terça-feira, 9 de junho de 2009

ASSOVIO

Está cinza. Está frio. Quentes vendavais deixaram o tempo, choveram as pretensões do azul. Ficou uma sensação que não lembro, talvez as água dos mares do sul.
O dia revelado em sua forma negativa! Lembra uma foto que não teve tempo de virar retrato. Esconde-se sobre as nuvens, um sol tímido com vontades ocultas. Não tem força para disfarçar sua tristeza, e deixa que o véu da tarde gélida cubra suas intenções, soterrando seu enigma de calor.
Uma tarde monocromática se levanta imponente, e desenrola o pergaminho temporal que nos fará tremer. O tempo mudou. A esperança da extensão outonal foi ultrapassada na escala decrescente, pelos termômetros que conheceram as profundezas do torpor. Entregaram-se sem medo ao desconhecido, e buscaram cavar o buraco gelado, que agora nos envolve como um túmulo, protegendo aquele que da vida se despediu alado.
Vida que o sol aqueceu. Sol que a vida nos deu. O sentido pleno do calor jaz enfraquecido, o luar quente adormeceu. Clamores de fogo rompido, recluso em seu jazigo. Castelo de areia. Pequeno mausoléu.
A vida é um jogo, do qual jamais sairemos vivos. O frio é um amigo, que jamais nos deixará aquecidos. Indica o quanto nossas mãos podem suportar, e permite, quando envolto em cachecóis coloridos, crer que o peito irá agüentar.
Pescoço escondido e olhar desnudo são preciosos pedidos, implorado em preces com mãos de veludo. Essas mãos que juntamente com os olhos miram o infinito, pretendem acertar aquele alvo agora aflito, concedendo ao pecador o direito de beijar.
Lábios congelados, lábios derretidos. Lábios com sabor de fruta, lábios arrefecidos. Guardados sob a tutela do pensamento solto, depositados em cofres, pelas ações envoltos.
Quanto tempo dura uma tarde fria? Talvez o tempo suficiente para se pedir calor. Tempo necessário para um ator, encenar sua ceia parca posta sobre a mesa vazia. Foram deixados os pedidos, mas o garçom não pode vir, ficou extasiado e perdido, congelou o choro, não pode rir.
Que o calor da alma densa, aqueça os lábios daquele que pensa. Que as palavras quentes da imaginação, mostrem que é possível um sonho de verão, um sonho de outono, um sonho de primavera, um sonho de redenção. Não faz muito quem espera, aguarda os tiros de canhão, o calor poderá vir da pólvora, do fogo ou da própria intenção.


3 comentários:

Anônimo disse...

"A vida é um jogo, do qual jamais sairemos vivos. O frio é um amigo, que jamais nos deixará aquecidos. Indica o quanto nossas mãos podem suportar, e permite, quando envolto em cachecóis coloridos, crer que o peito irá agüentar."
ando aprendendo um tanto sobre isso.

ótimo texto, estava com saudades de vir dar uma lida nos teus post's.

Bruninha disse...

Temos a tendência de gostar daquilo com que nos identificamos.

Gosto de seus textos!
Beijos

Unknown disse...

Que as palavras quentes da imaginação, mostrem que é possível um sonho de verão, um sonho de outono, um sonho de primavera,(Não importa em qual estação seja o sonho, o importante é sonhar; e o mais importante é a luta para que o sonho se torne realidade.Amei o texto.