terça-feira, 15 de julho de 2008

UMA ANÁLISE SOBRE SALVADOR DALÍ (se puder, repasse)

"O amor é uma coisa real que a gente está aprendendo a abraçar, e não temer a velha "estória" do mal, tão conhecida, que já nem pode mais nos assustar" (Raúl Seixas)
Normalmente as fases de sofrimento pelas quais passam um artista, são também as fases de suas grandes obras. Persistência da Memória (1931) é uma das obras mais conhecidas de Dalí e foi concebida justamente numa dessas fases. Dalí havia sido expulso de casa pelo pai, e encontrava-se em dor, angústia e desespero. Abre então sua alma para jogar toda essa ansiedade materializada numa espécie de blasfêmia intelectual. O enquadramento de fundo da obra, são os rochedos do cabo de Creus, local exato onde os Pirineus vem morrer no Mediterrâneo. O jogo de sombras e cores proporciona ao espectador uma visão nova a cada olhar, num cenário de descaso e solidão. Essa representação encontra-se, como que num encontro arranjado, com a alma conflitante de cada um de nós. Essa alma presa por grades tão simplórias, e prontas para se desmancharem. Essa alma que nós tentamos abafar, esconder, encolher, reduzir ao nosso ímpeto animal e inconsciente. Assim se apresenta a obra de Dalí, num emaranhado de sensações difíceis de identificar, mas próximas o bastante para que possamos prontamente senti-las.
As partes moles dos relógios, são resultado de uma noite de muita enxaqueca, num jantar onde os canhões foram alinhados para receber muita bebida.
O tratamento em relação ao tempo (na retratação dos relógios) é outro aspecto curioso. Um tempo descartável, subjetivo, individual. Um tempo que não está preso ao próprio tempo. Que é livre, solitário e independente. Solto em meio a uma paisagem bucólica, esquecida por alguém. O relógio não surgiu no quadro de Dalí de uma forma misteriosa. Alguém certamente o deixou ali, e se o deixou era porque queria esquecer. O relógio nos faz lembrar da dor, das horas que perdemos, dos dias que passamos, da vida que não volta mais. Abandonar o relógio significa abandonar todas as coisas que tentam nos manter nesse mundo real. Deveríamos fazer mais visitas à Alice, deveríamos visitar mais o país das maravilhas, onde a noção do tempo também se perde num vácuo de imagens infinitas.
Dalí pintou seu último quadro em 1983, e faleceu alguns anos depois. Isso significa que ninguém, absolutamente ninguém jamais poderá buscar os relógios que foram deixados nessa paisagem. Eles estão para sempre esquecidos, sepultados e marcam o tempo de ninguém, num lugar onde ninguém se importa com o tempo que passou.

Um comentário:

Kelly Freitas disse...

Professor, sou aluna de pedagogia da Faculdade de Educação da UFMG. E pesquisando por Salvador Dali achei seu blog. Muito boa sua interpretação da obra.

Fiquei muito feliz de encontrar...


Kelly Freitas

FAE/UFMG