sábado, 19 de julho de 2008

EXISTIR ANTES DE SENTIR (se puder, repasse)

Ao aceitarmos que a existência precede a essência estamos lançando o homem à propria sorte, tornando-o responsável pelas próprias escolhas, e também responsável pelas conseqüências posteriores. Não há nenhuma força conduzindo ou predestinando nossos caminhos. Esse pensamente é fruto de uma herança calvinista que perdura há séculos. O ser humano constrói a sua história, o ser humano cria as próprias armadilhas que um dia lhe servirão de algozes. Mas é pertinente à natureza humana tentar fugir de suas obrigações e de seus deveres. Sempre estamos culpando uma fraqueza, o outro, a situação, o contexto. Dificilmente assumimos nossa culpabilidade diante daquilo que nos rodeia.
Nada a não ser o próprio homem é o grande responsável por tudo o que se apresenta em nossa vida. Estamos acostumados a transferir as responsabilidades e isso tem deixado o ser humano fraco. O sentimentalismo fanático desprovido de razão fez com que nossa raça caminhasse para esse caos. Esquecemos que nossas ações refletem de uma forma colossal no ambiente que nos cerca, e nos acostumamos, com o passar dos anos, a atribuir nossas conquistas e fraquezas a seres superiores. Devemos ter a consciência de que somos os únicos autores, os únicos culpados pelo que fazemos e pelo que sofremos em virtude disso. A religião que num princípio remoto serviu como agente unificador, hoje é usada para o homem transferir o peso da carga que a própria sobrevivência lhe impõe. Aceitar sobreviver é aceitar a fadiga de uma vida que se desenrola calmamente, passo a passo num ritmo constante e contínuo. A nossa diferença racional nos leva as vezes a acreditar que somos especiais. Pois friamente preciso dizer que nós criamos esse ser especial, nós criamos essa visão de que tudo gira ao nosso redor, dentro de um humanocentrismo desregrado. O próximo passo somente existirá se dermos o anterior, ele não está preparado de antemão, somente iniciando o percurso é que é possível terminá-lo. Nossa vida é como uma caminhada sobre uma ponte que só se constrói quando esticamos a perna e confiamos que é possível prosseguir. Não conseguiremos jamais adiantar dois passos. Precisamos construí-la aos poucos. E as vezes na ânsia de corrermos acabamos parando no meio do percurso, e o que é pior, culpando os outros por não termos conseguido caminhar.
Em última análise chegamos a conclusão que somos convenientes. Assumimos a responsabilidade sobre aquilo que nos convém e transferimos a culpabilidade sobre aquilo que nos desagrada. Como é fácil viver assim. Por isso que muitos poetas, artistas, intelectuais no passado ficaram loucos, deprimidos e desacreditaram no gênero humano. Eles descobriram que maquiamos a realidade com emoções construídas por um espírito entorpecido e iludido, que tenta desesperadamente buscar algo em que se agarrar para não perceber que esse universo imenso é na verdade uma solidão sepulcral.

2 comentários:

Unknown disse...

Não concordo que não há nenhuma força que guie o ser humano; acho sim que quando o ser humano deixa de crer em um Ser superior ai sim, ele é responsável por tudo o que venha lhe acontecer. ou seja: (DEUS SEM NÓS É TUDO, NÓS SEM DEUS NÃO SOMOS NADA).

Maya disse...

Texto muito interessante, mas tem algo do qual eu discordo: a sua primeira prorrogativa.
"Ao aceitarmos que a existência precede a essência estamos lançando o homem à propria sorte, tornando-o responsável pelas próprias escolhas, e também responsável pelas conseqüências posteriores."
Sim, o homem é lançado à própria sorte, mas ele é fruto de seu próprio meio; sua carga genética, sua família, seu "habitat", suas condições sociais; tudo influencia em seu caráter e personalidade - consequentemente, em suas decisões. Assim, como podemos afirmar que as decisões tomadas por ele são realmente tomadas por ele, se as razões que o fizeram decidir foram impostas a ele?
Fora isto, achei o texto demais. Melancolico, depressivo - igual à realidade. E extremamente pessimista, já que é um texto seu. :)
(p.s.: mas não é bom ser extremamente depressivo, pois se você perder a fé na humanidade, vai acabar como aqueles poetas, artistas e intelectuais... =/ )