Não me peça para mudar algo que eu não vou conseguir. Nem ao menos reconheço o nobre erro que o júri me atribuiu, quando fui julgado sem saber, e reagi sem querer. Não fui eu quem fiz as leis, não fui eu que busquei encontrar. Cada passo dado para o acerto, é também o primeiro passo para errar. Até tentei apagar as linhas que escrevi num momento em que minha caneta estava solta, e minhas mãos seguravam o vazio. Mas tão logo recuperei o fôlego, voltei a me impressionar com a solidão. Ainda ouço pelo quarto a voz de uma mesma voz, e vejo a mesma visão: meus olhos tentando ir além num espaço que jamais conseguirei entender. Em tempos de paz, a guerra se faz sentir pela ausência. O tormento forte não foi o bastante para me impedir. E mesmo que a chuva levasse em suas corredeiras a expressão viva do meu mar, eu não poderia permitir que o som de sua voz me pedisse para mudar. Os vinhedos estão prontos para prosperar com gotas novas do suave sabor, e meu lamento é saber que à mesa brindam em minha ausência. O verde musgo ganhou as pedras em seus muros que se ergueram para além de Berlim. Dividiram a Alemanha, o Báltico, o mundo, os sonhos e os mares do sem fim. A cordilheira se ergueu e não permitiu que sobreviventes a vencessem outra vez, como se a vitória outrora concedida fosse apenas a ponta da lágrima vertida transformada num iceberg chileno feito de gelo polonês. Eu queria ser aquilo que imaginei. Queria contar com os anos de um universo em planos, e perceber que a cada abraço humano é que sinto a beleza da divina perfeição. Entrar numa órbita occipital e ter acesso ao verdadeiro olhar. Olhar sem preconceito sem vontade de visão. Envolto num abraço perdido na emoção. Nem que para isso eu tivesse que regredir no tempo e inverter os ponteiros que trabalham ao meu favor. Queria na verdade derreter os relógios num fogo abrasador, e permitir que os segundos fossem libertados de seu inferno temporal. Por hora agora digo, que não me fiz homem por engano, e que diante da aflição de uma viagem sem planos prefiro ficar na estação. Mandem notícias quando voltarem...domingo, 20 de julho de 2008
EPUR SI MUOVE
Não me peça para mudar algo que eu não vou conseguir. Nem ao menos reconheço o nobre erro que o júri me atribuiu, quando fui julgado sem saber, e reagi sem querer. Não fui eu quem fiz as leis, não fui eu que busquei encontrar. Cada passo dado para o acerto, é também o primeiro passo para errar. Até tentei apagar as linhas que escrevi num momento em que minha caneta estava solta, e minhas mãos seguravam o vazio. Mas tão logo recuperei o fôlego, voltei a me impressionar com a solidão. Ainda ouço pelo quarto a voz de uma mesma voz, e vejo a mesma visão: meus olhos tentando ir além num espaço que jamais conseguirei entender. Em tempos de paz, a guerra se faz sentir pela ausência. O tormento forte não foi o bastante para me impedir. E mesmo que a chuva levasse em suas corredeiras a expressão viva do meu mar, eu não poderia permitir que o som de sua voz me pedisse para mudar. Os vinhedos estão prontos para prosperar com gotas novas do suave sabor, e meu lamento é saber que à mesa brindam em minha ausência. O verde musgo ganhou as pedras em seus muros que se ergueram para além de Berlim. Dividiram a Alemanha, o Báltico, o mundo, os sonhos e os mares do sem fim. A cordilheira se ergueu e não permitiu que sobreviventes a vencessem outra vez, como se a vitória outrora concedida fosse apenas a ponta da lágrima vertida transformada num iceberg chileno feito de gelo polonês. Eu queria ser aquilo que imaginei. Queria contar com os anos de um universo em planos, e perceber que a cada abraço humano é que sinto a beleza da divina perfeição. Entrar numa órbita occipital e ter acesso ao verdadeiro olhar. Olhar sem preconceito sem vontade de visão. Envolto num abraço perdido na emoção. Nem que para isso eu tivesse que regredir no tempo e inverter os ponteiros que trabalham ao meu favor. Queria na verdade derreter os relógios num fogo abrasador, e permitir que os segundos fossem libertados de seu inferno temporal. Por hora agora digo, que não me fiz homem por engano, e que diante da aflição de uma viagem sem planos prefiro ficar na estação. Mandem notícias quando voltarem...
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2 comentários:
Uau!
Muito bom,Chê!
É de sua autoria?
"Em tempos de paz, a guerra se faz sentir pela ausência."
Adorei!
Obrigado e com certeza. Quando uso outros autores cito a fonte. Valeu mesmo.
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