domingo, 11 de janeiro de 2009

NÃO SOU, ESTOU ASSIM!

Acalme-se, não estou trazendo as boas novas da salvação, minha cesta está cheia de carvões que, já foram chama, mas hoje aguardam um novo fogo abrasador.Não quero que me sigam aqueles que professam o amor. Hoje é um dia daqueles que simplesmente não é possível crer que algo bom possa parecer real. A boca, após sorrir, volta rapidamente ao normal, os olhos, porém, após as lágrimas, permanecem inchados, deixando junto consigo a lembrança de que o choro deixa marcas mais constantes e profundas do que o riso. Não quero que me sigam aqueles que acreditam que um dia poderão soltar livremente suas gargalhadas por um momento que consideram eterno, julgando que nunca mais seus olhos serão palco para o espetáculo de gotas salgadas vertidas, sob o olhar atento da sua própria angústia. Não quero ser cúmplice de uma desilusão inevitável: a constatação de que a dor acompanha toda alma! Vivendo intensamente ou não, a verdade é que as surpresas nunca estão em caixas bonitas de chocolates, mas em armadilhas postas por situações inesperadas. Acreditei que era possível acordar numa manhã fria e dar bom dia ao mundo, com meu corpo entregue à compensação, por tantas horas de tristezas, o que recebi porém, foram agulhadas e alfinetadas. Em cada momento livre de pretensões, onde busquei apenas um consolo para a aflição descabida, a única coisa que senti foram as agulhas perfurando meu corpo, tocando o meu espírito, trazendo dor e me fazendo acreditar que é possível a relação entre a idéia e matéria.Alfinetes lançados como flechas, pelas palavras, olhares, gestos e instantes. Tornei-me um alvo absurdo para aquilo que eu mesmo cultivei. Não procure marcas de disposição em mim, não procure sequer um brilho em meu olhar. As janelas da alma estão fechadas, e custa saber quando elas abrirão outra vez. Pode parecer um momento insano de alguém que precisa escrever, eu digo que isso é desabafo, isso é desconforto, isso é o que nem mesmo sei dizer. Queria ser um dicionário, repleto de palavras que pudesse usar, assim talvez encontraria a expressão que qualifica corretamente meu estado de espírito. Um estado de inanição talvez. Quando a dor se dá forte, nos sentimos anestesiados, e assistimos alheios ao mundo passando em vão. Há quem diga que isso é besteira ou até mesmo um exagero. Quem pensa assim, contudo, nunca experimentou o que estou sentindo. Então se cale diante da ignorância sentimental e deixe esse escultor de ocasiões cultivar seu lado obscuro, incerto, e que tanto desespero traz. É como uma febre que não passa, como uma espera que nunca chega, é como olhar seu próprio estômago digerindo sua comida, é ver seu coração batendo com a força de outras mãos. Caso alguma promessa de sossego houvesse, eu a buscaria, certo de que para isso precisaria usar o resto das forças que ainda sobram. Mas acreditar que é possível remediar a alma, é uma das mentiras mais sórdidas que os homens inventaram. Tento solucionar escrevendo, tento contar para mim mesmo o que sinto, mas a cada espaço das palavras, percebo que sou incompetente na simples tentativa de me entender. Sou complexo, sistemático e preso em teorias, que hoje formam uma teia difícil de arrebentar. Esperei demais das circunstâncias. Criei uma história pronta em minha cabeça e esqueci de contar para as personagens como isso se daria. Criei os sonhos, que acabaram se tornando o primeiro passo para a decepção, e o primeiro capítulo do pesadelo. Em pensamentos falsos, quis que todos fossem um pouco de mim, assim talvez eu sentiria que o mundo também é meu. Leio textos em frases vazias, e falo sozinho para multidões. Sinto-me estranho, abandonado, e poderia agradecer com todo o entusiasmo, que por hora me falta, um simples pensamento que trouxesse a cura para a doença da alma. Quero um abraço forte, me dizendo que não há nada para temer. Quero um herói que entre em meu quarto e mate os monstros que eu criei, mas que me assombram como se fossem outras invenções. Minha cabeça dói, e tenho a sensação de que ela vai explodir. Com suas idéias, com suas crenças, com suas suposições que são verdadeiras matérias da desavença. Hoje é o dia em que uma forte dor no peito me domina, e não sinto nem vontade de respirar. Chorei por frases inconvenientes, tão consistentes como a linha do tempo, e me senti sozinho. Solitário caminho, enquanto ando, tiro meu coração com as próprias mãos para tentar ver onde está o problema. Como não o constato, prossigo caminhando, como não me acalmo, sigo buscando encontrar o sinal da dor. Não me encontrei, e me fiz criança mimada. Como é ruim não ser entendido nas coisas mais simples da vida!

7 comentários:

Leonardo Ávila disse...

Seus textos expressam facilmente o que eu quebro a cabeça pra tentar(inutilmente) colocar em palavras...

você é sem graça
kkkk

ps.:Pink Floyd é demais, Doors nem tanto!

Otávio Campos disse...

Nossa, que bonito! É triste, é obscuro, mas é bonito. É um absurdo de tão bom. Apareci. Obrigado pela visita.

mariana martins disse...

Ah,obrigada pelas palavras,mas acho que são bondade sua. :)
Muito,muito bem escrito o texto.
Parabéns também!
De uma sensibilidade maravilhosa.

Anônimo disse...

"A boca, após sorrir, volta rapidamente ao normal, os olhos, porém, após as lágrimas, permanecem inchados, deixando junto consigo a lembrança de que o choro deixa marcas mais constantes e profundas do que o riso."
essa parte foi a melhor com certeza! gosto do jeito que você se expressa, seus textos são bonitos, apesar de um pouco de tristeza em alguns.

kinha disse...

Muito bom, mesmo.
Obrigado por esse momento de reflexão;

Anônimo disse...

Ola, você também escreve super bem e de maneira bem flexível. Gostei muito dos seus ultimos textos :) Seguidor do BLOG :)

Chris Prado disse...

Como sempre Brilhante Che!

Muito bom!

;*