Tenho nos lábios vivos o gosto do último copo de sorriso.
Embriagado pela poesia, apaixonado pelo cinema, empolgado por uma discussão que
esses Bestas Heróis de Trapo achariam enfadonha demais. Passo minutos em
circunstâncias que me custam boas inspirações. Ironizo a sátira para mastigar o
descaso e torná-lo inteligível aos inertes que perdem em inteligência até para
os botões da minha calça.
Desprezo a ignorância
dos imberbes que se auto-proclamaram senhores do universo. Só se for um
universo de diamantes de vidro, de soluços intelectuais e cultura saboreada
numa refeição digna de uma hiena. No universo deles eu cago e vomito palavrões.
Afogo o último verso do poema nas minhas inquietudes para não correr o risco de
ver a poesia e a prosa cometendo suicídio ao passar pelas bocas porcas que nada
tem a dizer.
Mas viajo naquilo que me apetece. Viajamos pelas águas
caudalosas de um rio de piche. Bebemos
as nossas necessidades como um sedento se satisfaz num Oasis após uma jornada
seca, onde até seus ossos estiveram ameaçados de se esfacelar. Minha garganta
só grita as frases que ela aprendeu durante sua história. Enquanto os
sonolentos dormem, é no meu palco que as apresentações acontecem. O show
arranca suspiros, leva multidões a um delírio entorpecente de espasmos e
contrações. O rosto se desmancha nocivo num balde de alívio que provoca
consternações. Meu amigo está na hora de parar.
Nossa cabeça nos
fortalece, nossas imagens nos fortalecem. Nossos sentidos nos fortalecem.
Percebemos a nitidez espalhada das lembranças na folha alva que trazemos como
acompanhante longínqua. Uma moeda, uma folha de papel. Alguns trocados para
criar uma história que se tornará viva depois que eu me tornar um deus.
É estranho que enquanto pensamos, outros estão comendo,
fodendo, fedendo, morrendo. Alguns estão saudando, suando, sovando, saindo.
Faço a folha chorar, espremo o papel para tirar dele o suco que beberei como o
mapa do paraíso. Torço letras, assopro tinteiros, crio de veneta algumas praças
de letreiros. Esbanjo cores num embaçado de nuances que podem sombrear a minha
tarde ou anoitecer minhas expectativas. É remoto, é salobro e nada apetitoso,
mas é o produto das minhas espoliações.
O vicio regenerado posto sob o pedestal da virtude. O cálice
abominável guardando um avental púbico exige que a noite ouça mais um desabafo
das nossas bexigas, e as plantinhas recebam a chuva urinária daquilo que melhor soubemos preparar. Não podemos lavar as
mãos, as torneiras não existem por aqui. Seca-se o rosto na vaga sensação da
agonia. Vingar a intempérie do nosso
juízo talvez fosse uma boa maneira de começar um auto de penitência. Seria uma
“mea culpa”? Acho que está mais para
uma “máxima culpa” e choramos depois
de mijar na relva. Ainda bem! Torço pra não chegar o dia em que eu ouçamos o
choro e sintamos o mijo.
3 comentários:
"Bebemos as nossas necessidades como um sedento se satisfaz num Oasis após uma jornada seca, onde até seus ossos estiveram ameaçados de se esfacelar. Minha garganta só grita as frases que ela aprendeu durante sua história."
"Percebemos a nitidez espalhada das lembranças na folha alva que trazemos como acompanhante longínqua."
;@
É estranho que enquanto pensamos, outros estão comendo, FODENDO, morrendo.
É o ciclo meu amor Caaail
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