terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PASSOU

Eu aprendi que as coisas sempre aparecem tarde demais. Nunca estou afinado com o tempo e o espaço. Sempre um desses dois jovens me ultrapassa, para não dizer me atropela, e me deixa na contramão das expectativas mais absurdas e ao mesmo tempo verdadeiras. Fico no acostamento, pedindo carona, vendo as luzes de faróis que apenas iluminam a estrada que passou. Quando consigo a carona, grito alto para parar, pois quero ficar aqui. Não importa se meus olhos não conseguem enxergar longe, quando olham as campinas úmidas pelo orvalho da noite, não importa se os uivos são apenas impressões que criei, baseadas nas fantasias de criança, isso não importa! Não diga que não é tarde, sempre é e sempre será. Sempre encontrei algo que desisti há muito de procurar. Sempre cheguei atrasado quando todos já tinham partido, sempre construí a ferrovia quando o trem já havia sido abandonado. A pintura derreteu, e o quadro ficou borrado. A tinta cintilante da natureza viva, se perdeu em tons foscos e difíceis de ver, e as telas vestidas de sutileza ficaram nuas em vergonha e pecado. O mundo colorido foi transformado numa esfera bicolor. Isso já faz muito tempo, e minhas horas ficaram confusas numa contagem sem impressão para ser. E pensar que eu tinha tantas dúvidas quando era criança! Queria saber o gosto do beijo, o valor do gesto, o preço das escolhas, a dimensão do Universo, a temperatura de um abraço, o real do inverso. Queria ver as estrelas, queria morar nas estrelas, queria sentir o carinho de um amigo, queria sonhar que estava voando, e saber qual a sensação de tirar os pés do chão. Hoje? Simplesmente trago comigo a decepção de perguntas jogadas ao vento como a sacolinha da Beleza Americana. Em dias de verão meu espírito queria frio, em dias frios queria o sol quente, e assim eu aprendi que nunca sabemos exatamente o que queremos. Quando começamos a admirar as flores da primavera, as folhas secas já inundam nosso jardim, e maldizemos a necessidade de removê-las. Pisando nessas mesmas filhas foi que descobri o som das rosas mortas. O que o sorriso traz, normalmente é um prenúncio das inquietações que virão. Até hoje não sei como é ver as estrelas, não sei o valor que tem uma mão, não sei quanto custa o caminho que optei. Não sei, Não sei, Não sei. Aí você me olha e diz que nunca é tarde demais, e que o tempo é o senhor da glória. Guarde suas palavras doces, não quero atrair as formigas da inveja que andam pela casa procurando uma refeição para se fartar. Quero abastecer minha imaginação, quero fazer letra viva de canções mortas. Quero fazer tela viva de uma vida que perde seu compasso, como um coração desacelerado.

Nenhum comentário: