quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

TUDO PODE MUDAR

Tudo muda! E o peito adormece quando vê suas mãos dando adeus,
É como se o olhar quisesse apenas dizer talvez,
E os sonhos de uma noite inteira pudessem ser revistos a plena voz.
Não sei se é bom contar comigo, e só comigo agora.
A luz da vela acesa sobre a mesa, às vezes me dá medo.
Imagino o que irá acontecer quando a chama apagar!

Esse peito calejado, ama, ri, chora, encanta e encontra um vazio cintilante,
Encontra nas penúrias da sombra onipotente a densa vazão de seu leito
Um buraco perdido dentro dos labirintos que minha alma criou para si,
Enrustido na doce lembrança do que foi um dia dormir em paz.
Alicerçado na vã expectativa de que poderá entender onde estão os anos,
Em que feliz caminhei por entre as letras belas e inteligíveis do amor.

Tudo muda! Até o sertão pode virar mar, se a chuva não parar de cair,
A vida pode virar morte, se o espírito, alma, razão, nos deixarem a sós,
E o que era uma fulgurante lembrança, pode amargar no vazio do esquecimento.
Só precisamos ouvir o momento. Essa areia solta que perdeu sua ampulheta,
Esse tempo louco que caiu no descrédito entorpecido e desleal do ser,
Um ser instável, louco e desgarrado de sua forma concebida e ideal.

As mãos agora se calaram. Foram sempre elas que falaram por mim,
Com o toque de meus dedos conquistei o mundo de faíscas,
Mas o tempo não permitiu que as labaredas ganhassem o céu,
Antes a água, apagou as memórias boas de histórias contadas,
E me senti amputado e dilacerado quando vi que não havia o que escrever.
As letras apenas pairam num universo que minhas mãos não alcançam.

Estou preso com os pés no chão, e meus sonhos voam a poucos metros,
Não pulo, não subo, não corro, apenas espero uma nova situação.
Desprender-me? Impossível! Na morte apenas, deixarei o lar que me acolheu.
Mas enquanto não recebo o indulto de salvação, misericórdia quero.
Enquanto não sinto o toque profundo de suas mãos, espero,
E do leito raso do rio, contemplo sua figura que assim como tudo, também muda.

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