domingo, 16 de agosto de 2009

O MUNDO DIZ ADEUS - TARDE

Os cavaleiros da Fome, Morte, Peste e Guerra organizam seu campo de ataque. São os verdadeiros guerreiros desses dias. Estão colhendo as autênticas taças da alegria. Sentam-se para celebrar. Até eles brigarão em breve, pois não haverá mais trabalho a fazer.
Não me entrego sem lutar. O coração pulsa. Diante de tudo aquilo que aprendi, me render, nunca foi lição de casa. Tombarei na certeza de que lutei até ouvir o último toque da corneta ordenado a retirada.
Carrego tochas, como um campesino medieval, buscando lobisomens e feras da floresta. Não sei contra o que lutar. Está dentro de mim. Está preso em meu peito essa marca da disposição. Ilumino tardes que já são ensolaradas, na esperança de que meu fogo deixe aceso o sol e o faça uma estrela maior. Estrela maior? Ele já está condenado. Brilha como quer, e brilhará por quanto tempo sua energia permitir.
Queria brincar como criança, queria correr atrás da dança. Tinha o desejo de elevar minhas orações como um velho templário cansado de ver tanto sangue escorrer pela disputa de Jerusalém. Guardião do Templo e dos seus tesouros. Guardião das espadas que se ergueram em batalha, chamando o inimigo para o confronto final. Essa maldição recaiu sobre mim. Fui lavado pelo sangue dos mortos no céu.
Uma peste estava a solta pelo mundo. Pessoas usavam máscaras para tentar se proteger do infortúnio, essa medida, porém, pouco ajudava naquele momento derradeiro. As máscaras apenas escondiam o rosto das testemunhas desse combate final.
Cada vez mais, as mortes se tornavam o tema central do noticiário. Números omitidos, problema que não era contido. O mundo se curvava diante do invisível. O homem que completava seus 40 anos de conquista do espaço, não conseguia eliminar o inimigo que estava no ar.
Os sinais foram se tornando cada vez mais freqüentes, impiedosos. Febre alta, tosses, pulmões condenados pelo peso da contaminação. Sangue que vertia da boca após um esforço exagerado. Falta de ar, e a garganta presa como que por um garrote que vai longe apertado. Combalidos combatentes tentavam sem sucesso sobreviver. As mortes se alastravam. Espalhavam-se com a rapidez da paixão na alma romanceada.
Cemitérios não mais suportavam o número de novos moradores. Foi aprovada uma lei que permitia enterros em outros lugares. Buracos enterravam as vítimas que logo perdiam seu lugar de últimas, para outras que chegavam sem parar. A fila para o sono do descanso eterno diminuía, enquanto os olhos que se cerravam para o mundo multiplicavam-se.
Lágrimas nem bem secavam, e já voltavam a rolar. Amigos, parentes, conhecidos. Todos estavam perdendo todos. Mãos eram esticadas como que pedindo ajuda, e não encontravam outras mãos que lhes pudessem prestar auxílio. A peste se espalhava.
Os homens não mais viam seus bens e suas posses como algo imprescindível, afinal, elas não tinham a capacidade de lhes garantir a vida, e nem sequer podiam esticar um segundo do seu fôlego. Eram feitas trocas com o universo. Mas a vida despedia-se com pressa. Parecia que ela estava indo para outro lugar.
Foi tirado do homem direito de viver. Sim, justamente ele, o predador das espécies, o escritor das lista de extinção, era agora a presa sendo obrigada a contar a própria perdição. Ele tinha não só a dor de ver a morte, como também a capacidade intelectual para reconhecer que era um fraco e derrotado sucumbindo ao vírus. O homem mudou de lado.
As religiões não tinham a resposta. A filosofia se perdeu em suas complicações teóricas. A ciência se encontrava apenas com o rei, diante de duas torres, fugindo do inevitável xeque mate. Tentava correr pelo tabuleiro apenas para reconhecer que permaneceu mais tempo que o esperado.
Presenciávamos o encontro cósmico da vida com a morte. Beijos sem fôlego num amor eterno que escrevia seu epitáfio. A morte estava vencendo. Ela estava anulando milhões de anos de evolução. Ela estava anulando tudo que escrevemos tudo que deixamos. Provava pela sua audácia que o homem não é, senão uma pequena partícula no contexto dos grandes acontecimentos. Que o homem não podia controlar absolutamente nada! Justo ele que passara séculos acreditando que era a causa e a medida das coisas.
O medo impedia que as pessoas se cumprimentassem. Doentes isolados caminhavam de um lado para o outro. Não havia mais espaço para quarentena, e os saudáveis eram vistos com inveja. A infecção estava acontecendo num ritmo alucinante. O vírus sofreu mutação, e agora se apresentava mais forte. A forma mais branda de se despedir da vida, era aceitando a condenação posta sobre os ombros.
Correndo rumo ao infinito, abri meus braços ao vento, e percebi que o temporal acompanha as brisas suaves. O céu que já foi azul impõe agora seu cinza ruidoso. O que era verde, já não existe mais. Quem me dera acreditar que as coisas não acontecem de verdade. O fogo escreve seus rabiscos no rascunho celeste. Ouço um trovão. Vejo um raio.
Amanhã não é o dia separado de hoje por uma noite, mas uma expectativa de continuar escrevendo por mais um tempo a coletânea das causas e efeitos, relacionados intencionalmente e chamados assim de vida.
Com o tempo as cidades foram se calando. Os carros pararam de andar. Não havia quem os dirigisse. Os mercados e lojas começaram a ficar vazios. As pessoas simplesmente estavam desaparecendo.


6 comentários:

Tainara Siqueira disse...

"Tombarei na certeza de que lutei até ouvir o último toque da corneta ordenado a retirada."

Unknown disse...

Não me entrego sem lutar......Hummmmmmmmm isso é plágio.......

Unknown disse...

Os sinais foram se tornando cada vez mais freqüentes, impiedosos. Febre alta, tosses, pulmões condenados pelo peso da contaminação. Sangue que vertia da boca após um esforço exagerado. Falta de ar, e a garganta presa como que por um garrote que vai longe apertado. Combalidos combatentes tentavam sem sucesso sobreviver. As mortes se alastravam. Isso dá um filme de terror real! ATCHCHIMMMMMMMMMMMM.

Unknown disse...

Os sinais foram se tornando cada vez mais freqüentes, impiedosos. Febre alta, tosses, pulmões condenados pelo peso da contaminação. Sangue que vertia da boca após um esforço exagerado. Falta de ar, e a garganta presa como que por um garrote que vai longe apertado. Combalidos combatentes tentavam sem sucesso sobreviver. As mortes se alastravam. Isso dá um filme de terror real! ATCHCHIMMMMMMMMMMMM.

Unknown disse...

Ops! apaga um.

Bruninha disse...

Que angústia! Gosto de pensar que esse texto (por enquanto) fica melhor no contexto de 1918.