos voltar mais alguns anos e culpar Portugal e Espanha pelos massacres contínuos em terras americanas, vamos culpar os protestantes que foram em busca da terra da liberdade na América do Norte, e para alcançá-la privaram milhares de nativos de suas propriedades. Nessa volta contínua no tempo, veremos que sempre foi o poder que ditou as atitudes justas ou não. Então, não me venham com falsa filosofia, já que essa representa apenas uma crise moral na qual vivemos.


sábado, 3 de janeiro de 2009

SURGINDO DA TERRA VIVA

Um dia sentiremos saudades, da companhia amiga, quando julgávamos ser necessária a solidão, da mão invisível e das freiras em procissão, da vontade que não passava, do sorriso sem graça, dos nossos pensamentos, que muitas vezes enlouqueciam a razão, do lado ruim das coisas boas, do discurso solicitado por outra pessoa, das coisas simplesmente simples assim, de certas coisas que não esqueceremos jamais, de pensar na vida antes de dormir, de sonhar com a vida e não querer acordar, de saber que o tempo não cura tudo, e quando cura ele demora tempo demais para passar, de ser aquilo que ninguém vê. Sentiremos saudades da chuva que caía, desabando gotas torrenciais dos portões abertos na esfera celeste. Saberemos então que a saudade somente relembra aquilo pelo que tivemos imenso prazer de passar.
Sempre vivo, sempre eterno, sempre sereno. É o preço que se paga pela certeza do estar bem agora. Não venha antes do previsto, porque terás em seu ventre, saudade, um peso mal visto. Não queira aquilo que não se viveu ainda, pois correríamos o risco de perder o caminho já pensado. Pensado de maneira desordenada, por meio de conflitos mal resolvidos, mas estabelecidos na vontade genuína de viver. Não importa se no primeiro, no segundo, ou no terceiro dia da criação, o importante é que a imagem divina da perfeição se estabeleça cada vez mais em todos os lugares. Não importa se na beleza de um jardim inteiro, ou na solidão interrompida de um banheiro, o importante é que os lampejos da vida continuem alimentado o alarido dos bons sons.
A saudade, às vezes é uma escravidão e uma dor que não queremos, ou uma mágoa pelo tempo que não foi aproveitado, quando por um temporal do destino, saímos correndo, e deixamos a idéia de algo não terminado.Não sei quanto durará, nem ao menos se chegará, mas sei que sentiremos.
As maneiras e formas aprendidas foram todas esquecidas numa bolsa fechada, deixada numa esquina qualquer. Esteve lá, imperturbável, até ser acordada e posta em pé, para que diante da prova de fogo, fosse forjada no calor da batalha. A batalha das conversas, das poesias, das músicas, das histórias. Batalhas que viraram uma guerra, e permaneceram vívidas na memória. Cada vez mais adentrando no território inimigo, pude transformar em abrigo, as letras transitórias. Procurei o espetáculo vivo, o picadeiro aceso do circo, o trapezista e sua corda.Tudo que encontrei contudo, foram palhaços rindo da própria desordem, com suas maquiagens borradas pelas lágrimas do riso, e transformadas em carne fresca que os cães mordem.
Esse desajuste entretanto, não é idéia rara, antes porém, se faz crer que apenas uma sala, pode eternizar os nomes e manda-los para o além. Os sofás ficaram para trás, a televisão não continha mais canais, e a mesa posta apenas estava alta para observar animais. Nessa selva proibida, alguém fugiu e se deixou como fera ferida. Caçada pelas veias abertas da saudade, que também liberta, mas que procura, chama, clama, clama pela chama acesa da sua loucura. Loucura de idos, vindos e idades, loucura que também em sua mistura trará saudades!


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

SENTENÇA: CULPADOS PELA PRÓPRIA MORTE!

Cantei a canção perdida, tranquei as frases lidas, entoei os versos das composições que me fizeram chorar. Penso que meu espírito foi condenado por ser realista demais, e quando eu achei que tivesse a cura, vi a doença refletida na água que iria beber, e o bebê se afogou no próprio espelho molhado. Sepultei meninos vivos, e revivi defuntos podres, quando abri o jornal e vi pessoas tirando a vida uma das outras. Será que eles não sabem que os sinos dobram para todos? Será que ainda não concluíram que ao matar alguém, estamos matando parte da humanidade? Não adiantou Hemingway falar, muito menos essa voz rouca, que ocupa o corpo que agora escreve, conseguirá mais do que ser ouvido por alguns poucos. O mundo está se transformando naquilo que ele não queria e repudiava. Os heróis de ontem, nem todos morreram de overdose, muitos são os algozes de hoje, pessoas informadas na própria ignorância, tentando conquistar terras, governos, políticas, e desprezando a fronte nua do seu irmão. Estou conhecendo a cultura cuspida pelo povo e escarrada pelas elites. Somos esculpidos em Carrara. Nossa atualidade está tão passada, que poderia ser comparada a décadas que se foram, e prendemos nosso passado aos interesses do presente. Aí penso que Nietzsche pensou bem, quando supôs que a única maneira de acabarmos com todos os problemas, é acabando com aquilo que origina os problemas: a própria vida. Então, concluo que se eu me matasse, com certeza estaria matando a pessoa errada. E o que se ouve são lamúrias vindas de moribundos andantes. Corpos andrajosos que empunham fuzis, que lançam bombas e destroem parte de si.Montados em seus cavalos apocalípticos, todos entoando a sua história sobre o seu deus verdadeiro! Acho que vou matá-lo por causa do seu deus. Absurdos gloriosos que vislumbram a vontade do criador! A humanidade está destruindo o nome que eles criaram, e hoje Deus estaria mais contente com os ateus que com seus professos defensores. E não há quem escape do julgamento das almas. Primeiramente as lutas pelo Jordão, as destruições daqueles que não adoravam Jeová, a fixação de um reino fraco nas terras que outrora pertenceram a outros povos. Milênios de distância e assassinos armados com uma cruz no peito estupraram a ordem e a decência, e capitularam diante de outra veemência ou demência. Mais séculos adiante, e outros viram seus irmãos padecendo, e elevaram aos céus seu egoísmo pleno, e não se importaram em perder. E agora estamos todos sendo vítimas do que acontece. Podemos não estar envoltos na guerra, mas nossos olhos são condenados a ver os horrores do ser humano. Confesso que cheguei bem perto de pensar que alguns não são daqui.
Calo-me por saber que não serei ouvido. Certo estou de que minhas mãos irão segurar uma flor, muito antes que outras mãos larguem suas armas, carregadas pela ignorância de não saberem viver como verdadeiros homens.


