sexta-feira, 27 de novembro de 2009

NA CASA ONDE ESTAVA SOZINHA



O dia se separa da noite com beijos de despedida ao amanhecer. Ele dá seu adeus de forma singela, quase discreta, forçando inclusive uma maneira certa de não aparecer. Esconder nas entranhas dos raios da manhã, todos os segredos cultuados pelos espectros dos sentimentos noturnos. São as coisas que precisam ser escondidas que escrevem boa parte das nossas vidas.

Piedade dos céus para todos os santos sem amor. Piedade para as línguas que se preocupam com o gosto das nossas aventuras. Que essas línguas queimem sob o peso da infelicidade, já que pertencem a corpos insanos, tão insatisfeitos consigo que não se preocupam em dizer coisas sobre a própria vida, antes olham a vida daqueles que lhe atraem, justamente por viverem da maneira mais descabida para essas cabecinhas animais.

A baixaria é o alto da existência, quando ela está de cabeça pra baixo, beijando flores em vasos rasos e sequestrando soldados fracos nas trincheiras condenadas pela morte certa. A separação das estrelas de sua luz e a força da bomba sem a explosão me fizeram acreditar que o ridículo das frases prontas está na intensa reflexão das palavras de adeus. Eu não conheço a morte, não me preocupo com as ações alheias. Não me interessa para onde vão as pessoas, e nem quem seus braços apoiaram como consolação de uma tentativa ligeira. Minha preocupação é o que fazer com a imortalidade do meu sentimento.

Ele abocanha letras, invade páginas. Ele distancia as notas das canções simples, para transformá-las em melodias complexas, tocadas sob a inspiração de um verdadeiro coração apaixonado. Qualquer acorde se transforma numa sinfonia, e qualquer letra vira sob a ideia do amor, uma límpida e aparada poesia. Minha sensibilidade extravasa os limites das minhas regras. Procuro entender a origem do medo, a origem da angústia.

Enlouqueço meus pensamentos e entorpeço meus sonhos para tentar descobrir quem sou e saber onde estou. É nessa procura desenfreada pelas sensações múltiplas das oportunidades que encontro o desejo intenso de querer que a vida me leve para onde eu nunca poderei levá-la. Que ela me conduza em passos decididos para o labirinto dos beijos aquecidos. Beijos de uma parede apenas. Beijos de um corpo escolhido. Beijos diferentes de uma única fonte: A sua boca!

A solidão será abandonada, e o século buscará outra praga para celebrar.

Quero contar minhas besteiras em clássicos que ocupem as prateleiras dos pensamentos simples e os enriqueça com a saudade do silêncio noturno.

Quero viver o luxo e o lixo da vida. Encontrar a paisagem oculta nas formas opacas de um quadro em grafite. Acostumar-me ao prazer das suas mãos escrevendo meus dias. Quero provar o reencontro em cada véu de despedida. Quero abraçar a saudade no momento da chegada e guardar seu cheiro aceso na lareira da invernada. Não quero que você veja meu passado, quero em você meu ponto de partida! Quando notei que a maior presença nos meus pensamentos era a sua ausência, percebi que somente contigo meu corpo encontraria paz.

2 comentários:

kinha disse...

maravilhoso, como sempre !
senti saudade de comentar aqui:D

Tainara Siqueira disse...

"Não quero que você veja meu passado, quero em você meu ponto de partida! Quando notei que a maior presença nos meus pensamentos era a sua ausência, percebi que somente contigo meu corpo encontraria paz." Profundo, adoro seus textos as vezes parece que sou eu quem escrevo certas partes.