
A máquina também tirou da frente de trabalho os menos capacitados. Isso refletiu num movimento conhecido como Ludismo, onde os trabalhadores quebraram as máquinas, nutridos pelo desejo de obterem seus empregos de volta. Mas o que aconteceu foi totalmente o inverso. O movimento acabou forçando os industriários a comprarem novas máquinas e desenvolver novas tecnológias. Pela primeira vez Máquinas 1 x 0 Homem.
A grande saída no século XX então foi transformar o homem em máquina. E não me refiro ao Robocop ou outras fantasias fictícias. Escrevo aqui sobre o homem de verdade. Com sua rotina louca e muitas vezes doentia (sinto-me dentro desse grupo). Essa rotina não respeita doença, gosto, vontade, família, tempo. Ela exige constantemente uma disposição da qual as vezes estamos famintos. Estamos entregues ao mercado. Na ânsia de sempre fazer melhor acabamos nos desfazendo do que temos de melhor. Nossa saúde comprometida, nossa família sozinha, nossa vida correndo risco de se perder numa estrada qualquer, ceifada pelo tempo escasso que nos forçou a optar pelo mais perigoso. Tudo isso serve apenas para nós tentarmos manter um estilo de vida que escolhemos. Nosso status consome nossas energias. Trabalhamos tanto, e para quê? Nem ao menos temos o tão preterido tempo para descansar.
É claro que o trabalho é uma necessidade nos dias do império capitalista global. Estamos observando uma anulação do indivíduo em função do trabalho. O homem está perdendo sua identidade nos cartões ponto de suas empresas. O homem está sendo substituído por números de seguro de vida, PIS/PASEP, Carteira de Trabalho e outras exigências numéricas, quase chegando ao infinito. O problema está no fato de que nós, seres humanos, não temos garantia e muitas vezes conserto. Estamos aqui para um uso exclusivo e único. Temos um limite, e esse limite não se amplia com descobertas científicas que melhoram nosso funcionamento. Tudo bem que a saúde evoluiu muito. Mas não estou com a mínima vontade de usar as descobertas médicas, que visam melhorar a qualidade de vida, a favor de um patrão. Gostaria de usá-la para meu prazer e satisfação. O problema é que como tudo na vida isso é um ciclo vicioso que nos prende a cada tentativa de libertação. Estamos entregues à sina de viver uma vida de trabalho e trabalhar uma vida inteira. Louvados sejam os gregos que afirmavam o ócio.