domingo, 27 de julho de 2008

A Semana de Arte Moderna (1922)

Foi a busca por uma renovação de linguagem, usando da experimentação, na liberdade criadora na ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda, para o modernismo. O evento marcou época ao apresentar novas idéias e conceitos artísticos. A poesia através da declamação, antes era só escrita. A música por meio de concertos, só havia cantores sem acompanhamento de orquestras sinfônicas. Aarte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura, com desenhos arrojados e modernos. O adjetivo "novo", passou a ser marcado em todas estas manifestações que propunha algo no mínimo curioso e de interesse. Participaram da Semana nomes consagrados do Modernismo brasileiro, Como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Anita Malfatti, Menotti Del Pichia, entre outros.
Movimento Antropofágico - Baseado no Manifesto Antropófago
escrito por Oswald de Andrade, o movimento antropofágico brasileiro tinha por objetivo a deglutição (daí o caráter metafórico da palavra "antropofágico") da cultura do outro externo, como a norte-americana e européia e do outro interno, a cultura dos ameríndios, dos afrodescendentes, dos eurodescendentes, dos descendentes de orientais, ou seja, não se deve negar a cultura estrangeira, mas ela não deve ser imitada. Foi certamente um dos marcos do modernismo brasileiro. Tem como a principal obra, a pintura "O Abaporu" de Tarsila do Amaral.
Movimento Pau-brasil - Lançado em 1924 por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral que apresentava uma posição primitivista, buscando uma poesia ingênua, de redescoberta do mundo e do Brasil. O movimento exaltava o progresso presente, e combatia a linguagem retórica e vazia.
Movimento Verde-Amarelo e o Grupo Anta - características: textos patrióticos, ufanistas e a idealização do país. Características formais: versos livres, sem rima, sem métrica, em estrofação e discurso não linear.Linguagem coloquial, subversão às regras gramaticais e textos mais analógicos que lógicos.
O triste é sabermos e constatarmos que com o passar dos anos nossa força criadora foi deixada de lado e trocada por outros impulsos menos animais e menos intelectuais também.

Um Breve dos Anos 80 (se puder, repasse)

Depois do “envelhecimento” da Jovem Guarda, a MPB acabou virando a principal voz musical da nação brasileira da década de 70. Somente o Rock conseguiu voltar às paradas em 1980, com o humor descompromissado e carioca da Gang 90, que foi precursora da nova onda nacional. Fundada por Júlio Barroso, poeta ligado ao movimento “udigrude” dos anos 70. Outra banda, a Blitz, aproveitou a mesma onda e a propagou em escala muito maior com o sucesso “Você Não Soube me Amar”. Mas foi com sotaque anglo-saxão e letras politizadas que o rock se estabeleceu de vez entre a moçada tupiniquim e se tornou o fato cultural mais significativo dês anos 80 no Brasil. Tudo começou com roqueiros que moravam em Brasília. Foi nas proximidades do Planalto que o grupo Aborto Elétrico, tendo no vocal Renato Russo, fez seu primeiro Show em 1980. O Aborto Elétrico após seu fim daria origem a duas bandas importantes do cenário musical nacional: Legião Urbana e Capital Inicial. O grupo Legião Urbana se destacou ao longo de sua carreira por letras que abordavam temas relacionados à política, (Que País é Esse?, Conexão Amazônica, 1965 Duas Tribos), homossexualidade (Daniel na Cova dos Leões, Meninos e Meninas), amor (Monte Castelo, Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto, Maurício, 7 cidades), drogas (Só por Hoje), enfim, temas com os quais a juventude se identificava bastante.Renato Russo foi o mais carismático letrista e vocalista de seu tempo. Divide o posto de tal glória com o carioca Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, líder da banda Barão Vermelho. Ambos (Renato e Cazuza) injetaram poesia no Rock, ambos percorreram a estrada dos excessos em busca do palácio da sabedoria, ambos fizeram os Brasil mostrar a sua cara com questões simples e diretas, ambos morreram no auge da fama, como convém a roqueiros rebeldes. Ambos vitimados pela Aids, o mal do fim do século que os dois cantaram. Cazuza caminha pelos vários estilos musicais, aproveitando a sua curiosidade experimentalista. Músicas como Brasil e Pro Dia Nascer Feliz marcaram o processo de transição política do Brasil. Foi também um grande poeta, conseguindo colocar a palavra liquidificador numa música de maneira sensível e romântica. Outro líder dos jovens e malucos de plantão dos anos 80 foi Raul Varela Seixas, o Raúl Seixas. Apesar de sua ausência do cenário musical durante os anos 80 (ficou praticamente afastado dos palcos entre 1983 – 1988) sua influência que vinha dos LPs gravados nos anos 70 motivava a moçada interessada em mudanças. Outras Bandas e cantores, também devem ser mencionadas: Ultraje a Rigor, RPM, Paralamas do Sucesso, Abóboras Selvagens. Kid Abelha, Plebe Rude, Inimigos do Rei, Titãs, Engenheiros do Havaí, Nenhum de Nós, Lulu Santos, Camisa de Vênus, Biquíni Cavadão, IRA, Lobão, e me perdoem os “oitentistas” de plantão pelos nomes esquecidos. E nossa sina nos anos 90 está sendo reviver os anos 80, mesmo esses anos sendo uma charrete que perdeu o condutor.



sábado, 26 de julho de 2008

26 de Julho de 1953

Em 26 de Julho de 1953, jovens cubanos liderados por Fidel Alejandro Castro Ruíz tentam de maneira frustrada tomar de assalto o Quartel de Moncada em Cuba. Era o primeiro foco do que mais tarde viria ser a Revolução Cubana. A data até hoje em Cuba é celebrada com ardor e exaltada como uma data que faz parte de um ideário de libertação nacional. De fato a Revolução quando aconteceu apresentava características de libertação. Cuba estava sendo um prostíbulo norte-americano. Em 1898 aconteceu a independência da Espanha e também a "transferência da metrópole" para os Estados Unidos. Em 1901 os E.U.A. assinam com Cuba a Emenda Platt, que dava direito aos yankees de intervenção política, econômica e militar na ilha. Em 1903 foi fundada uma base militar norte-americana em Guantánamo, uma das mais belas regiões da ilha. Essa base é mantida até hoje. Mas não quero transformar isso numa sucessão cronológica e entediante.
A questão central é: Na década de 50 Cuba precisava de uma Revolução nacionalista como a que aconteceu. Tão logo a tentativa de ataque a Moncada foi frustrada, muitos jovens foram presos, mortos, e alguns como Fidel e Raúl Castro foram exilados após a prisão. O retorno triunfante se daria em 1957, e a vitória da Revolução em 1959. Até aqui tudo bem. A questão é que o os tentáculos dos Estados Unidos já estavam cravados na ilha, e nenhuma tentativa de desenvolvimento nacionalista foi aceito pelos amigos do norte . Não foi Cuba que guinou para a União Soviética, mas os Americanos que a perderam. A Revolução teve no nacionalismo seu referncial inicial. Tanto é verdade que figuras reconhecidamente simpatizantes do comunismo como Che e Raúl foram afastadas do cenário público inicialmente. Mas diante da inflexibilidade norte-americana, Fidel Castro busca outras alternativas, até finalmente em 1961 (após tentativa de invasão da Baía dos Porcos, Bloqueio Americano e tentativas de sabotagem) declarar que era marxista-leninista, e que a Revolução tinha seu ar socialista.
Os rumos então começaram a ser definidos com a ajuda soviética. Os expurgos dos opositores, perseguição aos dissidentes, punições contra os que não concordavam com o regime. Mas o povo na sua maioria, ainda enebriado pelo gosto da liberdade, não percebia que a Ditadura de Batista estava sendo substituída pela Ditadura de Fidel, que agora atuava sob o lema: Revolução ou Morte.
Ditadura é sempre ditadura, não importa se de esquerda ou direita. A diferença é que na de direita as torturas acontecem em porões, e na de esquerda as praças de fuzilamento são públicas. E não me venha com seu marxismo ortodoxo defender a idéia de que não podemos pensar no individualismo mas sim na sociedade como um todo! Como diz meu amigo Maurício Scnheider, as três maiores conquistas da Revolução Cubana foram: saúde, transporte e educação, e as três maiores debilidades foram: café, almoço e janta. Não sou contra a liberdade dos povos, sou contra a ditadura estabelecida sob o ar de liberdade. Toda vez que alguém toma para si a responsabilidade de defender um povo, está tirando desse mesmo povo o direito de o fazer. E se você ainda vê com ar de heroísmo as ditaduras de esquerda, fique tranquilo, isso passa!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

