sexta-feira, 18 de julho de 2008

DEIXO MINHA VIDA NUM SONHO (se puder, repasse)

Dá-me, Senhor / Uma noite sem pensar / Dá-me Senhor / Uma noite bem comum / Uma só noite em que eu possa descansar / Sem esperança e sem sonho nenhum / Por uma só noite assim posso trocar / O que eu tiver de mais puro e mais sincero / Uma só noite de paz pra não lembrar / Que eu não devia esperar e ainda espero. (Dolores Duran)
Sonhar é aquela magnitude que nos presenteia a cada instante que fechamos nossos olhos e nos permitimos permanecer por um instante, mesmo que curto, sem absolutamente nenhum pudor ou preconceito. As vezes penso na morte, não como algo fatal, como algumas pessoas encaram. Mas a vejo como algo curioso. No artigo Supermercado da vida, pensei sobre esse assunto. A morte gera curiosidade, gera vontade, me lembra algo que é forte. Afinal, passamos toda a vida lutando contra a morte, e na primeira batalha que ela vence a guerra acaba. Mesmo aqueles que acreditam na imortalidade da alma devem concordar comigo quando afirmo que esse exato momento que vivemos, as pessoas que conhecemos, como as conhecemos, como convivemos, isso não se repetirá jamais em toda a eternidade. Há garantias do porvir? Não, o que existem são esperanças de que a vida não acaba com o simples fechar dos olhos. Realmente seria muito triste isso, mas e se for assim mesmo? Como perdemos tempo!
Passamos a vida limitando nossas ações, já escrevi isso, está perdido em algum artigo por aqui. Por isso que o melhor seria se nossa vida terminasse num sonho. Se nossas veias se abrissem e o sangue jorrasse para uma tela branca, pintando e embelezando de magia e jovialidade e transformasse o branco da tela numa verdadeira obra prima de nossa sensibilidade latente. Como seria bom que o som as ondas, a visão do mar e das coisas belas nos brindassem constantemente. Minha vida foi feita para sonhar, e eu gostaria de vivê-la eternamente num delírio que me possibilitasse construir os castelos mais belos e recheados de intensas virtudes postas à mesa do meu café a cada manhã. Queria banhar meu corpo com a mais bela essência do prazer. Queria me vestir da roupa da sabedoria e atrair para mim os mais doces mistérios, e assim procurar desvendá-los na mais louca busca para sanar minha inquietude e minha alma conflitante. Somoso seres curiosos e preenchidos pelo desejo constante de buscar novas aventuras intelectuais. Não há limites para aprender. E conhecer é algo encantador. Mas chega um momento em que percebemos que tudo é casual e contratual. O mundo em que vivemos hoje foi assim transformado e moldado por aqueles que por aqui passaram. Então somos hoje a representação viva e concreta de um sonho passado. De certa forma somos sonho. Então sonho é algo que ainda não teve tempo de se realizar, ou está se realizando constantemente. Que injusto isso. Já perceberam que somente poderemos fazer juízo das coisas quando elas não existirem mais? Por exemplo, minha biografia somente será completa quando eu não mais for. Mas de que adiantará poder concluir que minha vida foi bela, se eu não terei mais forças em minhas pernas flácidas e em meus pulmões cansados para festejar a vitória de ter conseguido afirmar que realmente fui feliz? No fim do jogo, tudo o que nós buscamos é apenas um segundo de felicidade, só um segundo.
"Quando me vi tendo de viver, comigo apenas e com o mundo, você me veio como um sonho bom, e me assustei, não sou perfeito, eu não esqueço: A riqueza que nós temos, ninguém consegue perceber. E de pensar nisso tudo, eu homem feito tive medo e não consegui dormir" (Renato Russo)

Nenhum comentário: