terça-feira, 10 de março de 2009

BOMBAS E ALUCINAÇÕES

Minhas costas estão apoiadas na cama que agora suporta meu lamento. As mãos descansam num colo vazio. O colchão, antes feito de espuma, aponta os pregos que não só perfuraram meu corpo, mas também cravaram seu ferro na minha angústia vívida e precoce, que foi forjada no calor de meu peito que um dia bateu acelerado, mas que hoje descansa em paz, inerte, aproveitando o frio de quem sabe, a sua última glaciação. Em dias que o sol é apenas um anônimo no céu, penso que poderia ser interessante estar junto à mesa dos banquetes podres.Revelando para os outros os seu próprio espelho, e entendendo que não se constrói labirintos em lotes baldios. Queria me sentar, e como queria! Não apenas para me deliciar com os manjares da volúpia e sedução, mas para entender até que ponto pode o ser humano ser testemunha de si mesmo. Em horas que parecem estacionadas num beco sem saída, velejo pelos rios, que são verdadeiras portas de entrada. Fechei a janela que me permitia contemplar o imaginário pueril. Verifiquei que as mesmas portas, abertas por outros, foram fechadas muito antes de verem meus pés pisando em seu batente. Batente sórdido de pessoas humilhadas pela própria insanidade corrente. Luxúria débil, óleo santo de uma volúpia latente. A tragédia se fez mesa posta, a doença se lançou como cadeira, e na plataforma hedonista que se apresentava, com facas do desespero pudemos espetar nossos sonhos mais secretos. A baba de um bezerro órfão caiu em meu copo, e transformou o cálice sagrado, num copo tempestuoso, marcado por furacões misteriosos. Onde encontrarei encosto nesse quarto vazio? Em quais móveis repousarei o corpo cansado, que abandonado pelo silêncio, busca ser ouvido além? As almas brincaram comigo essa noite, os anjos voaram pelo quarto, e não permitiram que eu me concentrasse na obra diabólica de pensar. A razão se jogou do penhasco, e o som que ouvi, foi apenas um tosco barulho de corpo caindo. Nem as aves quiseram recuperá-la, nem as hienas se importaram com ela. Como é que pode, algo, que por tanto tempo foi buscado, se deixar cair no infinito das lembranças mortas, e o que é pior, desprezadas. Desprezei o tempo, desprezei as feras, desprezei as lâminas que apararam minha barba, e acabaram com a minha cara de velho socrático, conferindo-me um ar de Gitão. Menino louco e desvairado, pelas suas penas condenado, pelos seus prazeres julgado, e ao recluso suor de sua testa, restrito. Não comi o que me deram, não bebi o que me ofereceram. Fiz jejum para poder pensar. Fiz-me mudo estando louco para falar. Não posso morder as presas, meus dentes caíram, e banguela prossigo assoprando vento na cara das pessoas.

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