sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

REENCONTRO

Silêncio envolveu o ar. Por um momento tudo o que passou pôde voltar. É como se os anjos, em perfeita adoração e reverência, silenciassem suas trombetas e se curvassem diante do senhor. As mãos tremeram, quando informadas sobre a aproximação. A fala, que ainda não saia, gaguejou diante da presente veneração. Nada pedia, nada se fazia, mas num espírito verdadeiro e bem certo era sabido, que aquele momento, como tantos outros seria eternamente lembrado, jamais esquecido. Letras, melodias, histórias, pessoas, caminhos, lembranças e memórias estavam soltas no ar. Eram plumas que passeiam embaladas pelo vento, levadas de um lado para o outro, envoltas por um tom de mistério, e misturadas com outras tantas coisas para contar. Fez-se amigo o tempo, e duvidou-se que ele pudesse passar. De cada rosa aberta se fez jardim, de cada degrau colocado, uma escadaria se ergueu, de cada orquídea plantada um presente sem fim, nas altas horas da madrugada, o cenário que o dia elegeu. E dum aperto forte de braços abertos, se construiu toda a mágica criatura desses campos descobertos. Em cadeiras que ficam na frente de casas, as comadres sentaram para costurar as roupas da realeza em saudação. Traçaram ali seu mundo, entoado numa letra de outro lugar. Uma língua impossível de entender, num dialeto obscuro, impossível de falar. E a saudade dói! Promessas são feitas, pactos são selados, e procuram desgovernadas almas para marcar. Ferro quente feriu o corpo delinqüente, o corpo juvenil. Fez-se prisão em laços abertos, se fez um jogo errado num tabuleiro certo. E os prêmios foram carregados para sempre. Amores ditos sem culpa, ausência enganada por desculpas.
Nessas horas em que a febre não passa, apenas o juízo encontra espaço para descansar. Distancia-se cada vez mais a hora de dizer adeus. Não há vontade suficiente para atravessar a rua, talvez marquem outro encontro para as duas, mas o posto está fechado, os cigarros acabaram e a cerveja foi cuspida, desperdiçada e tomada, num desejo de brincar.
Hoje o dia só traz os presentes tocados sob um mesmo som. Ali se constrói o futuro, e se percebe que o mundo é uma verdade do avesso, e não importa quantos exemplos se tem na coleção de endereços, sempre haverá lembrança para aquilo que foi bom. A justiça livre e antiquada, ardente se faz carta marcada, para seu momento de coroação. Quem é justo, senão a próprio amor distante? Que espera querendo, e não relutante, o momento de se aproximar outra vez.

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