terça-feira, 23 de dezembro de 2008

UM MARTINI, POR FAVOR.

Deixe sua boca num lugar que eu possa ver, assim saberei que seus lábios ainda expiram o último beijo meu. Essa boca de carne, de espírito e de um toque singelo, me fez esquecer que nem tudo no mundo é belo, e as coisas são maiores do que podem parecer. Se os lábios apenas falassem, seria uma satisfação ouvi-los, mas o vocabulário desse diálogo foi além do que imaginávamos. Quem disse que nos preocupamos com isso? Pode até parecer exagero, mas acredito que seja pura distorção. Isso significa que as notas continuam sempre as mesmas, mas nossos ouvidos estão ouvindo de uma outra maneira. Estão ouvindo como um suplicante pedinte, que ainda lembra do seu passado, controlando tudo ao redor. Agora grita em silêncio, responde calado, e dorme temendo os sonhos que possam aparecer.
Inclino-me em redobrada fé, e espero o ano terminar. Dentro de planos mal cumpridos, e desejos mal ouvidos, vou minha sanidade buscar. Deparo-me com a loucura, que insiste em me presentear, sabe-se por aí que ela tem dado muitas dádivas aos seus amigos, e tudo que lhe pedem anda concedendo. Eu que não tenho nada a temer, senão o próprio medo, exagero no tom da súplica, e amplio o som do enredo.Derreta-me com seu fogo abrasador, e despeje em minha boca as frutas que ousamos colher em outros cerejais. Torne vermelho seus lábios, seu corpo, suas intenções. Entorpeça-me ao som de mulheres cantando, e beba-me como um coquetel premiado, preparado para estar a sua disposição. Não esqueça a cereja, a Ana Carolina, as chaves, o telefone, seu vestido, sua personagem, sua história, seus versos secretos, o silêncio em sua memória.
Em quantos mundos eu precisaria viver para entender tudo o que aconteceu? E a história se escreveu pelo avesso! Quantas coisas para contar, e não contaremos para ninguém. Quantas vozes se apagaram pelo silêncio do instante que se fez. Vozes grosseiras, estúpidas, brandas, ternas, hesitantes, confiantes, duvidosas. Vozes que mudaram seu tom, sem perceber que o violão desafinava e perdia o acorde inicial, e nessa dissonância percebeu-se o nascer de uma nova canção. Quem sabe quanto tempo a música vai durar? Já durou o tempo suficiente para garantir lembranças, e essas lembranças já são suficientes para impedir que o relógio invisível apague as horas contadas. Medo de um abismo infinito, mas curiosidade para experimentar a dor das alfinetadas.

3 comentários:

tia Carol disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
tia Carol disse...

nenhuma outra expressão a não ser: adorei!

Tainara Siqueira disse...

As notas continuam sempre as mesmas, mas nossos ouvidos estão ouvindo de uma outra maneira. Estão ouvindo como um suplicante pedinte, que ainda lembra do seu passado, controlando tudo ao redor. Agora grita em silêncio, responde calado, e dorme temendo os sonhos que possam aparecer.