CAMPOS FLORIDOS DE LAMENTAÇÕES

Dói quando o não dar certo deixa de habitar o campo das possibilidades e passa para a trilha das certezas!Lamento!
Lamento pelas notas que não soaram, pelas lembranças que não surgiram, pelo gosto que não se sentiu, pelo nada que se derrubou. Lamento pelas histórias que não se criaram, pelos risos que não foram dados, pelos planos que não se concretizaram pela estrada que sobrou. Lamento pelo vazio que ficou, pela falta que fez, pela ocasião que tombou, pelo soldado alvejado no campo de batalha sem tempo de outra vez olhar para o céu que o viu nascer. Lamento pelo tempo, que antes livre, agora corre como um louco e despreparado, preso por um relógio que não viu acontecer. Lamento pelas lembranças que apenas ficaram, pelos olhos que abriram e jamais se fecharam, pela folha seca que não verá outra primavera e jamais poderá florir outra vez.
Só espero que as lembranças, simples lembranças não sejam uma ordem expressa ao anjos para que retirem sua cavalaria do campo de batalha por estar a luta finda. Ainda posso ver o mundo do jeito que sonhei ver? Ainda posso sonhar com os corações que há muito deixaram de palpitar? Será que essa vida soberana e reinante quer deixar para trás apenas seu castelo? Será que as esperanças mudam com o passar dos dias? Peço aos meus lábios diariamente que possam dizer ao Rei que este pobre servo envia desejos ardentes de melhoras, e beijos tão fortes como uma armadura intransponível.
O assalto das idéias do paraíso me surpreendem ao acordar. Idéias de um fruto não comido! Uma cadeira de balanço embalada pelos ventos da utopia vencida, uma cadeira de balanço sem um sonhador. Um balanço perdido no descompasso da cadeira sem sorriso, sorrisos estes que foram depositados numa cesta cheia de lembranças vazias. Um violão sem cordas com notas dissonantes numa música sem melodia. Risadas e sorrisos que perderam o eco e a vibração. Deixaram apenas o eco do silêncio abrupto e concentrado, equilibrado numa monótona página de conversação.
Nada mais sobrou nesse campo desmedido, além de soldados desconhecidos que impedem com suas armaduras o verdadeiro amanhecer. A única planta que hoje sai da terra traz um sentimento que machuca, traz espinhos que fazem sangrar meu rosto quando numa tentativa impensada eu imaginei que pudesse sentir o cheiro da rosa desfolhada. Viro meu rosto buscando em vão me defender. Tento olhar para onde não precise reconhecer a dor que sinto em lágrimas vertidas desde a noite escura até ao amanhecer. E estes olhos que hoje choram também estão a mirar a janela de onde se espera venha à esperança e a resposta bela num sorriso flamejante que faça soar retumbante o som de uma vida bela. Aguardo pelos dias afora, os quais tenho pressa de viver. Aguardo pelos instantes válidos a demora que possa esclarecer onde fui depositar meus sonhos e derradeiros desenganos que estavam prestes a acontecer. Venha logo abrir o coração que o desprezo descartou, busque a lembrança perdida que o desejo desprezou, e no lugar da alma vencida pela vida em plena dor, encontrarás a vida refletida nos olhos de um navegador. Não fique longe nesse inverno, chega logo vem mais perto, quero tê-la em meu outono. Mando lembranças de um corpo aflito que hoje, na clareza do incerto já teve um aspirante dono.

A DESUMANIZAÇÃO DA HUMANIDADE (se puder, repasse)

Tenho medo de que o mundo tenha ficado acostumado demais com os temas relacionados a fome, miséria, desigualdade, desprezo pela vida humana. São tantos falando, e ao mesmo tempo outros tantos sofrendo as penúrias que a vida impôs. São crianças, frutos de um mundo intolerante, inconsequente e desprovido de qualquer senso de bondade, são jovens desiludidos, sofrendo a angústia da própria crueldade, são velhos destemidos, corajosos e ansiosos por piedade. A fome virou notícia! Pessoas famintas viraram páginas de jornal, e tudo o que se ouve hoje em dia diz respeito a projetos que serão feitos, planos que serão colocados em prática, investimentos que um dia virão. Não precisamos viajar até a África, o continente esquecido, para nos depararmos com a miséria que consome a nossa sociedade, basta olharmos ao redor, basta caminharos por entre as ruas de nossos bairros, visitarmos as vilas, os hospitais públicos, as escolas, olharmos para as periferias e uma infinidade de problemas se apresentará. Fico tremendamente triste quando passo em frente aos postos de saúde e percebo pessoas aflitas que imploram por algo que apenas possa lhes tirar a dor. Mas a pior dor as vezes é a dor da própria existência. Uma existência que pede licença para acontecer, uma existência que as vezes sente um pouquinho o gosto da vida. São pessoas que trazem no olhar a tristeza das lembranças que gostariam de esquecer. Olhos marejados por lágrimas que nunca deixaram escorrer nesses rostos marcados por uma boca que jamais ousou sorrir por um motivo sincero e verdadeiro, antes porém foi usada para implorar socorro a quem quer que pudesse trazer um pouco de alívio à alma conflitante. Tudo isso parece um exagero, mas eu afirmo que não chega nem perto da realidade doente pela qual estamos passando. O mundo estabeleceu seus limites para a dor e o sofrimento, o problema é que como um recordista olímpico que ultrapassa as próprias marcas, ele também está estabelecendo novas fronteiras para o absurdo.
A fome não destrói apenas o corpo, destrói o senso do bom senso, destrói o brio, o orgulho, o próprio ser humano. O homem que no lixo encontra comida, a comida que serve sem virar lixo, o lixo que é revirado pelo homem, o homem que se confunde com o próprio lixo. Não cabe nesse espaço a tentativa de encontrar o culpado, pois isso jamais conseguiremos encontrar. Mas uso essas linhas para constatar um fato triste, um fato que nos traz indignação e as vezes arrependimento de ser ser humano.

domingo, 20 de julho de 2008

EPUR SI MUOVE

Não me peça para mudar algo que eu não vou conseguir. Nem ao menos reconheço o nobre erro que o júri me atribuiu, quando fui julgado sem saber, e reagi sem querer. Não fui eu quem fiz as leis, não fui eu que busquei encontrar. Cada passo dado para o acerto, é também o primeiro passo para errar. Até tentei apagar as linhas que escrevi num momento em que minha caneta estava solta, e minhas mãos seguravam o vazio. Mas tão logo recuperei o fôlego, voltei a me impressionar com a solidão. Ainda ouço pelo quarto a voz de uma mesma voz, e vejo a mesma visão: meus olhos tentando ir além num espaço que jamais conseguirei entender. Em tempos de paz, a guerra se faz sentir pela ausência. O tormento forte não foi o bastante para me impedir. E mesmo que a chuva levasse em suas corredeiras a expressão viva do meu mar, eu não poderia permitir que o som de sua voz me pedisse para mudar. Os vinhedos estão prontos para prosperar com gotas novas do suave sabor, e meu lamento é saber que à mesa brindam em minha ausência. O verde musgo ganhou as pedras em seus muros que se ergueram para além de Berlim. Dividiram a Alemanha, o Báltico, o mundo, os sonhos e os mares do sem fim. A cordilheira se ergueu e não permitiu que sobreviventes a vencessem outra vez, como se a vitória outrora concedida fosse apenas a ponta da lágrima vertida transformada num iceberg chileno feito de gelo polonês. Eu queria ser aquilo que imaginei. Queria contar com os anos de um universo em planos, e perceber que a cada abraço humano é que sinto a beleza da divina perfeição. Entrar numa órbita occipital e ter acesso ao verdadeiro olhar. Olhar sem preconceito sem vontade de visão. Envolto num abraço perdido na emoção. Nem que para isso eu tivesse que regredir no tempo e inverter os ponteiros que trabalham ao meu favor. Queria na verdade derreter os relógios num fogo abrasador, e permitir que os segundos fossem libertados de seu inferno temporal. Por hora agora digo, que não me fiz homem por engano, e que diante da aflição de uma viagem sem planos prefiro ficar na estação. Mandem notícias quando voltarem...

