sábado, 10 de janeiro de 2009

O BANQUETE ESTÁ SERVIDO. COMEI, ISSO É O MEU CORPO!

Eis o lixo podre despejado dos nobres salões, com seus castiçais acesos, e suas lareiras queimando os corpos dos mendigos desajustados. Conversas raras, oportunidades únicas e um aspecto tão atrativos quanto uma pilha de ossos quebrados. Nas festas carnais, entregues às delícias que boas moedas puderam comprar, festejaram os ignorantes seus caminhos enfadonhos e suas amizades insuportáveis. Desprezaram os sonhos daqueles que julgaram não tão confiáveis, acreditando na inteligência que a intelectualidade pode ofuscar. Suas leituras foram manchetes, e seus livros os indicados por alguém. Sua astúcia consiste em reproduzir os padrões normativos da cultura assumida como verdadeira. Colhem as uvas já passadas, e tomam as garrafas já vencidas, como se fosse um belo testemunho de vida o fato de refletir sobre o passado de ninguém. Seus corpos estarão para sempre conservados, pois nem mesmo os abutres se interessarão pelo banquete posto à mesa. Corpos que servem apenas de invólucro para veias, músculos e carne podres, que jamais amaram, que jamais sonharam, e se perderam em teorias relativamente interessantes. Digo relativamente, pois quem garante que animais silvestres também não se interessam pelo último filme do mês? Conversas tidas como importantes, com ilustres personalidades distantes. Cada um querendo provar que foi mais longe, cada pecador vestindo o caráter de um monge. Erguem seus copos, com uma veneração divina para o além, invocado o mais novo problema, e prometendo dessa vez salvar alguém. Brindes que ressoam no inferno, compartilhado por demônios, seus verdadeiros anjos da guarda. Guarda sua vida dos caminhos meus, e coloque numa caixa dourada tudo o que puder levar. São falsos amores feitos de carteiras novas, falsos valores que não conseguiriam passar sequer por uma prova. Baseados na vida real de um sonho que está durando. E quando forem embora os carros, as bebidas, as taças, se perguntarão o que estavam procurando. Procurando a salvação para a própria consciência, que traz como acusação um crime de indecência. Anular a própria vida, anular a própria solicitude, buscar as moedas de prata moída, esquecer os caminhos serenos da virtude. Seus cérebros foram programados pela falsa moral, e sua boca não provou da lágrima e nem de seu sal. Estão distante das mortes, distantes das brigas e distantes de tudo que possa mostrar nosso mundo em seu estado real. A distância não foi criada por circunstâncias verdadeiras, mas estimada na falsa idéia das benesses passageiras. E o passageiro anda, o passageiro não pára. Fecha seus vidros numa oportunidade rara, de negar o consolo para quem à própria vida repara.
Fiquem os infames com seus tesouros, e regurgitem para fora a fúria ressuscitada do seu ouro. Enquanto nós da cabeça cheia e bolsos vazios procuraremos em um mundo imaginário, a salvação para as almas do mundo, iludidos pelos livros, que são nosso refúgio para fugir do frio e nosso barco nesse mar profundo.


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