quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

REI COM ROUPAS DE PLEBEU


Um jardineiro certa vez, depositava diariamente seu amor, nas flores que ele plantava para embelezar sua casa. Jardineiro aposentado, há muito tempo havia deixado a jardinagem ofício, e passara para a jardinagem prazer. Ornamentava cada cantinho recluso, como se fosse uma das salas de um palácio real. Sua preferência eram sempre elas, as rosas. Acreditava que elas assumiam uma postura magnânima diante das outras flores. Eram imponentes, charmosas por natureza, e a cada elogio dado por aqueles que olhavam, era recebido como raio de sol, que fortalecia ainda mais aquelas belas folhas, que de tão belas deixavam os espinhos apenas como um detalhe, que nem merecia ser levado em consideração. Todas as manhãs, quando a luz do sol ainda estava percorrendo seus 8 minutos para chegar a terra, o velho homem se colocava em pé, e visitava cada uma de suas plantas no quintal. Era um grande quintal, limitado ao fundo por um muro alto, ocupado por folhagens que subiam a parede, aos lados o muro ficava um pouco mais baixo, mas ainda era alto. O expectador desatento ficava perplexo ao observar a variedade de espécies, ou “etnias”, como o jardineiro chamava, já que as considerava como verdadeiras pessoas. Num certo dia, de uma primavera qualquer, o pobre senhor se deparou com um problema, que de certa forma limitava suas ações, e seu trabalho. Ele estava sem vasos em sua casa, e o tempo chuvoso não permitia de imediato uma ida para o centro da cidade, com a finalidade de comprá-los, além do mais era domingo. Como ele deixou isso acontecer? Não podia imaginar seu trabalho interrompido, não por falta de matéria-prima, ou matéria-viva, mas por falta de ter onde coloca-las. Resolveu então andar pelo enorme terreno baldio, ao lado de sua casa. Quem sabe algum vizinho mal educado tenha jogado algo que lhe sirva, e agora a má educação ganharia até o eufemismo de “providência divina”. Estava desolado, tudo que havia encontrado era um vaso sanitário, que por estar quebrado em sua base, não fora utilizado na construção que se erguia dois lotes adiante. Como poderia ele, o grande admirador de suas pequenas, coloca-las num lugar tão desprezível? Hesitou um pouco diante desse dilema, mas concluiu que não havia alternativa, não havia um plano B. E lá foi ele, carregando o vaso, sob a chuva, que agora havia dado uma trégua, e apenas servia para dar um tom cinza, ao céu, que sobre as nuvens, com certeza se apresentava azul. Colocou o vaso no meio do quintal, e saudou com alegria os primeiros raios de sol que despontaram. Isso para ele foi motivo de enorme satisfação. Todo místico em seu jeito de tratar as coisas, viu aquilo como um bom sinal para dia, que apenas começava. Mas mesmo assim, não estava convencido se deveria ou não usar, a inusitada peça em seu jardim. Tentou ajeitá-la da melhor maneira possível, e ficou olhando, buscando um jeito de inovar aquilo que havia trazido, foi justamente quando encostado no tronco de uma das várias árvores que havia plantado, adormeceu.
--- Diga-me rosa onde está tua nobre casa? Perguntou, o irônico lírio, do alto de seu talo verde.
--- Está exatamente onde estou! Responde a rosa, sem entender, dentro de sua delicadeza, toda a aspereza que o lírio havia depositado na pergunta.
--- O quê? Aceitas essa pocilga branca, como teu lar? Enobrecem-te em buquês, levam-te para amantes, e não podem te reservar uma estadia num lugar um pouco melhor?
--- Lírio amado, como poderia eu não ter percebido. Mas pergunto-lhe, se algo importa em sua vida que não seja seu verdadeiro colorido.
--- Colorido talvez, mas de que adiantas as cores que nos brindam com sua beleza, se o lugar onde estamos se faz de tão áspera rudeza?
--- Não é bem assim, sou rosa tu és lírio, não importa quão charmosa ou simples seja minha morada. A verdade é que o trem é trem não interessa em quais trilhos.
--- Sutileza sempre foi tua marca. Mas responda-me, quem olhará para ti, perdida nesse vaso sanitário?
--- Aqueles que procurarem uma rosa, quiserem meu tesouro, e não buscarem apenas um pobre relicário. Continuo sendo flor, continuo exalando o perfume celeste, e minha essência ainda pode apaixonar. Não posso ser desprezada pela roupagem em que estou. Minha casa, meu abrigo, me garantiu a vida, e assim eu posso assegurar o amor. Não queira me deixa inibida, pois sei que mesmo em casas esquecidas, posso refletir meu valor.
Em meio a esse diálogo sem sentido, de um sonho tão louco quanto, o velho homem acordou de espanto, e concluiu que aquele vaso posto em frente aos seus olhos ainda sonolentos, será transformado em palácio real para sua rosa.
Colocou tanto amor no cultivo da pequena flor, que ela se impôs como a mais bela do jardim. Suas pétalas demoravam para cair, e ela ergueu-se com uma pose majestosa. Assim, o jardineiro percebeu, que não importa a roupa que damos, não importa a aparência que temos, uma rosa sempre será uma rosa, num vaso nobre, num canto solitário, num buquê esnobe ou num vaso sanitário.

Um comentário:

Birkhan disse...

falaa che..
bom, nao tem nada a ver com o post - que por sinal achei interessante - mas, vi esses videos aqui no youtube e queria que tu desse uma olhada pra ver o q tu acha..
nao tinha outro lugar pra me comunicar contigo, entao vai aqui mesmo...

são 3 partes, eh grande, mas vale a pena. :)

1ª parte: http://www.youtube.com/watch?v=EfoyNqDm8iI&feature=related

2ª parte http://www.youtube.com/watch?v=uRtDV-vaoGs&feature=related

3ª parte:
http://www.youtube.com/watch?v=gExInlPmBvs

qlqr coisa manda recado no orkut...
abraço, e bom final de ano!