quarta-feira, 29 de abril de 2009

O MUNDO SEGUE CALADO. O INFERNO ou o CÉU CELEBRA!


Para onde vão os heróis quando as tumbas se fecham sob o hino da despedida? Em que ponto do universo eles continuam eternizando suas palavras de ordem? Como pode a overdose de prazer, amor, luxúria e tentação, sepultar tantos nomes? Sinto falta desses nomes.
Sinto saudade daqueles que não conheci! Sinto a mágoa pelas idéias que não tive, e nem ouvi. Nessas horas, gostaria de ser atemporal, onisciente, onipresente, ser quase um deus. Poder visitar todos os tempos, todos os cantos, todos os encantos. Perambular por todos os tons, e desentoar a concepção de melodia perfeita, que no céu ecoa ao toque das harpas.
Nasci na época errada, no lugar errado. Logo porém, percebo que não haveria época para mim. Permaneço desde sempre,fora do mundo que sempre sonhei. Nenhum momento da história conseguiu concentrar até hoje, todos os momentos que gostaria de viver.
Queria ser a serpente do paraíso e enganar a perfeição desavisada. A espada flamejante do anjo latifundiário, expulsando os dois primeiros invasores que tentaram corromper a magnitude da criação. O Nilo do Egito, a Estela de Hamurabi, o aríete de Assurbanipal. Ser uma planta, brotando dos jardins suspensos, ou um bicho devorado por Nabucodonosor com sua licantropia. A Aura Mazda de Zoroastro, o Olimpo dos gregos, a ágora dos Filósofos, a idéia de Platão. Para Aristóteles? Somente a morte do velho chato me satisfaz.
Queria sentir o gosto do corpo suave de Réia Silvia, assumindo minha forma de Marte, e buscanco seu monte de Vênus. Queria ser escravo ao lado de Spartacus, soldado com Caio Julio César, procônsul com Pilatos. Ser expectador no dia do sacrifício. Sim, pois não seria idiota de pedir uma cruz para ser herói. A loucura de Calígula, o nervosismo e a ansiedade de Cláudio, a chama de Nero.
Gostaria de ter servido ao lado do Martelo de Deus, ser Professor na Escola Palatina de Magno. Ser um senhor a combater as Jacqueries. A escalibur reluzente na pedra que deteve sua propriedade, e a utopia dos príncipes sonhadores com uma Távola Redonda.
A fé (mesmo que tardia, e sem muita explicação) de Agostinho. O discipulo que preparava as tintas para de Da Vinci, serviçal de Fernando de Aragão, arauto de Carlos V, timoneiro de Vasco da Gama. A 4ª e a 6ª sílaba tônica de Camões. Escudeiro de Cervantes, relator de Maquiavel. A causa de Hume, o burguês de Voltaire, o povo de Rousseau. O rico de Smith, o proletário de Marx. O cavalo de Napoleão, o chafariz de Josefina, o executor de Pombal. O Chalaça de D. Pedro, o Bento Gonçalves de Feijó, o Visconde de Paranaguá de D. Pedro II. O escravo de Isabel, se bem que sou livre por ela, o amor nos torna livres.
Estar na bainha de Deodoro, e representar seu golpe, que até hoje não se consolidou. Ser o café dos anos misericordiosos e algozes da terra brasileira. Ser o ego predisposto de Vargas, e a perícia de suas táticas políticas. Incorporar a pedra lançada sobre o planalto central, e envergar por anos a imagem de uma grande capital. Hoje, contudo não gostaria mais de estar lá. Não suporto a idéia de ser uma tela pintada por pombos, no pior ângulo possível de sua mira. Foi nisso que se transformaram as cadeiras políticas.
O clitóris de Welles, o labirinto da ruptura de Godard, o Encolpio de Fellini, o Corleone de Copolla e Puzo. O Grande Irmão de Orwell. Verlaine de Rimbaud, ou melhor, a África de Rimbaud. Os meninos de Garcia Lorca, a Matilde de Neruda.
A partir de 1950, ganharia plumas, cruzaria o atlântico, e experimentaria a rudeza dos ted boys. Queria ser a anfetamina de Elvis, vertendo pelo seu suor enquanto despede-se do mundo entoando Unchainde Melody em 1977.
A libido de São Francisco. O sexo drogas e Rock and Roll de Woodstock. O ácido corrosivo, chave das portas da percepção que Blake indicou, e Larry ensinou. Lindo Sonho Diurno, visitou Lucy, e ela acreditou que podia buscar diamantes no céu. Não importa o quanto neguem, o céu brilha como um diamante lapidado pelo arquiteto das jóias reais.
Formas humanas, formas divinas. A mão esquerda de Hendrix, a rouquidão de Janis, O Johnny de Berry, o lagarto xamã, traficante de heroína, tornando-se a perfeita forma para Jim. A cítara dos Besouros, o bad boy dos Stones, a guitarra do Who. O vício de Barret, a excentricidade de Page. A guitarra SG de Young, a Pocahontas do Neil, o avião do Lynyrd Skynyrd. O pássaro livre do Alman Brothers. A língua de Simmons, a rua 53 de Joy, a overdose de Vicious.
Queria retornar para minha terra, ver suas raízes e formas em tela. Pintar em cores de aquarela toda sua exatidão. Experimentar as rodas da bossa, apanhar como um pandeiro do samba, entrar no roda viva como cantor, pular na paulicéia de uma corda bamba. Rodar como um calhambeque que o jovem guarda, ser o juiz que parou o casamento, o rei da Rua Augusta.
Ser o pierrot retrocesso, o sexo convexo de Cazuza. Abraçar o calor do seu corpo jovem, esculpido na alma de menino, e sentir seguro pelas mãos do poeta, o vai e vem de seus quadris. A loucura perdida na lucidez de um mundo que perdeu as rédeas, de Raúl. O açúcar que adoçou e levou como presente, num passado que dói relembrar, a vida de Tim Maia. Abrir a janela do meu quarto quando o sol estiver batendo, e ver que sou a Leila, Natália, Mônica, Clarice, o Eduardo, João, Jeremias, o namorado, o menino e a menina de Renato Russo. Se ao menos fosse seu vírus, teria acompanhado seu corpo macérrimo até aquele 11 de outubro de 1996.
Onde vocês estão? Onde estão aqueles, que não apareceram nas linhas simbólicas, mas que impressos escrevem a vida do meu coração? O mundo silencia. As vozes ecoam, as cordas ainda vibram no tom que vocês deixaram. Aguardem o menino, aguardem o rapaz. Não sou único, não estou sozinho. A minha frente e ao meu lado, milhares querem ver o último show. Milhares querem ler um último verso, e perceber que o tempo apenas nos enganou, e que na esfera guardada no esquecimento, um último adeus aguarda para ser dado. Um último encanto espera para ser lançado. E nos mistérios das águas caudalosas desse rio no qual a vida insiste em se banhar, encontraremos ainda as pérolas dos seus corações, antes que nosso barco chegue ao mar. Até a próxima vez.

