sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CANETAS MÁGICAS

Abra seu coração, cada vez que as palavras não couberem mais. Faça do papel, amigo confidente, e nele deposite tudo aquilo que está guardado. As folhas brancas são sementes que aguardam as letras que as farão germinar. Podem se tornar árvores frondosas, frutíferas, ou até mesmo choronas, mas elas voltarão a exercer o papel que exerciam em seu estado natural: encantar os olhos dos atônitos observadores, e preencher a alma com alguns outros valores.
Não acredite que seus sentimentos são verdadeiros, eles quase nunca são. A incerteza, contudo, não deve impedi-lo de escrever o que sente. Veja-os como verdades passageiras, prontas para uma observação. O amor sobe e desce ladeiras, empurrado pelo motor fresco da paixão. Caso seja a vergonha, essa ridícula desprezada, que está lhe fazendo parar, olhe fielmente nos olhos dessa rameira, e acelere seus versos, que não precisarão de estética, rima, molde ou estilo, atropele aquela que quer lhe calar, e olhe para seu cadáver sem vela, sem caixão e sem ninguém para velar. Sua poesia o absolverá, e com toda a clareza e certeza, saberá que são versos de alma, versos de corpo, que não tem nada do que o classicismo tolo exige. Seu coração não é uma escola de poetas, e sua poesia não pode ter um aspecto que se distancia do que você quer. Muitos tentaram prender sentimentos em regras de concordância, deixaram nas grades dos métodos toda a inspiração genuína, que foi trocada por alguns centavos de rimas e quartetos com dez ou doze sílabas poéticas.
Conheça os pratos sortidos desse restaurante de impressões. Saiba a propriedade de cada comida, lembre-se, contudo, de fazer as combinações. Pratos prontos, são bons para executivos cansados da correria do dia-a-dia. Jovens com o espírito latente, devem ter a oportunidade de escolher como fazer sua refeição. Às vezes ela vem como esse prato que está diante de você. Aparentemente sem sentido, mas com uma vontade louca de transcender. Ir além do infinito das próprias palavras, criar uma imensidão nesse universo imensurável. Viajar em cada possibilidade apresentada por um momento, e explorar curioso onde se encontra calor no inverno. Em todo o deserto se encontra água. A vitória, ou não, sobre a empreitada, está acompanhado da intensidade do desejo de cavar, às vezes muito fundo, para encontrar as vertentes geladas, águas límpidas e sonhadas, e acima de tudo, vitais para a sobrevivência. Saiba que todos precisam dos sentimentos, todos precisam extravasar essa pressão contra o peito. O problema é que nem todos sentem coragem para fazê-lo. Aí morrem almas tristes, aí morrem poetas mudos, não deixaram sua impressão de vida, privaram a vida da sua impressão de mundo. O que você sente, não lhe pertence, pertence à humanidade. Faça a humanidade então saber, o caminho para seu próprio coração. Umedecido pelo orvalho fresco, plantado em solo fértil e aguardando a colheita por mãos preparadas, para que possa na longa jornada fazer acontecer. Grite ao mundo o que sente, grite aos outros sua memória, e se alguém ri do que fala, não se preocupe, não há lugar para ele nessa glória.

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