terça-feira, 16 de setembro de 2008

UM ANJO CAÍDO

"No princípio criou Deus os céus e a terra". E as coisas aconteceram como deveriam ser. Num ambiente onde os glutões se deliciam com suas ceias divinamente postas. A umidade fixa, é etílica, como era nas grandes festas dionisíacas e nos antigos bacanais. As propostas também são as mesmas. Tentar salvar o mundo, tentar entender o ser humano, tentar acusar a sociedade de hipocrisia é o mais alto grau em que se pode chegar nesses encontros. E tudo isso acaba se perdendo em meio aos devaneios, firmados sobretudo por aproximação com alguma idéia mais bem elaborada, dita por alguém em algum momento qualquer. "E disse Deus: Haja Luz, e houve luz". Mas já faz tempo que a luz brilhou pela última vez. Talvez no século XVIII, talvez na Belle Epoquè. Quem sabe a Primeira Guerra Mundial tenha contribuido para que a luz se tornasse forte através da dor, e do medo da escuridão. A crise dos anos 20 pode ter despertado algumas emoções. E os Beatniks? Os Hipsters? E os estudantes de 1968? "E viu Deus que tudo isso era bom, houve tarde e manhã e foi o primeiro dia".
O primeiro dia se perdeu, dentro do abuso inveterado e contumaz da perda da identidade pessoal e lógica, que um dia talvez, tenha movimentado a roda da justiça.
Abriu-se o desfile de modas. Modas comportamentais e modismos intelectuais. De um lado um menino querendo chocar a todos com sua pose formal, do outro lado a menina querendo mostrar que se preocupa com o mundo num compasso desigual. As conversas perdidas dentro de uma libido eufórica que deságua num inferno astral. Tentam mostrar que nem tudo está perdido, se visto sob a ótica da visão esperançosa parcial. Mas sempre foi assim e assim será pela vida inteira. Talvez os focos dos protestos mudem, talvez o tom da agitação ganhe uma escala maior, mas cabe sempre ao mesmo grupo, transformado agora em tribo, nos salvar dessa crise existencial. Nesse mesmo dia criado, ainda temos que encarar o bêbado exagerado, preso numa filosofia de bar. Com sua proposta induzida pelos resquícios de pólvora que restaram do tiro de canhão, envolto numa órbita secreta de trama, abuso e inquietação.
Como está confuso para ver o pôr-do-sol. Ainda mais com essa tarde invernal, coberta pelas nuvens de idéias tão quentes como o frio glacial. E os jovens, anjos libertadores, se colocam como velhos, demoníacos e acusadores, apontando seus dedos pegajosos de unhas mal feitas, à todo aquele que recusa aceitar seus planos de absolvição. Eles ainda não entenderam que esse julgamento é o da própria consciência, já que o réu, nesse caso, está dividido entre a liberdade de escolher e a comodidade de aceitar. A primeira lhe garante um nome único e um ostracismo imposto pelos "intelectuais", a segunda lhe permite a inserção de seu nome no rol dos grandes pensadores bestiais. Eis o caminho! Agora segui-o. "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!".

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