sábado, 19 de julho de 2008

EXISTIR ANTES DE SENTIR (se puder, repasse)

Ao aceitarmos que a existência precede a essência estamos lançando o homem à propria sorte, tornando-o responsável pelas próprias escolhas, e também responsável pelas conseqüências posteriores. Não há nenhuma força conduzindo ou predestinando nossos caminhos. Esse pensamente é fruto de uma herança calvinista que perdura há séculos. O ser humano constrói a sua história, o ser humano cria as próprias armadilhas que um dia lhe servirão de algozes. Mas é pertinente à natureza humana tentar fugir de suas obrigações e de seus deveres. Sempre estamos culpando uma fraqueza, o outro, a situação, o contexto. Dificilmente assumimos nossa culpabilidade diante daquilo que nos rodeia.
Nada a não ser o próprio homem é o grande responsável por tudo o que se apresenta em nossa vida. Estamos acostumados a transferir as responsabilidades e isso tem deixado o ser humano fraco. O sentimentalismo fanático desprovido de razão fez com que nossa raça caminhasse para esse caos. Esquecemos que nossas ações refletem de uma forma colossal no ambiente que nos cerca, e nos acostumamos, com o passar dos anos, a atribuir nossas conquistas e fraquezas a seres superiores. Devemos ter a consciência de que somos os únicos autores, os únicos culpados pelo que fazemos e pelo que sofremos em virtude disso. A religião que num princípio remoto serviu como agente unificador, hoje é usada para o homem transferir o peso da carga que a própria sobrevivência lhe impõe. Aceitar sobreviver é aceitar a fadiga de uma vida que se desenrola calmamente, passo a passo num ritmo constante e contínuo. A nossa diferença racional nos leva as vezes a acreditar que somos especiais. Pois friamente preciso dizer que nós criamos esse ser especial, nós criamos essa visão de que tudo gira ao nosso redor, dentro de um humanocentrismo desregrado. O próximo passo somente existirá se dermos o anterior, ele não está preparado de antemão, somente iniciando o percurso é que é possível terminá-lo. Nossa vida é como uma caminhada sobre uma ponte que só se constrói quando esticamos a perna e confiamos que é possível prosseguir. Não conseguiremos jamais adiantar dois passos. Precisamos construí-la aos poucos. E as vezes na ânsia de corrermos acabamos parando no meio do percurso, e o que é pior, culpando os outros por não termos conseguido caminhar.
Em última análise chegamos a conclusão que somos convenientes. Assumimos a responsabilidade sobre aquilo que nos convém e transferimos a culpabilidade sobre aquilo que nos desagrada. Como é fácil viver assim. Por isso que muitos poetas, artistas, intelectuais no passado ficaram loucos, deprimidos e desacreditaram no gênero humano. Eles descobriram que maquiamos a realidade com emoções construídas por um espírito entorpecido e iludido, que tenta desesperadamente buscar algo em que se agarrar para não perceber que esse universo imenso é na verdade uma solidão sepulcral.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O AR SOMBRIO QUE NOS ENVOLVE


Nossas mãos estão lavadas pelo sangue que brotou da terra,
Clamam por socorro na rua vazia, dentro da capela,
Assistidas por arcanjos, anjos, santos e velas que nada pedem, que nada vivem, apenas esperam pelos passos firmes
Do salvador purificado, do querubim regenerado, guardado em silêncio,
Mudo calado, aberto para o sonho e para a vida fechado,
Olhando as manhãs purificadas pelo incenso da procissão, saiu o veneno.
Desce a ladeira, levando a espinheira, mantendo-se entre o sim e o não,
Nos passos fiéis, repletos de fé e ardente fervor,
Brotando as lágrimas da emoção do zelo e do ardor.

Quantos peregrinos almejam sua salvação eculpados, clamam por absolvição?
Quantos aflitos cambaleantes, temerosos, suplicantes buscam o perdão?
O gemido tímido e calado dos cantos celestiais, esses sim, destrincham nossa alma, expõem nossos ossos, nossas dores e instintos animais.
Mas o peregrino segue sua jornada, perdendo tudo, mantendo-se na estrada,
A única companheira sua, a rua, crua, inveterada resguardada de seus prantos, preservada de seus temores, desnuda de suas flores.

Nos becos da carne vermelha,é que se levanta a feiticeira, a bruxa, a vidente
Levanta na voz ausente, e prescreve a doutrina decente para a alma boa que quer partir.
Nos levantes constantes do sol de verão, nas montanhas cobertas da estação,
Em brados abertos de uma canção, a vida segue, a água busca seu mar,
A hiena busca o cadáver, o albatroz tenta voar.
O que se consegue é apenas uma íntima relação com a fé,
Numa cerimônia que tudo parece deixar.
Que a todos concede a prerrogativa de santo, santificar,
Por mais que isso pareça estranho, não será nem perda nem ganho a tentativa modificar.

Parece ignóbil, ignorância tardia em desaparecer,
Tantas luzes acesas para que as bênçãos possam aparecer, envelhecer,
Tenta rejuvenescer, alma velha e cansada, pela vida triturada, torturada, mas que hesita com suas forças extintas emudecer.
Traz consigo um coração cicatrizado, uma dor desajuizada e as marcas de um sonho que foi bom.
Lembra através disso de sua estrada da fé, onde nunca voou e sempre foi à pé,
Buscando serenamente a fonte das águas intelectuais, para beber de suas gotas numa forma que não há mais.
Tentou viver o dia, passou todo o verão, tentou guardar a bacia, se perdeu no ribeirão,
E por tudo o que fez, se lembra que nada foi bom, nada foi mal
Suas cicatrizes hoje, apenas o fazem lembrar que seu passado foi real.

A ERA DE AQUÁRIO

O sonhador alado trouxe cores,
O unicórnio encantado passou a cantar,
As formas novas da alma em ascensão,
Podem agora sonhar com o mundo de paz e amor.

A era de aquário é bem-vinda,
A era de aquário é boa nova.
É evangelho de esperança não lida,
Alegria posta a toda prova.

A revolução começou nos vales e montes,
Onde antes as tropas travavam suas guerras
Onde antes as crianças eram posta às feras,
E agora bebem todo o bem de sua fonte.

Os braços que antes batiam para sacrificar,
Agora se entrelaçam e prosseguem num aperto de mão,
Nos rostos outrora marcados pela ânsia de matar,
A nota ecoa do brado de uma canção,

A era da paz e do amor chegou,
As bodas de um casamento que irá durar,
O ódio brusco ignóbil se apagou,
E era de aquário vamos celebrar.


A era de aquário é bem-vinda,
A era de aquário é boa nova.
É evangelho de esperança não lida,
Alegria posta a toda prova.

NÃO É COMPLETAMENTE PORTUGUÊS

Pá deus, Pá deus
Não vou dizer!
Pá deus, Pá deus
Já matamos você
Pá deus, Pá deus
Tu estavas a sorrir
Pá deus, Pá deus
Eu deixei você aqui

Pá deus, Pá deus,
É hora de chegar,
Pá deus, Pá deus
Do contrário seu anjo irei levar,
Pá deus, Pá deus,
Ele não é seu,
Só contigo está, por algum descaso do tempo,
Que não se pode reparar.

