Sinto você na pele que cobre
meu corpo, sinto seu gosto na memória de um presente constante. Satisfaço a
vontade de seus beijos lembrando os beijos que demos. A saudade é aquilo que
faz o tempo parar e que também faz as coisas pararem no tempo. Nessas horas
tenho vontade de sentir você deitada perto de mim. De ver seu sorriso perdido e
seu jeito fechado que resiste em falar. Interpretar você sempre foi um desafio
que enfrentei com muito prazer. Pensar que passamos dias em paz, afastado de
tudo e do mundo, criando um mundo que só nós conhecíamos e somente nós sabemos
onde está. A saudade é aquela dor que dói por dentro, dói no peito e deixa a
angústia de que o cheiro está se dissipando no ar. Mas dizemos tchau. E quando me lembro da
despedida sincera em cada aceno, sinto a
solidão me envolver e roubar minha tranquilidade. A distância parece que nunca
mais será superada. Exagero talvez? A saudade é sempre exagerada. Ela não sabe
distinguir segundos, horas e dias.
Pra que se explicar quando não
existe explicação? Queria sentir seu coração perfeito batendo em meu peito com
você deitada em meus braços. Ouvir radiante o sorriso de uma brincadeira em
sinal de cumplicidade. Congelar o
instante em que dividimos o mesmo lençol. Congelar a fotografia dos nossos
rostos se olhando e tentando captar o momento para guardá-lo fiel na memória.
Falar de um jeito que só a gente entende, sentindo os pés deixando o chão e
sermos invadidos pela sensação de que realmente valemos a pena.
Saudade é um pouco
como fome. Só passa quando se come a presença, quando se devora a revelia os
gestos, atitudes e carinhos. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a
presença é pouco! Saudade é não saber.
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, as horas que
resistem a romper a escravidão do peito. Saudade é um não saber como frear as
lágrimas diante de uma música ou de uma lembrança que se autoconvida sem saber
que é muito bem-vinda. Ao mesmo tempo digo que saudade é não saber como vencer
a dor de um silêncio que nada preenche. Essa vontade de um ser o outro para uma
unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Saudade é solidão acompanhada, é quando o querer ainda não foi embora, mas
a alma querida já. É quando não se queria dizer até logo, e a separação parece
um adeus. Saudade é amar um passado que ainda não passou, é
recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida. Saudade é
sentir que existe o que naquela hora não existe mais. Saudade é o inferno dos
que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é
o gosto de silêncio na boca dos que continuam. Só uma pessoa no mundo deseja
sentir saudade: aquela que nunca amou. E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver. O maior dos sofrimentos é nunca ter
sofrido.
4 comentários:
Lindo. Perfeita. Vc que escreveu, Che?
Muito lindo
Vivo???
saudades
Cassy
Perfeito, objetivo, profundo e sincero,
Será este um sentimento real, que sentes no momento ou algo profundo, apenas para reflexão?
Abraços, adorei suas aulas pela Alfacon!
Você é brilhante, parabéns!
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