sábado, 16 de maio de 2009

NÃO DIGA QUE ME VIU ALGUMA VEZ!

Para você que julga entender os segredos do universo, saiba que eu também já busquei essa resposta. Para você que espera sedento pela fonte que jamais acabará, acredite, ja tentei tomar dessa água. Já estendi a mão para amores eternos, enquanto a criança que estava dentro de mim buscava uma árvore para subir, coisa que nunca fiz. Corri com as pernas curtas de um menino, buscando vencer a maratona de outras idades, e discutir a filosofia com velhos senhores, mais cheios de si, do que de vida. Chorei diante do medo de perder minha mãe, e se isso acontecesse uma parte de mim morreria junto. Com certeza a parte da minha felicidade virgem. Chorei de espanto quando minhas lágrimas secaram após a morte de meu pai. Até hoje aguardo o pranto atrasado, de um velório que já passou.
Já tentei entender o que acontece comigo, sair do fundo do mar, e encontrar na superfície um abrigo. Já tentei encontrar minha estrada, já busquei saber a que horas partiria o último barco que me levaria ao conhecimento de quem sou. Percebi então que guardava uma passagem que passou, uma viagem atrasada. Desisti de tentar aparecer nu. Desisti de atrair os olhares para mim. Descobri a discrição de um anônimo fantasiado, o problema foi que todos conheciam a fantasia. Rompi com as batinas da fé no auge dos meus 9 anos e vesti o terno da crença. Deixei de lado as harpas celestiais, e abracei a distorção de um cubo valvulado, bom para quem pensa. As batidas que marcavam o tempo dos sustenidos e bemóis, foram trocadas pelos três acordes viscerais. Fiz versos poéticos com palavrões descartáveis, e tentei convencer as rotas convergentes da minha cabeça, de que eu caminhava com passadas incalculáveis. Queria a exatidão para clarear meus objetivos. Perdi tempo, perdi os motivos. Continuei sem sucesso, prossegui conversando com meus sonhos indecisos.
Protegi minha fraqueza num corpo grosseiro e de modos hostis. Nunca soube ao certo como parecer natural, e a cada tentativa frustrada, uma nova decepção subia ao posto dos troféus. Fui um colecionador cuidadoso, e programei meu plano audacioso. Aproveite seu dia. Aproveite seu dia. Era a frase que a voz insistia em dizer. Garimpei ouro em grutas vazias. Plantei diamantes em câmaras frias, e fiquei triste quando eles congelaram sem ter o que oferecer. Talvez um lápis fosse suficiente, para marcar as folhas presas no tronco da árvore que plantei em mim.
Tudo é superficial demais. Quando eu for embora, deixarei essa superficialidade contar minha história, para aqueles que também foram superficiais em minha vida. Falo por horas e horas, sem saber para quem estou falando. Alguém entende? Não estou bem certo se me importo com isso. Apenas não queiram julgar aquilo que lhes é desconhecido! Os ouvidos estão distantes, ouvindo aquilo que todos querem ouvir. Um em todos, todos em nenhum.
Tenho a impressão de que viajei longe demais, e na minha montaria, apenas um cavaleiro segurava as rédeas da minha vida. O problema é que não sei cavalgar. Quem então estava ditando e ritmo do trote para aquela espécie da Andaluzia? Sou o cavaleiro desgovernado? Sou o contador de histórias impressionado? Sou o poeta machucado?
Sou o que sou! Vivo a minha maneira. Não importa para onde vou, sempre acharei a saída. Não importa quanto viva, viverei com a certeza da vida inteira. Entendi que quero mais do que posso ter, e que a vida é pra ser vivida. Ainda não aprendi porém, como viver dentro da expectativa de uma morte certa. Tanta coisa para experimentar, e tão pouco tempo para viver. Nada passa despercebido. Minha vida, meus frutos, minha comida, minha dor de barriga. As flechas quebradas do cupido foram o único prato do meu banquete. Vomito agora restos de amores que não consegui digerir. Crenças que me salvaram, mas hoje me fazem mal.
Nunca quis ferir, nunca quis brigar, nunca quis machucar. Tomando todo esse cuidado porém, lancei lágrimas em olhos distantes, e fiz da minha súplica, a dor latente que nunca desejou acontecer. Tenho uma cabeça que é só minha, e contra a vontade, ela criou um mundo só meu. Agora em passos tortos, pela pena caminha, e vai buscar aquilo que se perdeu. Onde deixei cair a simplicidade que nos alegra? Onde deixei o dom de Maria Maria?
Agradeço os pensamentos que tenho. Escondido sob essa capa de arrogância que criei para me proteger, sempre fui um réu disposto a aceitar a sentença, o resultado inexato dessa dialética de propostas incertas! A complexidade com a qual vejo o mundo me fascina. Nunca comprei problemas, nunca pedi para ser um dissecador profundo de coisas fáceis. Nunca quis minha cabeça complicada, ela simplesmente estava aqui, sobre meu pescoço, quando nasci. Se ela me fizesse feliz, poderia quem sabe sorrir o tempo todo. A cada conhecimento novo porém, um motivo maior de angústia torna-se palco da minha dança. Não sei o compasso que devo seguir, e meus pés se perdem diante das batidas do marcador. Danço sozinho, canto sozinho. Falta um parceiro de noites longas que entenda essa dor. O estrago já foi feito, a perfeição se despediu. Dores vivas no meu peito, saga doce desse ardil.
Queria ser mais simples, ser simplório, rir das desgraças da vida, chorar cenas de despedida num velório. Queria ser mais simples, ser simplório, comemorar a partida vencida, degustar meu prato de salada com óleo. Ver superficialmente o mundo, acertar o relógio no horário de verão, não achar que a ignorância é um absurdo, correr no aniversário para segurar o balão. Não sou assim, e não pense que isso é bom. Estou fora do tempo, estou passando por aqui. Não pretendo viver para sempre, e sigo a viagem desesperado. Se atrasado ou adiantado já não sei, a certeza que tenho, é a de que para viver todo esse tempo precisei criar a minha lei.

7 comentários:

Unknown disse...

Escondido sob essa capa de arrogância que criei para me proteger,. Nenhum ser humano se mostra realmente como é, pois ficaria sem defesa. Maraaaaaaaaavilhoso seu texto.

Unknown disse...

Muito bom texto professor
Ass: Laka :D

Sáá disse...

Amei Che.
Parabéns, sempre
surpreendendo.
Beijos

Unknown disse...

"Estou fora do tempo, estou passando por aqui. Não pretendo viver para sempre, e sigo a viagem desesperado."

nos seguimos, porem nos SEMPRE estamos SEGUINDO COM A VIAGEM!!!!!!

eterna saudade

Juliana (su)

Bruninha disse...

"Nunca soube ao certo como parecer natural"
e quem sabe??

Adorei!!

Daniel Cittadella disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Cittadella disse...

Che,
Tão visceral quanto Cazuza e com a sutileza do Renato...

"Queria ser como os outros, e rir das desgraças da vida, ou fingir estar sempre bem, ver a leveza das coisas com humor. Mas não me diga isso" (R.M.J.)

Abraço,
Daniel (Lobo)