FASCINAÇÃO


Alguém, algum dia acreditará nos meus versos? Versos testemunhados pela madrugada, pelo dia e pela noite. Verdadeira estrada, em que andei, buscando uma forma fina, talvez morfina, para me acalmar e me curar por inteiro. Procurei em cada um deles, meu nome, mas encontrei o seu. Achei-o perdido em letras, outrora inexpressivas, gravadas em fino metal. Tentando entender o que havia achado, desperdicei meu tempo, que não tem hora, por isso segue o instinto da vontade, e minhas ilusões foram assim convertidas na realidade de um simples leitor. As realidades antigas, que chamamos de passado, se desfizeram diante de um presente tão bonito. Seu nome é uma ilha, mas não em minha boca, e sim na língua de outros homens. Homens que lutaram contra os mouros, que tomaram Granada, que se uniram e se tornaram fortes. Seu fim é o prefixo do me prazer. Se eu dissesse já haver beijado, esse rosto jovem, com toda a certeza seria caçoado, e chamado de poeta louco, desvairado, pois só o céu, creriam eles, pode tocar uma boca tão aperfeiçoada. Mal sabem eles que o céu, é tumba fria, e que você, ao universo, se mostra pela metade. A outra parte, porém, guardas num recôndito, no além, naquele cofre, para onde rumam todos os segredos, os que eu imagino, e os que eu nem sei. Assim encontrei você, toda esbaldada na própria ternura, e sem reconhecer a inteligência que possui, mas pronta para viver todas as aventuras que propus. Perdendo-se em seu mel, cativando essa pobre criatura, e cuidando desses lábios que seduz. Fosse eu um vendedor de sonhos, venderia para você o sonho mais encantador: o sonho dos dias e noites eternos. Faça do seu desejo fome saciada, torne seu instante vívido e profundo. Reafirme o roteiro encenado, e crie apenas mais um mundo. Façamos o mundo parar de girar, para que se possa entender essa necessidade do toque, essa necessidade de sonhar.
Tudo estava contido em seu nome, a ilha, a beleza. Percebi, que tudo que escrevia, parecia apenas uma canção distorcida, para um amigo a beira da morte. Assim entendi que matei minhas idéias quando resolvi coloca-las no papel, e fiquei sem palavras quando descobri o que queria dizer. Até tentei andar sozinho, quieto e mudo, mas caí diante da dor, que as feridas mau curadas trouxeram.
Você, que ao seu olhar se alia, inflama a própria carne, se torna lenha pura, e cria fome, onde fartura havia, mas reconheço que você é um fino ornamento para o mundo. Enlouqueça-me a cada aparição. Ao meu lado, nos meus sonhos, e ao me dizer que horas são. Não me envolva demais, apenas o suficiente para que seus pequenos braços entrelacem suas mãos. Para que sua cabeça, abaixo da minha, encoste-se a meu peito e escute meu coração.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ANTES DO JANTAR

Fiz-me cego para não te amar
Ao perceber que as paredes dessa casa;
Ganharam as formas da parede de um lar
Você me fez, nesse instante, querer ter asas.

Seu corpo nu resplandece como o sol da manhã
Como o espelho cheio de reflexos, no armário;
Eu queria mordê-la como se prova uma maçã
Pena que nesse dia nublado, não perdemos o horário.

Desfile sempre sua pele em escândalo;
Fale dos filmes, enquanto penso em sua forma,
Puxe-me e me faça correr, quando ando.
Torne-me um transgressor, esquecendo minhas normas.

E agora que as gotas quentes me chamam,
Faço destas as palavras de amor, me despeço.
Acalmo as vozes que dentro de mim clamam,
E lembro do seu corpo curvilíneo e convexo.

SOB A INSPIRAÇÃO DO AGENOR

Por que dizer que tudo já passou?
Tentar esquecer o sonho meu amor;
Você esteve no céu,
Vi nas estrelas seu valor,
Abri meus olhos e senti o seu calor.

Pra que fazerdo de alvo o coração,
Para saber das minhas intenções?
O seu doce é de mel,
Meu pólen ficou na flor.
Sem você não vejo se ela já brotou.

Eu proferi meus sonhos, sonhador.
Deixei de ser menino sem pudor.
Não atenda o telefone meu amor, e,
Pode deixar que eu chamo o elevador.

Era você que eu via,
Nessas noites tão vazias
Quando acordava como telespectador
Você andava apressada,
Eu tive medo do calor,
A mina seca, mas o rio já me tocou,
Abri meus olhos e vi o meu amor.