Pá deus, Pá deus,
Tu que fostes escolher,
Viajar por tanto tempo,
Só porque me queres ver!
Veja quão forte e insano,
Não planejaste bem teu plano.
E agora com o sol me ponho a correr

Pá deus, Pá deus
Não vou dizer
Pá deus, Pá deus,
Tu estavas a sorrir, esperei você aqui,
Mas antes matamos você.

(não entendeu nada? então substitua deus pela expressão em inglês God)

O MERCADOR


Compre-me e me guarde como escravo,
Tu és cravo, tu és rosa,
Tu és verso, tu és prosa,
Para que deitares assim?
Esqueça-te do medo e venhas mais perto de mim.
Quando tudo acabar, somente um anjo te dará a mão,
Talvez um anjo triste que não merecerá sorriso nem atenção.
Mas de qualquer maneira, serás sempre uma poesia,
Tenra e pura, de águas infinitas e brilho intenso.
Tu és um afresco onde se pintam as sublimes renascenças,
Tu és o perfume sentido e guardado à sombra dos parreirais,
E quanto mais penso, menos razão me dou.
Não sei o que me toma, não sei o que me come,
Não sei o que resta e nem o que me consome,
Mas sei que alguma coisa não está correta.
Tu fizeste o mal virar bem!
Tu fizeste da morte algo real!
Tu mataste comigo, e juntos vimos o mundo brilhar.
Estás entorpecendo-me a cada dia,
Estás envolvendo-me em tuas redes vazias,
E não há mais nada que eu possa fazer.

DEIXO MINHA VIDA NUM SONHO (se puder, repasse)

Dá-me, Senhor / Uma noite sem pensar / Dá-me Senhor / Uma noite bem comum / Uma só noite em que eu possa descansar / Sem esperança e sem sonho nenhum / Por uma só noite assim posso trocar / O que eu tiver de mais puro e mais sincero / Uma só noite de paz pra não lembrar / Que eu não devia esperar e ainda espero. (Dolores Duran)
Sonhar é aquela magnitude que nos presenteia a cada instante que fechamos nossos olhos e nos permitimos permanecer por um instante, mesmo que curto, sem absolutamente nenhum pudor ou preconceito. As vezes penso na morte, não como algo fatal, como algumas pessoas encaram. Mas a vejo como algo curioso. No artigo Supermercado da vida, pensei sobre esse assunto. A morte gera curiosidade, gera vontade, me lembra algo que é forte. Afinal, passamos toda a vida lutando contra a morte, e na primeira batalha que ela vence a guerra acaba. Mesmo aqueles que acreditam na imortalidade da alma devem concordar comigo quando afirmo que esse exato momento que vivemos, as pessoas que conhecemos, como as conhecemos, como convivemos, isso não se repetirá jamais em toda a eternidade. Há garantias do porvir? Não, o que existem são esperanças de que a vida não acaba com o simples fechar dos olhos. Realmente seria muito triste isso, mas e se for assim mesmo? Como perdemos tempo!
Passamos a vida limitando nossas ações, já escrevi isso, está perdido em algum artigo por aqui. Por isso que o melhor seria se nossa vida terminasse num sonho. Se nossas veias se abrissem e o sangue jorrasse para uma tela branca, pintando e embelezando de magia e jovialidade e transformasse o branco da tela numa verdadeira obra prima de nossa sensibilidade latente. Como seria bom que o som as ondas, a visão do mar e das coisas belas nos brindassem constantemente. Minha vida foi feita para sonhar, e eu gostaria de vivê-la eternamente num delírio que me possibilitasse construir os castelos mais belos e recheados de intensas virtudes postas à mesa do meu café a cada manhã. Queria banhar meu corpo com a mais bela essência do prazer. Queria me vestir da roupa da sabedoria e atrair para mim os mais doces mistérios, e assim procurar desvendá-los na mais louca busca para sanar minha inquietude e minha alma conflitante. Somoso seres curiosos e preenchidos pelo desejo constante de buscar novas aventuras intelectuais. Não há limites para aprender. E conhecer é algo encantador. Mas chega um momento em que percebemos que tudo é casual e contratual. O mundo em que vivemos hoje foi assim transformado e moldado por aqueles que por aqui passaram. Então somos hoje a representação viva e concreta de um sonho passado. De certa forma somos sonho. Então sonho é algo que ainda não teve tempo de se realizar, ou está se realizando constantemente. Que injusto isso. Já perceberam que somente poderemos fazer juízo das coisas quando elas não existirem mais? Por exemplo, minha biografia somente será completa quando eu não mais for. Mas de que adiantará poder concluir que minha vida foi bela, se eu não terei mais forças em minhas pernas flácidas e em meus pulmões cansados para festejar a vitória de ter conseguido afirmar que realmente fui feliz? No fim do jogo, tudo o que nós buscamos é apenas um segundo de felicidade, só um segundo.
"Quando me vi tendo de viver, comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom, e me assustei, não sou perfeito, eu não esqueço: A riqueza que nós temos, ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu homem feito tive medo e não consegui dormir" (Renato Russo)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SUPERMERCADO DA VIDA( se puder, repasse)

As transformações científicas vêm garantindo ao longo dos anos uma vida mais estável e saudável para os seres humanos. O desenvolvimento tecnológico também gera um bem estar que nos proporciona inclusive um aumento na perspectiva de vida. Hoje estamos vivendo mais, e melhor do que vivíamos há alguns, algumas décadas ou séculos atrás. Quando falamos em reis e rainhas por exemplo, logo imaginamos suntuosos palácios e um conforto absoluto! Aí estamos completamente equivocados. Os castelos medievais eram sombrios, muitas vezes úmidos, e representavam um ar meio "purgatório". A vida, se comparada a hoje, era um marasmo só! Se você fosse um nobre, ainda poderia ter alguma sorte. Agora se você fosse um servo, sua vida consistiria em trabalhar nas terras do senhor, trabalhar nas suas terras, doar parte da produção ao senhor (não é do dízimo e das ofertinhas que estou falando, estou aqui abordando outro senhor) teria que sustentar sua família, e não teria absolutamente nenhuma perspectiva de mudança. Sem contar a constante exposição a doenças, que por não serem tratadas como tais (as vezes eram vistas como praga resultante de algum pecado) levavam os indivíduos à morte. Um exemplo é a Peste Negra que a partir de 1348 destruiu boa parte da população européia.
Nessa idéia toda, podemos concluir que hoje vivemos de uma forma confortável. Os constantes avanços da ciência estão buscando, como os alquimistas na idade média já faziam, o elixir da longevidade. Aquilo que irá perpetuar cada vez mais nossa espécie, enquanto conjunto (o gênero humano) e individual (o ser humano). Isso se expressa através dos constantes estudos sobre o genoma, células tronco, cura para uma série de doenças, possibilidade de vida fora da terra. Quando estudamos o universo, e procuramos saber se há manifestação de vida fora da terra, estamos querendo estudar a nossa própria espécie. Isso é muito bom.
Somos hoje filhos da juventude do pós-guerra. A juventude que rompeu os padrões estáticos de uma sociedade monótona. Os anos 60 coroaram seus espectadores com a idéia da juventude eterna. É o que alguns ramos chamam de Complexo de Peter Pan (o fato de não querermos ficar velhos). E o "velho" em questão, fica a cada ano mais distante. Com quantos anos hoje podemos dizer que alguém está velho? Vamos deixar de lado os eufemismos agora. Sem essa coisa de experiente ou vivido. Chegaremos a conclusão que não se pode afirmar exatamente com quantos anos alguém passa a ser assim considerado. Eu diria que você está ficando velho, quando pára de criticar os mais velhos e passa a criticar os mais novos. Mas mesmo assim é uma afirmação distante de qualquer rigor científico. Quis com isso apenas mostrar que hoje ao mesmo tempo que queremos banir a velhice para longe, também estamos querendo banir a morte para longe. Não queremos experimentá-la, e nessa idéia é que estamos firmados. É uma tentativa de que se não pudermos impedir a morte, pelo menos vivamos de uma forma agradável e confortável.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

PARA SER PERFEITO FALTA A TRILHA SONORA (se puder, repasse)

