segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CAAAIL


O uivo que desesperadamente correu morro abaixo, fez tremer as paliçadas erguidas para defender o inculto poeta dos seus temores. As folhas, que antes serviam de tela plena para o verde das suas árvores, apresentavam linhas que numa angústia mórbida, sustentavam palavras sem muito cabimento.
Estava encostado num tronco, sentindo o vento cortante, com os joelhos dobrados e o bolso da jaqueta cheio de canetas. Apoiava sobre os joelhos algumas folhas velhas, nas quais escrevia minhas memórias, minhas lembranças, meus desejos. Queria aumentar minhas possibilidades! Queria ter mais o que escrever.
Como o tempo passou em vão! Como busquei segredos ocultos nas rochas. Como fiz texto com a linguagem metafórica que procurou uma veia de realidade, e encontrou o barril dos simbolismos que sempre se fizeram presentes antes de serem chamados.
Enquanto tentei obter da tinta da caneta uma colaboração imaginária de escritor adjunto, me deparei com a cena mais estranha que já tinha observado: Vi a mim, encostado num tronco, apoiado sobre os joelhos, tentando escrever algo. Não me vi na imaginação! Era real, era o mundo físico. Poucos metros me separavam de mim mesmo!
Onde foi que senti o corpo sendo separado. Não estava morto, não estava vivo. Estava duplicado! Nunca havia experimentado tal momento. Justamente eu que via o mundo como um poeta alheio a tudo. Justamente eu que havia me tornado um dissecador de doutrinas, um analítico crítico das coisas! Estava me olhando com os olhos de um espectador!
Vi como minha vida passou intermitente, vi como meus braços estavam frágeis, como meu pulmão respirava ofegante, como eu havia engordado! Como os anos haviam escrito suas marcas na minha fronte e como os exageros havia deixado suas marcas na minha barriga.
Quem dera eu pudesse me dispersar. Queria correr de mim mesmo. Nunca antes havia me preparado para esse encontro! Travei uma conversa infrutífera, e percebi que era inútil discutir comigo.
Minhas opiniões mudavam, minha vida mudava, minha história mudava! Finalmente eu havia conseguido me encontrar, mas não dentro de mim. Encontrei-me nas coisas pelas quais eu passava, nas experiências que eu vivia, no amor que me brindou.
Foi quando pude ouvir minha voz! Apenas ouvi-la. Não quis discutir ao mesmo tempo, não quis discordar, dialogar ou combater. Minhas palavras eram suaves e minha voz estava calma, buscava me tranquilizar em meio a tudo aquilo que me horrorizava. E pela primeira vez me ouvi claramente:

"Deixe de sentir dentro da sua alma sua vida esquecida,
A verdade é que existe uma vontade que esta morte desafia
A vontade de um amor infinito, a força dessa vida
Que não pergunta mais o que é a eternidade
Pois vive a eternidade em cada coisa sentida

Quando sentir que a segura em seus dedos
Guarde a tarde dos beijos, leve consigo a força
Que dissipa numa forca todos os seus medos
Então reconhecerás, a força da vida que traz contida,
Não deixe ir embora mais, não deixe a tarde sem você

É tão ruim a despedida quando o sol já vai nascer.
Ainda dentro das prisões da nossa covardia
Ainda no fundo do hospital, nessa nova doença chamada amor
Existe uma força que te guarda e que reconhecerás
É a força mais teimosa que existe em nós que sonha e não se entrega!

Cuide dela, pois ela é a vontade, mais frágil e infinita,
É a cena perfeita de um teatro que não fechará jamais
Que não pergunta mais, o que é a eternidade
Mas que luta todos os dias, até não ter fim,
E provar que o pra sempre nunca mais acabará"


3 comentários:

Tainara Siqueira disse...

Encantador *-*
Vc sabe que te quero sempre dentro do meu mundinho ou melhor, nosso mundinho ∞

"É a cena perfeita de um teatro que não fechará jamais
Que não pergunta mais, o que é a eternidade
Mas que luta todos os dias, até não ter fim,
E provar que o pra sempre nunca mais acabará"
Uma das partes que mais me prendeu, suas conclusões verdadeiras são as que mais me agradam. TeAmo! Caaail

Tainara Siqueira disse...

Sem contar que o poder de outras frases é impressionante, eu sinto seus olhos me olhando quando leio cada frase.

"Não estava morto, não estava vivo. Estava duplicado!"

"A vontade de um amor infinito, a força dessa vida
Que não pergunta mais o que é a eternidade
Pois vive a eternidade em cada coisa sentida"

"Travei uma conversa infrutífera, e percebi que era inútil discutir comigo."

"Guarde a tarde dos beijos, leve consigo a força
Que dissipa numa forca todos os seus medos"

Daiane Pereira disse...

"Enquanto tentei obter da tinta da caneta uma colaboração imaginária de escritor adjunto,..."

tirando o papel de acessorio da caneta e fazendo de parceira ...fantastico

saudades da suas aulas, abraço Che ;D