terça-feira, 4 de novembro de 2008

LUSER

Sinceramente, eu não me importo com o que você pensa. Se disse algo mais do que eu queria ouvir, provavelmente não irei lembrar. Isso torna o acordo desigual, e não vou regar os jardins de quem sequer plantou uma flor. A chuva forte pode inundar, e levar pelas suas correntezas todos que não se prepararam para o pior. Eu deixei, já faz longa data, de valorizar as pérolas que os porcos desprezaram. Deixei de tentar revelar o filme de fotos, queimadas pelo acaso de um flash que não disparou. As migalhas, antes vistas como vastas refeições, hoje ocupam o lugar destinado a elas: o chão. É vã, a busca desregrada pela atenção. É inútil gastar a lâmina afiada de meus versos em cabeças petrificadas pelo que se deixou. Não gastarei mais o tempo, nessas construções pueris, em fantasias tolas e mensagens infantis, feitas de cifras altas e valores gentis. Quero construir meu espelho em retratos que eu criei. Quero refletir os anseios de uma consciência desprovida de lei. Caso você não concorde, sinto muito, mas não perguntei sua opinião. Não interfira nas contemplações alheias, e não tome posição daquilo que você não faz parte. Não pedi críticas, não pedi detalhes. Fiquei solto em pensamentos e preso a lugares. Lugares estes, que não tiveram a honradez de entender que se tornavam lembranças, quase inatas, pela profundeza na qual cravavam seus alicerces e pilares. Presenteie-me com seu silêncio absoluto. Quem pouco fala, pouco erra. É no silêncio de uma opinião calada, que conseguimos por vezes, ocultar nossa ignorância.
Alguém aqui busca um público para agradar? Alguém aqui está sendo calouro nessa festa popular? Não! Afirmo e grito: Não! Somos quem podemos, e o que as circunstâncias nos permitem. Por mais alto que o pássaro possa voar, sua condição nunca será diferente. Por mais que Fernão Capelo Gaivota aprendesse a nadar, ele não se transformaria num peixe por causa disso.
A lua busca, em seu ardor noturno, refletir os raios de sol que não são seus, mas, de um dia que nasce para o outro lado do mundo. E não importa que grunhidos você emite ao ver tudo isso. Nessa selva de animais selvagens, me fiz caçador de oportunidades e tentei sobreviver, quando tudo o que eu sentia era o cheiro da caça tentando virar predador. Tive que segurar firme meu rifle, cercar-me de munições certeiras, e mirar numa cena sórdida. Fechei os olhos quando atirei, e captei apenas os altos sons, que foram engolidos pela terra, enquanto ela me agradecia pelo que tinha feito. Saí das fileiras da preocupação, para ocupar as filas inibidas das sensações. Já perdi muitas chances tentando provar que a maior prova era ao mesmo tempo a maior condenação. Subi nas pilastras e nos parapeitos dos casarões coloniais, apenas para tentar ver, aquela jovem de tranças feitas, colhendo trigo em seus trigais. Hoje me sinto como o bajulador de um chefe desempregado. Como o fígado de um bebedor inveterado. E sei que não preciso mais acordar para mostrar para os outros que não estou dormindo. Descanse na sua insensatez. Descanse de braços cruzados, já que é o melhor a se fazer. Se for apontar sua mão, mude a direção dos dedos, do contrário serei obrigado a cortar a mão, arrancar o braço e queimar seus segredos. Da pira do esquecimento ninguém conseguiu fugir. Não pedi que me ouvisse, que visse talvez. Mas agora que já terminou saiba que não espero, não quero e nem vou passar a minha vez.


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