Acho que todos os verdadeiros amantes das músicas e filmes concordam comigo em relação ao fato de que nossa vida seria muito mais "perfeita" se pudéssemos ouvir naturalmente no fundo de nossas ações e momentos aquela música que mais se encaixa na oportunidade que estamos vivendo. Realmente a vida iria virar um grande conto de fadas. É bem verdade que nós como mortais simples e desprovidos de cuidado talvez não soubéssemos aproveitar bem esse presente concedido, mas não custaria nada um pouco de ritmo ao nosso dia-a-dia. Como faz falta em alguns instantes aquele som certo para coroar o segundo exato de uma decisão, um beijo, um abraço ou até mesmo uma despedida. Tudo bem, há aqueles que tentam reproduzir sua trilha sonora oralmente, mas confesso que alguns transformam isso numa verdadeira tragédia, mas não há problema, eles devem ter outros dons. E se não tiverem também, que se dane, o importante é expressar o que sentimos e permitir que os sons de nossa vida surfem em notas musicais. Não importa se no banheiro, chuveiro, sozinho ou num grupo, o que vale mesmo é deixar os sentimentos visíveis através de canções nossas ou não.
Lembro-me das primeiras três fitas que tive na vida: Elvis Presley, Raúl Seixas e Legião Urbana. Eu devia ter uns 8 anos e as fitas eram aquelas cassetes mesmo. Tinha uma vantagem muito boa: se você não gostasse do que tinha, poderia ouvir uma programação especial no rádio e gravar por cima da antiga fita, era bem mais fácil e não precisava do Nero. Olha que interessante, até a pirataria era mais popularizada, pelo menos não era necessário um PC. Mas voltando a idéia da trilha sonora, é interessante usar expressões, frases e palavras que outras pessoas já disseram. Não vejam isso como falta de autenticidade, muito pelo contrário, as vezes era exatamente aquilo que iríamos dizer, mas como outros já fizeram, repetimos como que numa afirmação renovada, de que aquilo também faz parte de nós. É como aquela velha frase dita pelo carteiro a Pablo Neruda, no filme o Carteiro e o Poeta: "Quando pensas em algo aquilo pertence a você, mas quando escreves algo aquilo pertence ao mundo".
Todos têm uma música que resume nossa vida. Alguns a reconhecem e podem até cantá-la, outros nem sabem disso, mas há nesse universo imenso de letras e melodias, uma com certeza que retrata a magnitude especial de cada um, basta apenas procurá-la. Sempre costumo dizer que a música para resumir minha vida é Meninos e Meninas da Legião Urbana. Com exceção do trecho onde ele menciona gostar de meninos e meninas. Sempre gostei apenas de meninas. Mas não vejo absolutamente nenhum problema na homossexualidade, muito pelo contrário, o amor não tem sexo, cor ou gênero, é simplesmente amor.
Mas as palavras dele são fabulosas: "Quero me encontrar mas não sei onde estou. Vem comigo procurar algum lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita, tenho quase certeza que eu não sou daqui" na segunda parte ele realmente expõe seu gênio poeta: "Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre, vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente. Estou cansado de bater e ninguém abrir, você me deixou sentindo tanto frio, não sei mais o que dizer. Te fiz comida, velei teu sono, fui teu amigo, te levei comigo. E me diz, pra mim o que é que ficou? Me deixa ver como viver é bom, não é a vida como está e sim as coisas como são. Você não quis tentar me ajudar. Então a culpa é de quem? A culpa é de quem? Eu canto em português errado, acho que o imperfeito não participa do passado. Troco as pessoas, troco os pronomes. Preciso de oxigênio, preciso ter amigos, preciso ter dinheiro, preciso de carinho. Acho que te amava, agora acho que te odeio, são tudo pequenas coisas e tudo deve passar".
Acredito sinceramente que buscar uma música para ilustrar nossa vida é simplesmente um maneira diferente de demonstrar que amamos nossa vida, que queremos vivê-la intensamente. Ela é um rascunho que não teremos tempo de passar a limpo, por isso precisamos dar a ela todo o toque de perfeição e de realidade ao mesmo tempo. E quando deixamo-la melodiosa caminhamos para a certeza de que realmente poderemos concluir não apenas uma vida, quando o findar de nossa existência vier bater à nossa porta, mas sim uma bela obra sinfônica que ecoará pelos recônditos da eternidade.

terça-feira, 15 de julho de 2008

UMA ANÁLISE SOBRE SALVADOR DALÍ (se puder, repasse)

"O amor é uma coisa real que a gente está aprendendo a abraçar, e não temer a velha "estória" do mal, tão conhecida, que já nem pode mais nos assustar" (Raúl Seixas)
Normalmente as fases de sofrimento pelas quais passam um artista, são também as fases de suas grandes obras. Persistência da Memória (1931) é uma das obras mais conhecidas de Dalí e foi concebida justamente numa dessas fases. Dalí havia sido expulso de casa pelo pai, e encontrava-se em dor, angústia e desespero. Abre então sua alma para jogar toda essa ansiedade materializada numa espécie de blasfêmia intelectual. O enquadramento de fundo da obra, são os rochedos do cabo de Creus, local exato onde os Pirineus vem morrer no Mediterrâneo. O jogo de sombras e cores proporciona ao espectador uma visão nova a cada olhar, num cenário de descaso e solidão. Essa representação encontra-se, como que num encontro arranjado, com a alma conflitante de cada um de nós. Essa alma presa por grades tão simplórias, e prontas para se desmancharem. Essa alma que nós tentamos abafar, esconder, encolher, reduzir ao nosso ímpeto animal e inconsciente. Assim se apresenta a obra de Dalí, num emaranhado de sensações difíceis de identificar, mas próximas o bastante para que possamos prontamente senti-las.
As partes moles dos relógios, são resultado de uma noite de muita enxaqueca, num jantar onde os canhões foram alinhados para receber muita bebida.
O tratamento em relação ao tempo (na retratação dos relógios) é outro aspecto curioso. Um tempo descartável, subjetivo, individual. Um tempo que não está preso ao próprio tempo. Que é livre, solitário e independente. Solto em meio a uma paisagem bucólica, esquecida por alguém. O relógio não surgiu no quadro de Dalí de uma forma misteriosa. Alguém certamente o deixou ali, e se o deixou era porque queria esquecer. O relógio nos faz lembrar da dor, das horas que perdemos, dos dias que passamos, da vida que não volta mais. Abandonar o relógio significa abandonar todas as coisas que tentam nos manter nesse mundo real. Deveríamos fazer mais visitas à Alice, deveríamos visitar mais o país das maravilhas, onde a noção do tempo também se perde num vácuo de imagens infinitas.
Dalí pintou seu último quadro em 1983, e faleceu alguns anos depois. Isso significa que ninguém, absolutamente ninguém jamais poderá buscar os relógios que foram deixados nessa paisagem. Eles estão para sempre esquecidos, sepultados e marcam o tempo de ninguém, num lugar onde ninguém se importa com o tempo que passou.

UM ANJO CAÍDO OUVINDO O SOM DA MADRUGADA



Resolvi sair um pouco dos temas "públicos" se assim posso chamá-los, e buscar o ser introspectivo. Aquele ser que se sustenta baseado em suas convicções, pensamentos e conceitos criados muitas vezes ao sabor dos próprios amores e valores. É madrugada, o sono fugiu e meus olhos estão abertos como se quisessem ver alguma coisa. A madrugada se desenrola como um pergaminho inacabado, sendo presenteado com frases novas a cada minuto. Mas a madrugada é capaz de promover encontros. Dentro do silêncio sepulcral da noite, somos convidados a nos olhar, e nos ver. É como se o espelho da alma pudesse refletir cada instante guardado em nosso coração, em nosso espírito, em nosso intelecto. É o som da madrugada. Este som na verdade é o eco de nós mesmos. É a sonoridade devolvida, é a mudez abandonada, a vergonha vencida! Que pena que esses encontros só acontecem quando não há ninguém para testemunhá-los. Se fosse o contrário poderíamos promover verdadeiras festas dionisíacas e nos esbaldarmos com o íntimo, discreto e as vezes despercebido pensar. Me encontro em paredes de concreto que podem ser ultrapassadas num simples fechar de olhos. Alçar o vôo mais surpreendente que posso imaginar: O vôo para uma liberdade que sempre esteve ao meu lado, mas que dificilmente poderia perceber, quando a luz do sol me cega durante o dia. As estrelas da noite são tão belas quanto nossa estrela maior, a diferença é que elas nos concedem o direito de brilhar. E neste brilho podemos sentir a energia proporcionada pelo nosso sentir. É como se toda a complexidade do Universo fosse simplificada num pensar e canalizada para nossa unicidade que se amplia a cada fechar de olhos, e alcança por vezes um verdadeiro céu de baunilha.