7 comentários:

Unknown disse...

Um dia alguém dirá:"Queria ser a mente do prof.Che" que tantos textos escreveu para o deleite de bons leitores.

Bruninha disse...

ler seus textos é prazeroso!
não cansa nem enjoa, pelo contrário, deixa um gostinho de quero mais.

Unknown disse...

remarkable

Sáá disse...

(...)Nasci na época errada, no lugar errado. Logo porém, percebo que não haveria época para mim. Permaneço desde sempre,fora do mundo que sempre sonhei. Nenhum momento da história conseguiu concentrar até hoje, todos os momentos que gostaria de viver. (...)

Diante da inconformidade e em alguns casos a inconpreensão dos meus pensamentos, encontro alguem q não se sente em casa. Muito bom.
Realmente incrível. Quem dera eu possuir tal capacidade de despejo de sentimentos e ideias. Brilhante!
Abraços.

Unknown disse...

che!! é a carol :) do alfa foz hahah muuuiito bom os texto! mais quero ler um em especial..lembra q vc falo? :)


:*

kinha disse...

Simplesmente fantástico.
Como ja disse a bruninha, deixa com um gostinho de quero mais.

Edson Barcellos disse...

Tenho grande admiração pela literatura, e o interessante de um blog é poder exercitar a escrita e a divulgar. Mas muito das minhas postagens são textos que gostei e que quis reunir no blog. E tenho a idéia de comentar todos, mas independente de comentar, todos os textos me influenciam, pois mudam a minha percepção do mundo.
Parabens cara ótimo trabalho...
Grande influencia positiva encontrei em suas postagens!