quinta-feira, 5 de junho de 2008

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA SOCIEDADE (se puder repasse)

Torna-se impossível não citar o clássico de Kundera, alterando SER por SOCIEDADE quando nos deparamos com a situação real e presente de nossas relações políticas. Estamos como expectadores numa estação de trem despedindo-se do vagão que leva para uma terra distante nosso sonho ufanista. Nunca a verdade dita esteve tão longe da verdade praticada. Nossa sociedade está se fundamentando em falsos valores, e o que é pior, em falsos amores.Talvez em paixões mal resolvidas e mantidas sob a égide da desculpa permanente. Estamos gradativamente perdendo a capacidade de uma visão analítica e crítica em relação as atitudes tomadas em todas as escalas da política nacional.
Ao observarmos a situação presente, podemos concluir que estamos passando por um processo onde o conceito de Ética, assim como nos tempos modernos, está sofrendo uma significativa alteração. Essa alteração no entanto, não está visando o bem comum, ou o estabelecimento de uma ordem social. Estamos justificando o injusto, evitando ver o óbvio, e isso adquire um impacto mais grave quando vemos e não contestamos. Talvez a conivência seja uma das piores disposições. Ela está lado a lado com a omissão, o que em termos práticos nos torna também responsáveis por toda a anarquia estabelecida nessa orgia política. As bases para a construção da tão sonhada sociedade estão abaladas por ações bombásticas efetivadas por aqueles que estão no poder. Não faço aqui uma contestação personificada das estruturas políticas, mas uma contestação às próprias estruturas. E afirmo que também sou vítima dessa situação cômoda que se estabelece. Esso afirmação poderia deixar meu texto prolixo, mas não o acho. Penso que constatar o momento e a situação é de suma importância, tentar mudá-lo sozinho é de extrema loucura. E aí se forma um vínculo vicioso: Somos coniventes e tiramos proveito e ao tirarmos proveito permanecemos coniventes.
Os próprios guerreiros, outrora arautos da liberdade, hoje estão como soldados vencidos, defendendo uma guerra que há muito deixou de lhes pertencer. Descobrimos quem éramos, e agora pagamos a conta do analista, para esquecer quem somos. Nossa realidade nos culpa e nos julga. Aqueles que ainda defendem ferrenhamente suas ideologias estão tentando na verdade fugir da própria consciência e justificar sua incapacidade de mudar em um segundo o curso da história. Deixamos o ser histórico, e nos tornamos expectadores históricos.
Tomara que esse programa de chanchada termine de uma vez.

Um comentário:

Claudio Temochko disse...

Belo texto, reflexivo e inteligente. Repassarei!