O velocímetro chegou a 200km/h enquanto eu corria para
encontrar. O vento fazia companhia para meu peito enquanto ele ainda podia me
acompanhar. Não me importei com o
combustível que dizia adeus cada vez mais depressa. Só queria chegar, encontrar
um colo e receber um olá! Quis demais!
O óleo fervia
enquanto jorrava da fenda esguia, lubrificando o motor que eu fiz trabalhar.
Pensei em todo o traçado da minha tarde e prometi chegar antes do anoitecer. Quão
idiota eu fui ao pedir pra noite demorar um pouco mais. Aprendi que não devo antecipar o certo para
não me chocar com o acidente do acaso. Atravessei o grande rio sentindo o chão
trepidar e o céu com um sol descendo livre, parecia que tremulava quando olhado
de dentro do carro que eu estava. Eu corria para um abraço, para um beijo ou
para um cheiro como era o costume. Não tive braços, engoliram a boca e o nariz
se perdeu no som do seu volume.
O destino calado sorriu banguela pra mim. O crânio ensaguentado
num turbilhão dobrado esperava pelo fim. Ossos que se dobram no buraco da
terra. Enterro da platéia afogada pela
peça. Cinema destacado no tema da
conversa. Praga fiandeira que foi envenenada e envenenou. Que homem apavorado!
Sozinho num bocado pediu um prato de sopa e fez da calçada sua cama de
refeição.
Não peço nada além da lógica, não peço nada além da
informação. Sou culpado pela mão que esmaga meu peito? Sou culpado por ter
inventado uma história que na estrada se escreveu tão bonita, mas que na chegada
se mostrou inexistente? Agora me atrapalho com os dedos e embaralho minha
ideia. Eu sempre aviso, sempre digo e peco pelo exagero das letras entregues.
Que merda de analista eu sou. Filha-da-puta é a lamúria do meu corpo parado.
Não quero círculos de fogo, eles podem arder demais num cemitério estúpido.
Eu corri pela espera, mas a espera não esperou
a corrida. Quem sabe se eu tivesse demorado mais, se não quisesse chegar à
tardinha, deixando assim a noite me envolver. Mas o mochileiro das letras
podres não fez valer o costumeiro horário. Esse idiota de velas derretidas deve
ter engolido uma droga qualquer que lhe derreteu a razão. Não sei, não sabia,
não soube! Na omissão das informações sinto o peso do passado voltando. Fiz
promessas e as cumpri e um pouco de vontade talvez ajudasse a pensar em mim.
Agora me jogo nessa folha e a transformo no cenário da minha
liturgia. Comi demais, tentei vomitar e não consegui. Pensei em olhar o céu,
mas quero que ele cale a boca junto com qualquer um que queira me obrigar a falar. O único gosto que minha boca sentiu foi o suor
amargo do cuidado que não chegou. Agora desperdiço os minutos tentando
encontrar aquele bom humor que trouxe comigo. Vejo os minutos se despedindo
conforme eu me afasto do tempo que não volta para o meu bolso. Às vezes sou
cruel comigo mesmo, mas minha maldade só é má porque ela aprendeu. Sou obrigado
a despejar no lixo o plano ousado que solfejou no fixo. Nesse recluso poder da
imaginação é fácil desdobrar os quadros de uma galeria, mesmo sabendo que só
tenho uma pincelada à disposição. Ergui no patamar as paredes mágicas e não
percebi que me faltaria o sólido. Justamente na tarde que eu precisava
conversar...