sábado, 10 de janeiro de 2009

QUEM PUDER, ENTENDA!

Pisei em cacos de vidro e não senti dor. O que vi, foi o resto de garrafas que um dia deram de beber a alguém, e hoje são apenas cacos de vida que jamais serão uma vida inteira. Pedaços de um sonho que o sono não foi capaz de ter, restos de uma mensagem que meu coração não soube por onde começar a ler. Essas letras cifradas, melhor que fossem enterradas, já que é para todos serem enganados e descobrir que estão presos, em seus peitos confinados. Confesso que ainda sinto o gosto do gargalo em que tomei meu porre. Meu estômago sofre as duras penas da condenação etílica. Não era o álcool da cana que me rendia como réu confesso, mas o álcool do amor, esse inimigo que despeço. Essa bebida milenar, amedrontadora, contra a qual não existe punição e nem força controladora. Jogou-me em sua arena, e me fez Gladiador vencido. Ele, o guerreiro destemido, abriu os braços para perdoar, implorando que eu ficasse de joelhos para que pudesse vigiar. Ele entorpeceu meus sentidos, e me deixou desprovido de razão. Eu sendo homem, virei menino, eu sendo monstro, gigante para vida, por ele virei anão.
Agora vai longe o peregrino, vai com os anjos, vai destituído de paz. Não se fez homem assassino, mas quem por ele se calar, com certeza falará mais. Eu me fiz idiota madrugada adentro, quando todos dormiam cultuando seu descanso, recortei o tempo e tornei meu corpo manso. Lamentando os exageros de um dia fadigado e lembrando o tempo que festejava, por meu coração ter sido roubado. Os avisos rondavam minha vida. Mas do bolo dessa alma querida, eu queria apenas um pedaço. Não me fiz ouvidos, não dei atenção, e agora eu choro diante da idéia de ter podido evitar o choro. Não bastou que o céu escrevesse um pergaminho para mim. Não foi suficiente as penas que caíram dos arcanjos celestiais. Mesmo assim eu pisei nos cacos de vidro! Em cada gota derramada do meu sangue, eu vi a terra ganhar cor. Seus grãos, antes soltos, viraram lama com minha vida despejada sobre sua superfície. Quando pensei que sabia caminhar, não imaginava um dia entender essa pura emoção. Era criança com meus discos de ninar, e me fiz adulto para pegar em sua mão. Fiz escola de letras que já foram escritas, e corri a maratona para lugar nenhum. Assim foi que me fiz pedra polida, assim foi que vi meu espírito despertar do seu jejum.
Como posso entender esse descaso pelo sangue derramado! Tantos sentimentos soltos em feridas abertas e um coração cicatrizado. Bem que tentei andar sozinho, mas o sino da igreja tocou, exigindo uma companhia para assistir a missa. Busquei a companheira para o acorde celestial. E ardi uma noite inteira nas labaredas acesas pela chama infernal.
Não queiram entender o que de mim saiu. São apenas folhas secas daquela árvore que caiu. Não serve para plantar, não serve para viver, só serve para sonhar e para algum louco ler.


Um comentário:

Gabi disse...

Por isso que eu falo pro pessoal parar de beber. haha