Tudo existe dentro de nós. Não podemos acreditar que apenas nossos sentidos podem nos fornecer os prazeres que precisamos, e longe de mim exaltar agora o hedonismo. Talvez nosso intelecto seja o tão propagado 6º sentido. Nossa razão, (mas não a razão presa a regras filosóficas) a razão individual, o sentir individual e a possibilidade de dar ao mundo as cores que quisermos, essa sim é capaz de nos brindar com os segredos mais sacanas. É como se uma caixa de lápis estivesse em nossas mãos, e nossa vida fosse uma folha para colorir. Daremos a nossa noite uma cor especial, daremos ao nosso dia um brilho sem igual, daremos ao nosso doce um sabor desmedido e desregrado. Tudo isso nos proporciona a madrugada. Esse encontro com os seres encantados que nada mais são do que pensamentos que arriscam se libertar protegidos pela sombra noturna. Os absurdos que somem com o amanhecer correm livremente antes da lua dar tchau. E os animais que perambulam pela selva urbana durante o dia, se transformam em amantes carinhosos sob um céu que nos dá de presente os milhões de pontos luminosos que representam nossas intenções de volúpia e embriaguez. Que a noite venha sempre nos brindar, trazendo as taças do sentimentalismo exposto, e criar em nós esse ser poeta, esse ser sensível. Ou criar apenas um ser inteligível capaz de compreender o mistério e entender aquilo que ninguém atribui valor.

É nesse tempo de insônia que a estética se perde, que a ética diverge. Onde os padrões estão sem sentido, e o critério de justiça inebriado pela pausa que a luz nos deu. Minhas pupilas já se acostumaram. É como se estivesse num principado da Romênia, talvez Valáquia, talvez Moldávia antes da morte de Mihai Viteazul. Correndo pelos campos pedregosos e cobertos pela neve eslava. Nada poderia me deter, para tudo poderia achar uma solução. Se a fome, velha companheira de jornadas viesse bater em minha boca, também poderia resolver. Nesse cenário de gatos sorrateiros, eu chamaria o Voivoda Vlad III, e empalaríamos alguma refeição, enquanto as palavras norteariam o rumo do próximo passo.

Pode parecer loucura mas acho que é pura perfeição, e eu ainda diria que todos esses devaneios, alguns por aproximação outros por pura ilusão, são apenas alguns sons que a madrugada nos faz ouvir. Não tento salvar o sono, mas procuro sonhar acordado, e me apresento ao mundo infinito de sensações.

domingo, 13 de julho de 2008

13 DE JULHO DIA MUNDIAL DO ROCK (Se puder, repasse)

Hoje (13 de julho) é dia mundial do Rock and Roll. Mas não é o aniversário de nenhum grande nome, ou do estilo propriamente dito que não sabemos mas provavelmente não começou nesta data. É que em 13 de julho de 1985 foi realizado o Festival Live Aid. Simultaneamente, as cidades de Londres (Inglaterra) e Filadélfia (EUA) realizaram o evento. O público estimado ficou em cerca de 170 mil pessoas. Entre muitos artistas, o festival reuniu nomes como Tina Turner, Sting, Mick Jagger, Paul McCartney, U2, Phil Collings, Madonna, Eric Clapton, Elton John e Ozzy Osborne. Todo o dinheiro arrecadado foi destinado às pessoas que passavam fome na Etiópia. A partir desse evento o dia do Rock ficou marcado.
O surgimento do estilo porém nos faz retornar aos anos 50 nos Estados Unidos. Uma fusão de country, R&B, Blues, com uma salpicada de Jazz e Gospel. A juventude pós-guerra queria algo diferente, queria romper com os padrões "antigos" da sociedade. E começou na música um movimento que marcaria para sempre a história mundial. Oficialmente (dentre os vários oficialmente que existem nesse assunto) o grande nome para o surgimento do Rock é Bill Haley e os seus Cometas, com a música Rock around the clock, que foi trilha em 1955 do filme Sementes da Violência. Um ritmo empolgante com letras diferentes numa batida forte, que encontrava resistência nas famílias e comunidades mais conservadoras. Era o que a juventude precisava para extrapolar e deixar suas idéias voarem o mais alto possível. Temos no rol dos responsáveis pelo novo estilo ninguém menos do que o Rei Elvis Aron Presley, aquele que conseguiu quebrar todos os recordes que ele mesmo criara. Já se passaram 30 anos desde a morte deste fenômeno e ele continua batendo marcas colossais, como o número de discos vendidos que hoje ultrapassa 3 bilhões, isso mesmo BILHÕES de cópias. Claro que esse fenômeno está distante do tímido rapaz que em 1954 gravou o single That´s all right mama na gravadora de Sam Phillips. O dono da gravadora sabia que "quando encontrasse um branco com voz e alma de negro ganharia um milhão de dólares". Pois bem, estava descoberto Elvis Presley.
Vários outros nomes da época poderiam ser citados como responsáveis pela difusão e criação do estilo: Jerry Lee Lewis, Roy Orbinson, Johnny Cash, Chuck Berry, Bo Didley, Parker, enfim, uma infinidade de pessoas que estavam na década de 50 construíndo a maior herança cultural que temos, e pode parecer sonho de roqueiro, mas eles sabiam disso!
O termo "Rock'n Roll" foi inventado pelo DJ americano Allan Freed, que organizava festas e tocava músicas negras em seu programa de rádio. Na década de 50, com o final da Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, havia uma corrente que pregava pelo aproveitamento de cada momento como se fosse o último. Com o anúncio das bombas atômicas lançadas pela União Soviética (1949) e um possível "fim do mundo", a corrente foi ratificada. A revolução de costumes associada ao ritmo empolgante da música tocada por Allan foi fator decisivo para que o estilo roqueiro fosse tachado de delinqüente, além do mais Rock and Roll também era usado como gíria para definir sexo, uma espécie de Rala e Rola.
O Brasil não ficou longe disso também. Em plena década de difusão do Rock, aqui tivemos seus representantes. Era a década do Governo JK, do desenvolvimentismo, e os pensamentos norte-americanos eram abraçados com toda a garra (isso também era um sinal da Guerra Fria). Tivemos dois grandes representantes em nossas terras: Cely Campello com a música Estúpido Cupido e Carlos Gonzada com o sucesso Diana, ambos de Paul Anka e Neil Sedaka.
Após os anos 50 o rock verdadeiro sofreu alterações, algumas o fizeram evoluir, e outras comprometeram sua verdadeira idéia. Mas o fato notório é que hoje após tantos anos, crianças e jovens de todas as idades cantam sucessos de astros de uma época onde esses mesmos jovens nem eram nascidos. Isso é eternidade! É perdurar à guerras, à conflitos e a gerações. This is rock and roll. Long Live Rock and Roll. Que esse ritmo possa embalar futuras gerações, e que seja ele o ritmo tocado quando o mundo acabar.

sábado, 12 de julho de 2008

UMA ANÁLISE SOBRE DEBRET (se puder, repasse)

