
Não pelos cabelos que entoam uma nota só, nem pela pele que executa a única sinfonia, muito menos pelo corpo que em curvas refaz o conceito de simetria, mas pelos momentos intensos que desejo viver. Pelo vivido em devaneio, pelo experimentado sem provar, pela inconsciência de minhas mãos. Pelas janelas que puderam se abrir, e assim mostraram o animal sentimental que refletia apenas a essência da espécie. Por tudo isso, quis embalá-la num sono em fim de tarde, quis cantar as músicas em ecos soturnos, sem alarde. Fiz entender que nunca quis apenas um toque a mais, e me importa onde as gotas caem após os vendavais.
Quero sentir a terra molhar outra vez nossos pés, quero sentir a água inundando nosso quarto, em correntezas incontroláveis de um fluxo intenso e colorido. Mesmo que para isso eu abra mão de sua companhia, e fique com o sorriso da graça estabelecido.
Venha outra vez, marcar de suor a roupa que coloquei. Venha mostrar-me a força que seus braços podem ter. Prove-me a determinação de suas palavras, que apesar de sutis, podem me carregar. Embalam-me em poemas sem estrofe, em versos sem sentido, e transformam o grave amargo do dia, num agudo alegre sustenido.
Seus lábios continuam traçando as linhas da imaginação. Sua boca escreve aquilo que você gostaria de ler. E a cada parágrafo terminado, concluo que uma grande obra está porvir.
Sinto o gosto do perfume de seu cheiro, de sua essência permanente de mulher, transpondo quilômetros, rompendo fronteiras e quebrando as regras de uma terra sem leis. Coração bandoleiro que se armou num duelo desigual. Peito aberto e desprotegido nesse calor absurdo e infernal. Onde encontraria refúgio se não fosse assim? Escondido nos arbustos que a estrada plantou pra mim.
Que eu seja privado de ver a vida acontecer, que eu seja privado de ver o dia nascendo e morrendo em seu próprio prazer. Não me prive a natureza, porém, de senti-la outra vez, de ver seu peito curvar-se à força da respiração, de olhar suas mãos enlaçadas e pedindo proteção. De admirar seus olhos que se perdem, se encontram e se cruzam com os meus. Que eu possa, mais uma vez pelo menos, umedecer meus sonhos em seus lábios, e assim sorver um pouco de seu sabor, que se perde diariamente no seu lago, repleto de incandescência, libido e calor.
Um comentário:
muito legal che, você escreve muito bem....
sua esposa tem sorte...em ter vc!
parabens...
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