sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O VENENO DO AMOR

Serpente brilhante, formosa do Éden.
Fizeste um mar de histórias no jardim,
Fostes confundida com o pecado,
e agora recheado, o trazes para mim.

Adão fraco homem, não pôde suportar,
Eva em deleite de identidade se desfez,
Se não pudesses aqui no paraíso morar,
tentarias tua casa no próximo mês.

Magia, lascívia e maldade sei que tens,
Nestas mãos roubadas, que não são tuas,
Arrancas com a boca a puberdade do além
Deitando-te louca com garotas nuas,

Em cada verso trazes uma lança,
em cada gesto carregas uma canção,
Serpente perdida num olhar de criança,
garras roídas, ao invés de coração.

Nas frases soltas e sem nexo carregas
uma adaga lisa fora de sua bainha,
Nas idas e voltas há sempre quem negue,
uma paixão violenta que já foi minha,

Apenas no rastejo sorrateiro entendo,
A forma ampla e completa do teu passo,
Pegaste o andar ligeiro, antes gemendo,
Que hoje implora satisfeito pelo teu abraço.

Sei que por ti, figura pecadora,
Muitos pularam da ponte ao abismo,
Deixaram a própria alma sonhadora,
Lançando-se no purgatório, indecisos.

Perseguindo em vão teus tesouros,
Um pirata esquecido perdeu a embarcação
Não lutava por prata, diamante ou ouro,
Apenas implorava pelo toque simples de tuas mãos.

Jogaste quieta, assustada com o pecado
Usando de discrição e suprema maestria,
Transformaste em aceito o poeta renegado,
Em água quente, a piscina de lágrima fria.

Agora rastejas implorando pelo pouco
Aceitas quieta as migalhas que te dão,
Da voz aguda e afinada fiz-me rouco,
Perdi meus versos em poemas na imensidão.

Hoje sei mais do que nunca, que posso ver,
O futuro rejeitado, assim me reserva
Nunca serei homem para conhecer
Um amor de serpente no corpo de Eva.

3 comentários:

Otávio Campos disse...

Lindo. Muito sombrio, mas muito bonito.

Anônimo disse...

Parabens pelo blog professor che!
=)

Anônimo disse...

Ja virou um dos favoritos!