O quadro acima é de Jean-Baptiste Debret, um dos responsáveis por retratar o Brasil Colônia. Ele fez parte da missão artística francesa que veio para o Brasil durante o Período Joanino. E sua forma de expressar a visão do Brasil Colônia é simplesmente sensacional. Ele usa de ironia e de um grande toque de observador para retratar como ninguém as cenas do nosso cotidiano. Nessa obra acima retratada podemos analisar um pouco esse fantástico artista. Primeiramente observamos que se trata de uma casa de Senhor com certas posses, isso se nota pelo número de escravos "disponíveis" ao seu serviço, três ao todo, um número significativo para época. O traço patriarcal da família colonial também é perceptível, o casal encontra-se em lados opostos da mesa, ele num tom meio bucólico, solitário, terminando sua refeição indiferente ao universo que o rodeia, ela provavelmente já terminou de se alimentar, e num ato que pode parecer bondoso, dá o resto de comida à criança negra. Pode parecer bondoso? Sim, pois caso ela não fizesse isso, a comida seria jogada fora já que na época não tínhamos condições propícias de aramzenagem, outra questão também é o olhar de apreensão dos escravos. Notem o negro que provavelmente seria o cozinheiro aguarda ansioso à porta para saber a opinião do senhor.Observamos também a questão da ostentação, tão presente nas elites coloniais. O número de escravos como já foi falado é um exemplo disso, e a forma como a mesa está posta, representando um banquete, na verdade qualquer observador perceberia que é muita comida para poucas pessoas (apenas o casal). A influência da vida lusa também está presente. Há uma certa incoerência nas vestimentas usadas (mangas compridas) e nos escravos com abanador. Provavelmente o abanador servia para amenizar o cheiro forte e também para refrescar. Mas o ambiente se tornaria mais agradável se as roupas não fosse tão carregadas, típicas de um cenário europeu, mas deslocadas no clima do Brasil. É para variar nossa mania tupiniquim de imitar os outros começou há muito tempo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O BARROCO NO BRASIL (se puder, repasse)

Vila Rica não é Florença, pedra-sabão não é mármore e Aleijadinho não foi Michelangelo. Ainda assim, o esplendor, o requinte, as sutilezas e a suntuosidade das dezenas de estátuas, pias batismais, púlpitos, brasões, portais, fontes e crucifixos permitem supor que o Brasil teve um gênio renascentista desgarrado em plena efervescência de Minas colonial. Esse gênio foi Antonio Francisco Lisboa o Aleijadinho, o grande nome do barroco brasileiro.
A despeito da origem européia (padres jesuítas introduziram o estilo como forma de doutrinação) e dos notórios vínculos com o catolicismo da Contra-Reforma, o nosso Barroco não foi apenas um produto imitativo. Foi executado por nossa gente, na maioria das vezes mestiços, e com materiais locais. Considerável parcela da grandeza tropical brasileira aparece na opulência do Barroco. A arte religiosa foi o mercado de trabalho do artista daquela época, e floresceu justamente nos locais onde a economia exportadora e mercantilista prosperou. Neste sentido, percebemos de uma maneira notória e evidente que a arte conseguiu chegar a sociedade colonial.
O Barroco, foi marcado como sendo o estilo das formas dramáticas, grandiosas e opulentas, voltado principalmente para um decorativismo enfático e caracterizado pela exuberância dos dourados nas volutas e espirais.O exterior simples evidencia um notável contraste com o interior opulento. Em parte isto se deve a influência que o mesmo recebe da arte românica medieval. Além disto, a severidade dos exteriores, principalmente no barroco nordestino, evoca a rudez do sertão. Muitas igrejas também, começaram a ser erguidas. De início a sociedade era pobre e enriquecia progressivamente, desta forma, a evolução da sociedade se nota nas igrejas com o exterior simples e tão logo surgiram os recursos financeiros, eles apenas puderam ser aplicados no interior dos templos, por isso a suntuosidade interna.
Até hoje observamos na região de Minas Gerais traços magníficos desse estilo artistico no Brasil, que não só se manifestou na arquitetura, como também deixou traços marcantes na literatura e nas artes plásticas. Aqui vai uma grande exaltação ao povo brasileiro que demonstra seu valor através dos séculos.

terça-feira, 8 de julho de 2008

GOD DYLAN (se puder, repasse)

Algumas pessoas ficam conhecidas como artistas e deixam sua marca na história da música, outros eternizam sua voz em grandes sucessos, há aqueles ainda que entram para o rol sagrado da fama. Alguns, entretanto, são simplesmente inexplicáveis. É neste grupo que está Robert Allen Zimmerman, mais conhecido como BOB DYLAN. Talvez um dos mais influentes artistas do século XX ainda vivo.
Nascido no estado de Minessota, neto de imigrantes judeus-russos, aos dez anos de idade Dylan escreveu seus primeiros poemas e, ainda adolescente, aprendeu piano e guitarra sozinho. Começou cantando em grupos de rock, imitando Little Richard e Buddy Holly, mas quando foi para a Universidade de Mineapolis em 1959, voltou-se para a FOLK MUSIC, impressionado com a obra musical do lendário cantador folk Woody Guthrie. Essa fase foi marcada principalmente pelas canções de protesto e pelo engajamento em causas sociais e que de certa forma geravam algum impacto na sociedade americana. Não podemos esquecer que a década de 60 era a década da transição. A juventude se encontrava perdida no meio de idéias, conflitos e guerras, e urgia a necessidade de uma espécie de profeta a quem seguir. Pois bem, o profeta era Dylan.
Seguindo a tendência BEAT, suas músicas serviam como estrelas orientadoras para um público em constante transição. Ele inspirou grandes nomes do cenário Rock and Roll. Só para citar exemplos Beatles e Rolling Stones foram fãs de carteirinha. Mas não é fácil manter a alcunha de líder da juventude. O peso da responsabilidade de sempre ter que dizer algo novo, e que invariavelmente servia como regra e lei, fez com que Dylan mudasse completamente seu estilo. Nos anos 70 ele partiu para uma idéia mais introspectiva, com músicas mais voltadas para uma análise interior, se distanciando do cenário político. É aí que conseguimos observar uma espécie de niilismo, já que de nada adiantava o protesto constante, se as transformações não eram constantes. O sonho utópico de mudança ficou na década de 60 e como ele o velho Dylan também ficava. O novo cantor agora mostrava que sua capacidade de variar era enorme. E é essa mesma capacidade que garante a ele o respeito e a importância que tem hoje no cenário musical e cultural.
Ele ainda continua indiretamente ditando as regras. Suas palavras ainda são leis, e seus shows ainda atraem milhares de fãs. A busca hoje porém, está concentrada na nostalgia e admiração por esse nome carregado com uma carga histórica sem precedentes.
É justamente essa versatilidade que nos falta hoje. A boa música está morrendo com seus pais. Hoje alguns sobreviventes dos grandes anos 50, 60 ainda permanecem, mas quando esses se forem o que restará de nossa cultura musical? Talvez sobrem apenas as músicas papagaio, reproduzidas dentro de estilos batidos e orientados pela indústria cultural. Dylan nos livre disso!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O RETORNO DA VERANEIO VASCAÍNA (se puder, repasse)

