Esse caos urbano é tão desumano, sub humano, suburbano e
animalesco. Feras rugindo suas palavras de ordem, arrotando seus planos futuros.
O homem conta seus sonhos pelo ponteiro do relógio, mede sua vida pela
quantidade de seus bens e desvia seu olhar das florestas vivas para os prédios
que arranham os céus, como se quisessem provocar a ira de Deus. Nessa perdição
cosmopolita, o charme se desmancha no ar, e a fumaça dos canos automotores só
desperta a ansiedade por saber que se esquece de onde vem, e não se sabe para
onde vai.
Animais humanos pedem passagem, vomitam nos horizontes
reclamos de rendição. Não suportam desperdiçar a vida em danças que movimentam
corpos que já morreram. A cidade cheira concreto, cheira cimento. O sangue
jamais poderá correr pelas veias desses casarões que alucinam o transeunte e o
tornam mais um solitário escondido sob a alegoria da satisfação.
Fosse uma fábula, fosse uma mágica, fosse um sonho que
trouxesse a realidade com o despertar. Mas a cidade já está acordada, ela nunca
sonha porque ela nunca se põe a dormir. Como poderia então almejar algo mais
surrealista do que a própria experiência concreta de seus braços que escondem
abraços sob o cansaço de quem a desafia?
Arrependida ela lança seus filhos ao ventre marginal dos
seus subúrbios. Produz seus construtores, seus espectadores e seus assassinos.
Monta sobre a cabeça dos sonhadores e esmaga a perspectiva de uma terceira dimensão.
A cidade é assassina, é prostituta, é lasciva e, constantemente dá de beber o
vinho da sua fúria àqueles que nela confiam.
Um comentário:
'Como poderia então almejar algo mais surrealista do que a própria experiência concreta de seus braços que escondem abraços sob o cansaço de quem a desafia? '
Como almejar? se o querer está preso a algo sem vida, transitório e ausente de sentimentos...
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