domingo, 24 de maio de 2009

AFRODITE SEM DIZER!

Que espécie de dor a morte traz? Seria como a sensação da palma perfurada pelos espinhos da flor que satisfaz? Seria como o trovão, estourando os tímpanos do ouvido mordaz? Ou como a carne queimada pelo fogo, fogo do inferno, moradia de Satanás?
Não experimentei, não sucumbi, apenas constatei que nessa noite estou aqui. Nas gotas que caem, enquanto a lua reflete, brilhos siderais da chuva que se repete. Noite dos amores que cuidam de mim. Cuidam da minha alma, refrigeram minha boca. Acariciam e me acalmam, tornam audível minha voz rouca. Repetem o quanto me amam, cada um do seu jeito, cada forma como um guia, cada guia com seu respeito.
Nas cordas eletrificadas que agora contam seis, pulei durante a madrugada quando chegou a minha vez. É o violão do espaço nobre, é o som que não quer sair. Ricos, miseráveis ou esnobes, digo a eles que não moro aqui. Não acendi a luz na estrada, não furtei o alívio certo, não quero a pena ali guardada, quero escrever com você por perto.
Nas horas de agonia, em desespero pelo amor, percebo o quanto é fria, a vida sem seu calor. Se em dias de outono, o inverno viesse me buscar, saberia que o retorno, esperaria para me esquentar.
Trabalho com a alma ardente, com a dor que meu corpo fez. Peço então clemente, o socorro da minha vez. Raios e trovões, raios e trovões. Não são dias sem o sol, não são poesias sem convulsões. O coração parou, o coração parou. Ficaram soltas as palavras, nessa sílaba que sobrou.
Não quero a alma pura, a pureza me faz mal. Quero que a vida sua, seja a fonte do meu quintal. Eternizada nas águas a correr, eternizada nas águas a correr. Vista-se de branco nessa madrugada e espere o amanhecer. Você cultivou o amor. Amor que quero tanto. Viu minha vida, toda vida, a felicidade colhida nas campinas do meu pranto. Verá meu corpo morrer. Verá meu corpo morrer.
O presente segue lento, recomenda sua lei. Te amo há tanto tempo, tenho a impressão que sempre te amei. Não é apenas um segredo de túmulos selados, é o amor que perde o medo, de virar apaixonado.
Ontem, agora é uma lembrança, que minh´alma guarda com fervor. Tem guardado em seu peito o cofre forte desse sonhador. Se quisesse poderia, todos meus planos lhe contar, só então saberia a hora certa de chegar. Qual a chance, porém, dessa vela de rudeza, guardar no seu espírito do além, o sinal da sua surpresa?
As vezes digo coisas, que meu coração já reprovou. Deixo marcas tão escusas, feridas marcadas no calor. A desculpa me visita, peço para lhe entregar. Essa culpa que me agita, por palavras desejar. Não que a rudeza seja convite, não que o ser áspero me tomou. É por pureza que o corpo grita, quando a razão já reprovou.
Façam soar os sinos, a noiva está chegando. Avisem os meninos, o complicado homem está casando. Ensinem o quadro negro a escrever seu sinal sozinho. Digam aos de cima e aos de baixo, agora encontrei vizinho. Conheço a tua íris, reconheço a sua idade. Sinto que nossas mãos unidas, já atravessaram a eternidade.
CUMPRA-SE!

3 comentários:

Daniel Cittadella disse...

Se pudessem resumir sua poesia... diriam, quem sabe, sinestesia. Uma mistura de sentidos, sentidos insandecidos que fariam do mais comum leitor experimentar, em um só ato, o azul da alegria e o vermelho da dor.

Fantástico, mais uma vez.
Abraço

Edson Barcellos disse...

PRIMEIRAMENTE: qro agredecer pela visita ao meu blog e parabeniza-lo mais uma vez pela bela postagem, sinto grande satisfação em ler suas postagens.
Como dizia Heinrich Heine:

Nunca admiro o ato ou o fato, mas apenas o espírito humano. O ato, o fato, são vestimentas e a história não é mais do que o velho guarda-roupa do espírito humano.

Sáá disse...

De nada adianta belas palavras, se há demasiada falta de espirito.
Estas, não encobrem atitudes.
;)