Cuidado, pessoal lá vem vindo a veraneio / Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho / Com números do lado, dentro dois ou três tarados / Assassinos armados, uniformizados
Veraneio vascaína vem dobrando a esquina!
PORQUE POBRE QUANDO NASCE COM INSTITNO ASSASSINO / SABE O QUE VAI SER QUANDO CRESCER DESDE MENINO / LADRÃO PRA ROUBAR, MARGINAL PRA MATAR / PAPAI EU QUERO SER POLICIAL QUANDO EU CRESCER.
Se eles vêm com fogo em cima, é melhor sair da frente / Tanto faz, NINGUÉM SE IMPORTA SE VOCÊ É INOCENTE / Com uma arma na mão eu boto fogo no país / E não vai ter problema eu sei estou do lado da lei.
A música acima se refere a atuação de policiais durante a ditadura militar no Brasil. Mas a truculência e a força continuam como imperativos impensados dos arautos da defesa e portadores do direito de MATAR. O último episódio está relacionado ao menino João Roberto de 3 anos, morto numa ação onde policiais perseguiam bandidos armados, ou talvez nessa ordem, assassinos perseguiam bandidos armados ou bandidos armados perseguiam bandidos armados, enfim, não sei mais como empregar corretamente os termos que disponho. Uma criança com 3 anos de idade morta com um tiro na cabeça! Mãe e filhos retornavam de uma festa infantil. A mãe do menino dirigia um carro preto (mesma cor do carro onde estavam os bandidos foragidos, mas me refiro aqui aos bandidos que não andam com sirenes ligadas). Os policiais confundiram o carro em que estava a família carioca com o carro dos bandidos. Isso se deu pelo fato de que a cor preta em automóveis é extremamente rara e difícil de ser encontrada, uma vez localizado, o automóvel foi identificado como sendo da quadrilha, já que o número de veículos desta cor é extremamente raro. Se fosse uma cor comum, como abóbora salpicada com uma tonalidade de verde musgo marinho o cuidado com a abordagem provavelmente teria sido maior. Uma saída talvez fosse pesquisar essa nova forma de daltonismo que pelo jeito está se espalhando.
A questão é que o fato foi simplesmente absurdo, desastroso, vergonhoso, estúpido. O Estado pode se pronunciar, pode pedir desculpas, os policiais podem (e deveriam com toda a certeza) receber punição, mas nada, absolutamente nada irá unir novamente essa família marcada agora pela dor de ver um membro de seu seio ser cruelmente assassinado. A mãe num ato desesperado tenta de todas as maneiras provar que era uma cidadã de bem, mas o disparar das armas não deu espaço para que essa mulher, que arriscava a própria vida, salvasse a daquele que ela amava e continuará amando. Quer dizer então que agora as perguntas não são mais feitas pela boca, e sim pelos canos? A vontade é que seguindo essa lógica, os policiais envolvidos passassem por um belo questionário.
Não estou afirmado que toda a corporação seja responsável. Que fiquem isentos os valorosos homens que assim como eu também ficaram constrangidos diante do fato ocorrido. Mas aos envolvidos desejo o cheiro podre de uma cela e a dor da consciência como punição para que diariamente sintam vergonha e ojeriza de si pelo que fizeram.
Que as lágrimas do pai do menino João Roberto, que as lágrimas da mãe sejam usadas como prova cabal de que mais uma vez a justiça agiu injustamente, e que os bandidos mudaram de lado.

terça-feira, 1 de julho de 2008

COTAS, OUTRA VEZ! (se puder, repasse)

Mais uma vez a palavra COTA está na boca dos vestibulandos. Particularmente, como cheguei a dizer em sala, eu não me interesso por esse assunto. Deixando a demagogia de lado (apenas por um instante, é impossível viver sem ela) é mister afirmar que como já terminei o curso superior e para mestrado ou doutorado não existe cota, esse tema está distante de mim. Não irei tirar proveito nenhum dele, então a luta não é minha, e não me venham com altruísmo cristão agora. Mas para não pairar no campo da ignorância, vou opinar sobre o assunto como um expectador que assiste desinteressado a um jogo entre times para os quais ele não torce. Na minha opinião, o assunto COTAS PARA ESCOLAS PÚBLICAS é uma tentativa do Governo Federal de isentar sua culpa diante da debilidade do ENSINO MÉDIO PÚBLICO. Ele está criando uma medida que remedia, mas não cura as causas do problema. Para não precisar investir pesado na melhoria da educação do nosso país, o governo está presenteando os alunos com um grande brinde: COTA. Isso numa primeira vista pode parecer algo benéfico, mas que apenas mascara a real situação das escolas de nosso país. O aluno da escola privada (trabalho apenas na rede privada de ensino, mas estou tentando ser imparcial) recebe um produto em condições melhores, isto é uma verdade e não adianta questionar. Salas mais equipadas, recursos em maior quantidade, possibilidade de buscar informações, profissionais que estão num mercado competitivo e por isso sentem a necessidade de aperfeiçoamento constante. Não quero com isso dizer que a escola pública não apresenta profissionais aptos e competentes, muito pelo contrário. Cursei todo meu ensino fundamental e médio em escola pública. Eu diria que seus profissionais, além de capacitados são heróis da resistência. São pessoas fantásticas que usam os parcos recursos de uma maneira brilhante, visando transmitir o conhecimento (claro que alguns estão fora dessa lista e são realmente ruins). Agora imaginem vocês se esses mesmos profissionais (os bons) tivessem a sua disposição uma gama de possibilidades? Se o governo realmente acreditasse na Educação Brasileira, aplicasse investimentos na mesma, com toda a certeza teríamos uma aproveitamento fora do comum.
Mas a realidade está distante desta proposta utópica acima apresentada. A rede particular investe pesado em sua estrutura, enquanto a rede pública é testemunha apenas do descaso governamental. E o pior de tudo, é que para isso não se tornar tão notório, o governo agora quer mascarar essa deficiência usando COTAS para as escolas públicas. Isso é vergonhoso. Isso é ultrajante. Por mais benefícios que possa trazer, ainda assim é exemplo de um descaso das estruturas políticas.
Que o governo torne as escolas públicas competitivas, que ele invista pesado na educação, que honre as verbas disponíveis e direcione as mesmas para equipar seus celeiros de grandes cérebros. Se assim o fizer, ele não precisará dar brindes, conceder presentes. Cada vez mais está parecendo um pecado ter condições de pagar pelo ensino no Brasil. Usando essa ideologia (forma de manobra de pensamento) o governo está provando que não governa o nosso país, mas prepara uma série de propagandas de resultados efêmeros, passageiros, e que não resolvem o nosso problema.

UM PARECER SOBRE O FIM DO MUNDO (se puder, repasse)

Seria correto afirmar que o mito do eterno retorno é plausível? A questão que remete à origem do ser sempre foi uma constante, e agora não é diferente. Tanto para evolucionistas como para criacionistas a origem exata está barrada num ponto de onde é impossível prosseguir. Para os primeiros, o átomo primordial, base para o big-bang é a base fundamental para além da qual não existe explicação. Para o segundo grupo, Deus é a máxima explicação, é o ponto máximo onde se chega. E agora a pergunta que se aplica é: Será que existe um ponto para além do qual é possível prosseguir? e outras surgem na sequência: Estariamos nós, homens e mortais aptos a descobrir a máxima origem das coisas? Onde habita o primórdio da criação, ou evolução? Chegaremos algum dia a causa causadora de todas as outras causas que não foi causada por causa nenhuma? Chegaremos ao primeiro motor?
As perguntas não apresentam relevância científica talvez, mas a curiosidade que elas causam é impressionante. Afinal, é necessário entender a partida para compreender o destino, ou seja, se eu não consigo responder de onde vim, como responderei para onde vou? Se a vida for apenas um emaranhado de energia e matéria, estamos perdidos num conjugado complexo de fusões e uniões, o que seria no mínimo desesperador para seres presos ao materialismo como nós. Do contrário, se a vida apresentar um objetivo, uma função de ser, ela precisa ter uma causa traçada, estabelecida e definida. Mas traçada sob a ótica de qual idéia? E aqui não quero apenas apresentar um fundamento religioso, pois até a ciência admitiu recentemente a possibilidade de que a própria evolução pode apresentar objetivos de perduração da espécie. Perdurar não é o problema principal, e sim até quando perdurar? Até quando a vida se estabelecerá no planeta?
Por mais otimistas que sejamos, devemos entender que num futuro distante, a ordem natural é a extinção de nosso sistema. Precisamos apenas seguir a lógica de que como qualquer outra estrela o sol também poderá "se apagar" e aí a energia, tão necessária para nossa sobrevivência irá faltar, e dessa forma bye bye vida. Se concebermos a visão do fim religioso, então aceitamos a possibilidade da salvação para alguns e perdição para outros. Da mesma maneira chegamos a um ponto questionável: Qual a razão de tudo isso?
Realmente o mundo não deveria ter um formato esférico, mas ao que tudo indica deveria se apresentar em forma de um ponto de interrogação. E nós apenas os questionadores incertos e curiosos diante de todo o cáos que se aproxima.