terça-feira, 11 de novembro de 2008

VERBOS NÃO FAZEM MEU ESTILO

Sua boca entendeu o que eu quis dizer, quando sem nenhuma palavra eu pude me expressar. Pode me entender quando seus braços puderam me enlaçar. Seus lábios, ainda que desejados, não tinham me pertencido até então. E nesse resquício de razão, depositava minha segurança. Sabia que quanto mais o tempo fosse aliado, mais possibilidade teria de fugir. Correr para algum lugar onde nem mesmo a sorte pudesse me encontrar. Mas não foi isso que aconteceu. Como uma sombra atrasada de um corpo que se foi, você se aproximou. À hora, já adiantada em ponteiros longos e passadas firmes, apenas testemunhou um olhar. Esses olhos cobertos de lascívia e desejo. Profundos e repletos de más intenções, que, pensando bem, não eram tão más assim. Ficaram esperando, como um chacal guardião, o momento exato de atacar. O que fazer quando a linha da loucura ultrapassa a linha da lucidez? Não me atrevo a questionar novamente, com medo de achar a resposta da próxima vez.
Não pelos cabelos que entoam uma nota só, nem pela pele que executa a única sinfonia, muito menos pelo corpo que em curvas refaz o conceito de simetria, mas pelos momentos intensos que desejo viver. Pelo vivido em devaneio, pelo experimentado sem provar, pela inconsciência de minhas mãos. Pelas janelas que puderam se abrir, e assim mostraram o animal sentimental que refletia apenas a essência da espécie. Por tudo isso, quis embalá-la num sono em fim de tarde, quis cantar as músicas em ecos soturnos, sem alarde. Fiz entender que nunca quis apenas um toque a mais, e me importa onde as gotas caem após os vendavais.
Quero sentir a terra molhar outra vez nossos pés, quero sentir a água inundando nosso quarto, em correntezas incontroláveis de um fluxo intenso e colorido. Mesmo que para isso eu abra mão de sua companhia, e fique com o sorriso da graça estabelecido.
Venha outra vez, marcar de suor a roupa que coloquei. Venha mostrar-me a força que seus braços podem ter. Prove-me a determinação de suas palavras, que apesar de sutis, podem me carregar. Embalam-me em poemas sem estrofe, em versos sem sentido, e transformam o grave amargo do dia, num agudo alegre sustenido.
Seus lábios continuam traçando as linhas da imaginação. Sua boca escreve aquilo que você gostaria de ler. E a cada parágrafo terminado, concluo que uma grande obra está porvir.
Sinto o gosto do perfume de seu cheiro, de sua essência permanente de mulher, transpondo quilômetros, rompendo fronteiras e quebrando as regras de uma terra sem leis. Coração bandoleiro que se armou num duelo desigual. Peito aberto e desprotegido nesse calor absurdo e infernal. Onde encontraria refúgio se não fosse assim? Escondido nos arbustos que a estrada plantou pra mim.
Que eu seja privado de ver a vida acontecer, que eu seja privado de ver o dia nascendo e morrendo em seu próprio prazer. Não me prive a natureza, porém, de senti-la outra vez, de ver seu peito curvar-se à força da respiração, de olhar suas mãos enlaçadas e pedindo proteção. De admirar seus olhos que se perdem, se encontram e se cruzam com os meus. Que eu possa, mais uma vez pelo menos, umedecer meus sonhos em seus lábios, e assim sorver um pouco de seu sabor, que se perde diariamente no seu lago, repleto de incandescência, libido e calor.


Um comentário:

Luiza Liara disse...

muito legal che, você escreve muito bem....
sua esposa tem sorte...em ter vc!
parabens...