domingo, 2 de janeiro de 2011

CAVALEIRO DO ZODÍACO


Dos precipícios desse universo nebuloso lancei meu espectro.
Não muito certo da sua missão, ele viajou pelas profundezas desconhecidas das constelações e tocou os pilares da criação. Fez das explosões estelares seus fogos de regozijo. Proclamou a si como o padrinho nas novas galaxias, e a pontos luminosos perdidos na imensidão do que é simplesmente tudo, deu nomes que refletiam sua busca por um ambiente conhecido.
Visitou o círculo de animais e investiu-se defensor e arauto de cada uma daquelas figuras, com as quais partilhou seus dias sem horas, já que o tempo havia ficado congelado num plano meramente racional.
Com o carneiro ele compartilhou a lã, e aprendeu sobre a arte da guerra que o haviam transformado no próprio deus das batalhas. Áries foi seu defensor e companheiro. Com o touro ele aprendeu a força da persistência e o valor de uma boa discussão por causa da teimosia. Percebeu duas figuras semelhantes, e geminados em três entenderam que cada ação poderia ser refletida no outro, aprenderam assim que o impacto do que se fazemos se faz sentir no plano universal. Com o caranguejo soube compreender que nem sempre as metas estão na nossa frente, basta procurar e mirar os objetivos, estejam lá onde estiverem. O susto foi grande com o rugido do leão. Um rugido que rompia o conceito físico de que o som não se propaga no vácuo. Ele praticamente berrava com a força de seus pulmões felinos e impunha sua vontade de rei. Mas percebeu que não resistia a uma aproximação destemida, e vencida a barreira criada, mostrou-se o mais carinhoso dos animais.
Banhada nos rios de águas brilhantes estava a virgem. Mostrou o valor da inocência, a força da observação e a cor da pureza, perdida entre animais, se impunha como unica forma repleta de alento.
A balança era algo muito sensível! Ponderava, refletia, decidia, e emitia suas opiniões após avaliações que se mostravam matematicamente exatas!
Surpresa com o escorpião. Seu ferrão não era um ataque, mas uma defesa, sua armadura não era uma lança, mas um escudo. Sua desconfiança estava nas possibilidades distantes, e talvez por isso não vivesse intensamente como todos os outros com os quais havia conversado.
Dos campos celestes se ouviu um galopar. Pernas fortes como um cavalo da andaluzia, tronco ereto como um estadista platônico e o dualismo constante e eterno daquele que trazia sobre si a força de um animal e o coração de um humano. Seria capaz de ser extremamente grosseiro e sem perceber abraçar carinhosamente num tom fraternal. Com ele a conversa rumou ao infinito.
A cabra do mar observava e intensamente me dizia que o caminho estava quase terminado. Meu rol de conhecido tinha aumentado num piscar de olhos. Vale lembrar que aqui, um instante é quase eterno, e passa lentamente.
Preso numa redoma de vidro, a consciência relutava com os limites. A água se fechava num espaço único e praticamente impossível de observar.
Para sair dali e continuar explorando o inacreditável olhei os peixes. Navegavam pelas águas do sabor vital. Buscavam os brilhos dos espaços siderais e sonhavam com a eternidade que estava cada vez mais próxima, ao passo que a morte já não era um medo e o fim estava cada vez mais distante.
Foi puxado pelo cometa, que com seus rastros luminosos dava ao céu novos tons cromáticos,
Meu espectro se materializou e refletiu em cada estrela conhecida um pouco do eu que guardava como sepultado. Não tinha mais segredos e não tinha mais dor.
Desrespeitei as rotas, as esferas e os limites do infinito universal! Procurei saber até que ponto os recônditos do nosso espaço eram conhecidos e possíveis de explorar pelo até então espírito (e agora matéria) de um curioso das rotas celestes.
Procurei Deus no vazio do infinito e não o encontrei no céu. Percebi que ele estava mais dentro de mim, além das camadas possíveis de observação, foi então que conclui que existia um universo maior e mais inexploarado ainda. A viagem teria que começar outra vez!


2 comentários:

hesseherre disse...

"Procurei Deus no vazio do infinito e não o encontrei no céu. Percebi que ele estava mais dentro de mim"
ESTA FRASE É A SÍNTESE DESTA MARAVILHA, CANÇÃO SEM MÚSICA, AFINAÇÃO SEM PIANO, ORGASMO DOS SENTIDOS.PARABENS, ÉS GRANDE DEMAIS, CHE!

kinha disse...

Muito bom! Muito filosófico, daria uma ótima discussão !
beijos